Os estudos investigam como a IHC pode transformar práticas educativas e sistemas públicos de saúde, ampliando a participação, o engajamento e sua eficiência
Pesquisadores de graduação e pós-graduação do Centro de Estudos sobre Sistemas Complexos (C3SL) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) estão entre os finalistas do prêmio de melhor artigo na trilha relatos de experiência do XIX Simpósio Brasileiro sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais (IHC). A ser realizado em Belo Horizonte entre os dias 8 a 10 de setembro, o IHC 2025 é o principal fórum científico da área de Interação Humano-Computador no Brasil. Na lista dos concorrentes ao prêmio estão o pesquisador do C3SL e professor do Dinf, Roberto Pereira, e os bolsistas de pós-graduação Krissia Menezes e Jonas Lopes Guerra.
Os trabalhos indicados para concorrer ao prêmio foram aprovados para apresentação no evento. A trilha relatos de experiência do IHC privilegia trabalhos que tragam narrativas detalhadas sobre práticas, projetos e vivências em IHC, contextualizados e fundamentados teoricamente.
Um dos finalistas é o artigo intitulado “Percepções e experiências sobre ensino e aprendizagem de uma disciplina de IHC com foco em práticas colaborativas”, de autoria da doutoranda em informática pelo PPGInf e pesquisadora do C3SL, Gabriela Corbari dos Santos, e da professora adjunta do Departamento de Informática (Dinf) e integrante da equipe de IHC da UFPR, Natasha Malveira Costa Valentim.
O artigo de Gabriela e Natasha apresenta um relato de experiência sobre o ensino da disciplina de IHC em 2024 nos cursos de Ciência da Computação e Informática Biomédica da UFPR. Segundo a pesquisa, o objetivo da disciplina foi capacitar alunos com noções básicas de IHC a partir de uma perspectiva socialmente consciente e orientada a projetos de software, enfatizando a prática colaborativa.
O curso foi estruturado em torno de dois trabalhos práticos (TPs): o primeiro direcionado à avaliação de usabilidade, experiência do usuário (UX) e acessibilidade do app HandTalk — que traduz português para Libras — e o segundo focado no desenvolvimento de um protótipo de aplicativo para pessoas com deficiência visual. Nessas atividades, os alunos aplicaram técnicas reconhecidas na área, como personas, cenários, análise hierárquica de tarefas (HTA), GOMS e métodos de avaliação variados, dentre eles as heurísticas de Nielsen e o percurso cognitivo.\
O relatório final do estudo, que será debatido no IHC 2025, apresenta sete lições aprendidas, entre as quais se destacam: a importância da motivação individual, o uso combinado de múltiplas técnicas de avaliação, a eficácia dos métodos de inspeção para avaliações rápidas e o valor do design socialmente consciente. No artigo, Gabriela e Natasha reforçam que o ensino de IHC deve ir além da aplicação técnica, incorporando valores sociais para formar profissionais preparados para os desafios do futuro.
Outro trabalho que também está entre os que concorrem o prêmio na trilha relatos é o intitulado “Design Socialmente Consciente na Prática: Concebendo uma Solução para o Gerenciamento de Campanhas no SUS”, de autoria do doutorando do PPGInf, Deógenes Pereira da Silva Junior; da doutoranda pelo PPGInf e pesquisadora do C3SL, Krissia Menezes; da pesquisadora e bacharel em Informática Biomédica pela UFPR, Marisa Sel Franco; mestrando em informática pelo PPGInf e pesquisador do C3SL, Jonas Lopes Guerra; e do pesquisador do C3SL e coordenador da equipe de IHC da UFPR, Roberto Pereira.
O relato de experiência abordado no trabalho é referente ao design de uma solução tecnológica para apoiar o gerenciamento de campanhas de saúde da Atenção Primária à Saúde (APS) no Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, considerando a complexidade socioeconômica, cultural e geográfica do país. A proposta buscou integrar a diversidade das necessidades das partes interessadas, em especial os Agentes Comunitários de Saúde (ACS), Agentes de Combate às Endemias (ACE) e gestores municipais, adotando o framework de Design Socialmente Consciente (DSC).\
A equipe aplicou uma combinação de métodos exploratórios, como revisão bibliográfica e netnografia em redes sociais, além de técnicas do DSC para mapear os desafios, identificar stakeholders, definir personas e cenários, e especificar requisitos para a solução. Um protótipo de média fidelidade foi desenvolvido para ilustrar a proposta, priorizando funcionalidades que atendem às necessidades da comunicação, gestão e avaliação das campanhas em contextos vulneráveis e diversificados.
Nas considerações do trabalho, os pesquisadores apontam que o DSC demonstra ser um caminho promissor para enfrentar a complexidade intrínseca de soluções que devem operar nacionalmente. A pesquisa reforça ainda que priorizar a proximidade e o engajamento dos agentes de saúde com a população, simplificar processos administrativos e garantir acessibilidade são pontos cruciais para o sucesso das campanhas. Também alerta para possíveis conflitos entre a necessidade de indicadores mensuráveis para gestores e a importância do vínculo humano entre agentes e comunidade, que nem sempre é quantificável.