Artigo: Bens Públicos Digitais são o Pix da soberania tecnológica brasileira, por Marcos Sunye

O Brasil vive um momento decisivo na definição de sua soberania digital. Enquanto o Supremo Tribunal Federal estabelece marcos regulatórios para que plataformas digitais respeitem a legislação nacional, o país ainda opera sob uma infraestrutura tecnológica majoritariamente privada, estrangeira e opaca. Sistemas que organizam educação, saúde e comunicação pertencem a empresas sediadas no exterior. A pergunta que se impõe é clara: quem controlará o futuro digital brasileiro? Eles ou nós?

Essa dependência não é acidental. Hoje, infelizmente, são os algoritmos de lucro, e não os princípios constitucionais, que determinam como os brasileiros acessam serviços tecnológicos essenciais. Quando a escola pública depende de plataformas estrangeiras, quando dados de saúde são armazenados fora do alcance da legislação nacional, quando o próprio atendimento ao cidadão é mediado por redes privadas, o Estado terceiriza sua função mais básica: servir ao interesse público. É nesse cenário que ganham força os Bens Públicos Digitais (BPDs) — uma ideia capaz de inverter essa lógica e recolocar o bem comum no centro da tecnologia.

BPDs são sistemas, plataformas, bancos de dados e ferramentas digitais criadas com recursos públicos e licenças abertas, voltadas à coletividade. São como o SUS ou o Pix: acessíveis, confiáveis, construídos para servir, não para extrair. Num mundo em que quase tudo passa por telas e conexões, garantir que parte dessa estrutura seja pública e nacional é um gesto de soberania. Sem isso, o país corre o risco de aprofundar desigualdades já brutais, só que agora na camada digital.

As corporações tecnológicas sabem disso e fazem de tudo para evitar que os BPDs prosperem. Sua estratégia é simples: vencer licitações com preços baixos iniciais, depois criar dependência através de tecnologias proprietárias e formatos fechados. O resultado? As administrações públicas ficam reféns de contratos que encarecem renovações e impossibilitam migrações. Professores precisam de contas Gmail para acessar material didático.Prefeituras perdem autonomia sobre dados de seus próprios cidadãos.

Essa não é apenas uma discussão técnica. É política, econômica e existencial. Manter a atual dependência digital é aceitar que a infraestrutura da cidadania seja determinada por termos de uso e não por direitos. Seguir nesse caminho é ceder ao viralatismo. O Brasil tem capacidade técnica e recursos para criar alternativas ao modelo imposto pelas Big Techs. O que nos falta é apenas coordenar a nossa vontade política de soberania.

Por isso, o primeiro passo é a linguagem. Precisamos fazer dos Bens Públicos Digitais (BPDs) uma ideia tão conhecida quanto o SUS, tão útil quanto o Pix, tão querida quanto o Real. Não haverá soberania digital brasileira sem infraestrutura própria, aberta, auditável e gerida com interesse público. Que o Brasil aprenda a amar os BPDs antes que seja tarde.

Marcos Sfair Sunye, reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), professor titular do Departamento de Informática (DINF-UFPR) e fundador do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL).

Artigo publicado originalmente no portal TI Inside, no dia 30 de outubro, com reproduções em outros portais de notícia.

Inédito no Brasil, Centro de Bens Públicos Digitais será lançado em novembro

O Centro Nacional de Bens Públicos Digitais será sediado na UFPR e reunirá iniciativas voltadas à soberania digital e às tecnologias abertas e livres.

Resultado da articulação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) com pesquisadores e instituições de ensino e inovação de todo o país, está em fase final de estruturação o primeiro Centro Nacional de Bens Públicos Digitais (CNBPD) da história do Brasil. O CNBPD terá como objetivo fortalecer o ecossistema nacional de software livre e bens públicos digitais, reunindo soluções tecnológicas abertas e colaborativas voltadas ao interesse público.

“Hoje, os órgãos públicos não sabem a quem recorrer para buscar soluções tecnológicas. Não há uma orientação para os gestores sobre como encontrar alternativas às big techs, desenvolvidas em solo nacional e tão eficientes quanto quaisquer produtos estrangeiros. O Centro Nacional desempenhará esse papel aglutinador, de tornar conhecidos os Bens Públicos Digitais feitos no Brasil”, explica Marcos Sunye, reitor da UFPR e fundador do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL).

O CNBPD funcionará como um núcleo de governança e repositório nacional de iniciativas digitais livres, interoperáveis e sustentáveis, desenvolvidas por universidades, órgãos públicos, empresas, cooperativas tecnológicas e comunidades de software. A iniciativa está alinhada às diretrizes da ONU e da Digital Public Goods Alliance (DPGA), que definem os bens públicos digitais como instrumentos para ampliar a inclusão social, a transparência e a autonomia tecnológica.

Paralelamente, está em curso a formação da Aliança Nacional pelos Bens Públicos Digitais, que reunirá universidades, governos, empresas públicas e privadas, cooperativas e organizações da sociedade civil. Regida por uma Carta de Princípios, a Aliança prevê termos de adesão para instituições e pessoas interessadas e orienta os compromissos de licenciamento livre, governança participativa e sustentabilidade das soluções digitais.

“O atual estágio da luta por um projeto nacional soberano exigia um novo instrumento. Precisávamos de uma iniciativa que, partindo do poder público e alinhada ao interesse coletivo, permitisse à sociedade civil se organizar e assumir o desafio de articular uma experiência nacional de bens públicos digitais”, afirma Nésio Fernandes, da Organização Colibri para o Desenvolvimento da Saúde Única, uma das entidades envolvidas na articulação do CNBPD.

Expertise do C3SL será a propulsora do novo Centro Nacional

“O Brasil tem experiência consolidada em software público. O objetivo agora é atualizar e coordenar nacionalmente esse esforço, com a UFPR exercendo um papel articulador”, afirma o reitor Marcos Sunye. A ideia é usar o expertise  de 20 anos do C3SL como propulsor do CNBPD, uma vez que ele foi o responsável por projetos como o Paraná Digital, o Linux Educacional e diversas plataformas de monitoramento e gestão de dados públicos, o que confere à universidade experiência técnica e institucional na área.

Para Nésio Fernandes, a combinação de iniciativas consolidadas com projetos inovadores é um diferencial do CNBPD. “Essa articulação se dará com base tanto em experiências já consolidadas quanto em novas iniciativas capazes de impulsionar o desenvolvimento em seu sentido estrito. O objetivo é criar uma superestrutura institucional que seja, ao mesmo tempo, colaborativa e potente para o avanço da soberania digital no país”, adianta.

O lançamento do CNBPD está previsto para novembro de 2025 e a UFPR está organizando o processo de adesão à Carta de Princípios da Aliança Nacional para receber  inicialmente as universidades brasileiras.

C4SL bate recorde de participantes: tradicional Churrasco do Centro de Computação Científica e Software Livre teve 16ª edição do Prêmio Horácio

Cerca de 160 pessoas estiveram presentes no evento mais aguardado por estudantes e professores do C3SL; conheça os ganhadores do Horácio 2025

A 16ª edição do Churrasco do C3SL (Centro de Computação Científica e Software Livre), popularmente conhecido como C4SL, bateu recorde de participação em 2025. Cerca de 160 pessoas estiveram presentes no evento, que aconteceu na Associação dos Professores da UFPR (APUFPR) e que premiou mais uma vez bolsistas e professores do grupo de pesquisa com o Prêmio Horácio. Para a edição recorde, mais de 30 kg de carnes, 20 kg de linguiça e 180 litros de chopp foram comprados, além de outros tipos de bebidas, comidas e até mesmo sobremesa.

Em 2025, as organizadoras do evento foram as bolsistas do C3SL Maria Carolina Sauer e Janaína Kshesek, que enfrentaram o desafio de oferecer o melhor para bolsistas, professores e convidados. “Reunir o pessoal não foi tão difícil, pois todo mundo espera bastante o churrasco. O desafio maior foi definir a quantidade de coisas para comprar, mas está sendo muito legal, estamos muito felizes com o resultado até agora”, contou Janaína. 

Para os bolsistas, o churrasco é uma forma de sair da rotina e estreitar ainda mais os laços. “Esse evento representa um momento de união muito legal, porque a gente convive diariamente na universidade, no grupo de pesquisa, mas não é a mesma coisa que um evento como esse. Aqui a gente conversa, se diverte, é muito legal”, diz Maria Carolina.

Para os professores também é momento de celebrar e relembrar a história do grupo de pesquisa. “É impressionante ver esse evento com essa quantidade de pessoas, das quais 80 são bolsistas. Nunca imaginei que o C3SL fosse chegar onde chegou. Foi uma ideia que a gente teve de valorizar o software livre, a computação científica, e é um imenso prazer ver que o C3 está consolidado. Estamos muito felizes de estarmos aqui e de ver todo esse movimento”, contou Marcos Castilho, um dos fundadores do grupo.

Prêmio Horácio

E como não podia deixar de ser, no churrasco houve a tão esperada entrega do Prêmio Horácio, criada pelos professores Castilho e Luiz Bona. “O Horácio nasceu de uma brincadeira, com a ideia de premiar aquelas ideias e acontecimentos mais bizarros e estapafúrdios do dia a dia do departamento e do grupo de pesquisa. Acabou virando uma tradição e a gente tem muito orgulho não só de ter criado o prêmio, mas também de já ter levado pra casa o troféu, afinal, só erra quem trabalha”, brincou Castilho.

Esta foi a 16ª edição do Prêmio, que entregou aos ganhadores um Horácio feito de amigurumi pela bolsista do C3, Eloiza Cardoso, e ofereceu três categorias de premiação. “É genial estarmos aqui, pois foi uma ideia que começou com quatro pessoas que tinham uma ideia em comum mas que parecia incerta, que era a militância pelo software livre e pela ciência aberta. A gente sabe que não é fácil ser idealista no mundo de hoje, mas ver isso tudo vale muito a pena”, disse o professor e pesquisador do C3SL, Fabiano Silva.

As três categorias de indicação foram: Galo Veio, Pequeno Gafanhoto e Déjà Vú. Confira os ganhadores de cada uma das categorias:

  • Deja vu: Bruno Sime
  • Pequeno Gafanhoto: Marco Zanata
  • Galo Veio: Paulo de Almeida, Vinicius Fülber e André Grégio.

Cenário atual de desconfiança com IA reflete a recepção dos primeiros computadores, diz professor Álvaro Freitas Moreira


Fala foi feita pelo professor da UFRGS em palestra sobre IA no desenvolvimento de softwares durante o 3° Encontro de Data Science & Big Data UFPR

Por Felipe Azambuja

Durante o 3º Encontro de Data Science e Big Data na UFPR, o professor Álvaro Freitas Moreira, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), refletiu sobre o impacto da inteligência artificial (IA) no desenvolvimento de software.  Moreira traçou paralelos entre a recepção dos pioneiros da computação e as reações atuais à IA: “o clima atual é muito parecido com aquele dos primórdios”, disse o professor, em uma comparação entre a desconfiança gerada pelas ferramentas de IA e o assombro visto nas décadas de 1940 e de 1950 com o surgimento das primeiras tecnologias das então chamada programação automática.

Segundo Moreira, as ferramentas baseadas em IA “prometem melhorar significativamente a produtividade,” no desenvolvimento de software, ao permitir a criação de códigos a partir de comandos em linguagem natural. Apesar desse potencial, ele ressalta que as preocupações persistem: “a gente não sabe exatamente como funciona o mecanismo […] a gente espera que preserve a intenção que foi expressa ali no prompt.”

O professor apontou que o uso de modelos de linguagem a exemplo do ChatGPT para gerar códigos é um exemplo claro de como a IA está sendo integrada ao desenvolvimento de software. Contudo, isso também traz desafios. Um deles é a falta de transparência nos mecanismos que traduzem as intenções dos programadores para linhas de código. Outro é a necessidade de validação constante do código gerado, o que contrasta com a confiança já estabelecida nos compiladores tradicionais.

Paralelos com o passado

O professor iniciou sua fala à plateia do auditório do Setor de Tecnologia, no Centro Politécnico, relembrando o impacto do ENIAC, um dos primeiros computadores, que na década de 1940 causou furor com sua capacidade de realizar cálculos em minutos, “nada muito diferente do que se andou dizendo recentemente, no final de 2022, quando foi anunciado o ChatGPT”.

Moreira destacou que, nos anos 1950, a introdução de linguagens de programação como COBOL provocou reações similares às que vemos hoje: desconfiança em relação à confiabilidade dos códigos gerados automaticamente e preocupação com a perda de controle pelos programadores. Essa resistência inicial, no entanto, foi superada pela eficiência e praticidade proporcionadas pelas novas ferramentas.

Adaptações à nova realidade

Amarrando os paralelos, Moreira refletiu sobre o futuro do uso das inteligências artificiais na área do desenvolvimento de software. Ele apontou a possibilidade do surgimento de um novo dialeto para lidar com as linguagens da IA. O professor também questionou “será que um dia a gente vai confiar na IA e deixar de inspecionar visualmente o código gerado por ela?”

Moreira especulou que o tempo economizado com a automação de tarefas poderia ser redirecionado para atividades criativas ou para o aprimoramento da confiabilidade dos sistemas gerados. Ele ainda disse que ferramentas mais robustas para verificação formal de códigos podem ganhar espaço com o avanço da IA.

“A estatística é a espinha dorsal da ciência de dados”, afirma o Prof.Dr. Hedibert Lopes, em palestra na UFPR 


Mesa de abertura do 3º encontro de Data Science & Big Data trouxe importantes discussões acerca do papel da Estatística na Ciência de Dados

Texto: Eduardo Perry

A importância crescente da estatística em um mundo dominado por dados foi o foco da palestra do professor do Insper, Hedibert Lopes, realizada no 3° Encontro de Data Science e Big Data promovido pela UFPR. Durante sua apresentação, o pesquisador destacou como as fronteiras entre as duas áreas do conhecimento estão se tornando cada vez mais nebulosas, uma vez que a chamada Data Science evolui em direção a análises e interpretações mais complexas de dados, enquanto o estatístico de século XXI está se aproximando de ferramentas computacionais avançadas, como o machine learning e a inteligência artificial. 

Nos Estados Unidos, os primeiros programas acadêmicos de ciência de dados começaram a surgir em meados dos anos 2010. No entanto, à medida que a área se consolidava, universidades de ponta passaram a incorporar a ciência de dados em seus currículos, muitas vezes renomeando departamentos de estatística e outras áreas para refletir essa integração. Hoje, instituições renomadas, como o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e a Universidade de Stanford, oferecem programas robustos que combinam estatística, ciência da computação e análise de dados, refletindo a natureza interdisciplinar e prática do campo.

De acordo com Lopes, o “boom” do Data Science é consequência direta do aumento da quantidade de dados produzidos, assim como a capacidade computacional disponível nos dias de hoje, “Eu tô aqui e meu celular tá ali me escutando. Quando eu abrir ele, ele vai sugerir pra mim: ‘Ah, você tá em Curitiba. Que tal fazer isso? Nosso trabalho estatístico, ou de ciência de dados, serve para compilar e interpretar todas essas coisas”, explicou. 

O professor também ressaltou que a consolidação da ciência de dados como um campo próprio também significou a incorporação e a ampliação de técnicas estatísticas, que passaram a servir não apenas como base, mas como motor de desenvolvimento para novas abordagens tanto na estatística quanto na ciência da computação. “Muitas das técnicas utilizadas hoje em machine learning, por exemplo, advêm do universo da estatística, mas ao mesmo tempo foram criadas muitas coisas novas e interessantes”. Para ele, isso significa principalmente duas coisas: não se pode minimizar a importância da matemática e da estatística, no que diz respeito à ciência de dados; e o papel do estatístico no mundo do data Science precisa ser repensado para que ele esteja mais bem equipado com novas habilidades que o tornem atualizado e efetivo”, refletiu.

É preciso democratizar a área

Lopes ainda lamentou o fato de que poucas pessoas procuram pelo bacharelado em Estatística, enquanto muitos vão atrás do diploma de Ciência da Computação. Segundo ele, não é interessante que a área tenha tão pouca visibilidade. O pesquisador ainda trouxe dados que indicam que por volta de 2015 houve um aumento na procura pelo curso, mas menciona que esse fenômeno deve ter sido provocado pela maior adesão que o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) teve na época, o que acabou significando em um aumento na procura por todos os cursos, e não só o de estatística. Hoje, o número de inscritos em vestibulares de estatística no Brasil está caindo e de 2013 para cá, a média anual de término do curso é de um terço, segundo estudo citado pelo professor. 

Perguntado sobre ausência de mulheres, sobretudo pretas e pardas na área, Lopes ressaltou que esse é um problema sério a ser resolvido. “Sempre que fazemos seminários no Insper, eu busco trazer o mesmo tanto de homens e mulheres para falar. Mas, elas são minoria, e quanto mais você sobe na carreira, mais você percebe a predominância masculina”, enfatizou. 

Criação de uma Inteligência Artificial nativa do Paraná deve ser prioridade, defende Marcos Sunye


Pesquisador do C3SL e reitor eleito da UFPR, Sunye participou de atividade do TJ-PR, que está investindo em IA no Judiciário.

No último dia 31 de outubro, o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) celebrou um contrato com a Microsoft por meio do qual adotará a Inteligência Artificial Copilot no cotidiano da instituição, para melhorar a eficiência do Judiciário. Pesquisador do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) e reitor eleito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marcos Sunye foi convidado a falar no evento e elogiou a iniciativa de pôr o TJ-PR em linha com o que há de moderno na administração pública.

Sunye convidou os magistrados a refletirem no impacto positivo dessas novas tecnologias, ao mesmo tempo em que pediu para os membros do Tribunal de Justiça do Paraná sonharem com o desenvolvimento de uma Inteligência Artificial “nativa”, cujo parque tecnológico esteja aqui e tenha sido desenvolvido por pesquisadores do estado, “para atender às nossas demandas, com a nossa linguagem”. O reitor eleito da UFPR contou que esteve, na véspera, no Ministério da Agricultura, para atrair para o Paraná a criação do Centro Nacional de IA para o Agronegócio.

“O agronegócio pode se beneficiar largamente do uso de IA para aumento da produtividade, assim como o serviço público pode melhorar sua eficiência administrativa com a automação das tarefas mais simples”, concordou Sunye, que há 20 fundou o C3SL. Hoje, o Centro de Computação Científica é parte importante da execução de políticas dos ministérios da Educação e da Saúde, com foco na soberania nacional. O TJ-PR adquiriu 1.600 licenças do Copilot.

EPR Litoral: pesquisadores do C3SL fazem visita técnica à concessionária

Nesta segunda-feira (29), a concessionária de rodovias EPR recebeu, para uma visita técnica, pesquisadores do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) da UFPR. O grupo foi recebido pelo gestor de Operações da EPR, Fernando Miléo, que busca no C3SL um parceiro para desenvolver soluções que possam melhorar os serviços prestados à população pela concessionária.

A comitiva de pesquisadores do Departamento de Informática da UFPR foi composta por Marcos Castilho, Andre Grégio, Eduardo Todt, Marco Zanata, Paulo de Almeida e Vinícius Fülber, acompanhados de Edemir Maciel, gestor de Projetos Gerenciais. Eles conheceram a estrutura da concessão EPR Litoral Pioneiro, no trecho que liga Curitiba ao Porto de Paranaguá e às praias do Paraná.

A etapa seguinte da aproximação entre a concessionária de infraestrutura e o C3SL é a apresentação, pelos pesquisadores, das soluções computacionais e tecnológicas que podem ser desenvolvidas ou aperfeiçoadas para operações de grande porte. Hoje, a EPR administra quatro concessões de rodovias, três em Minas Gerais e uma no Paraná (abrangendo 26 municípios, 9 bases operacionais e 6 praças de pedágio).

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Novos bolsistas do C3SL participam de semana de integração na UFPR

Seleção contou com inscrição de 70 alunos de graduação dos cursos de Ciência da Computação e Informática Biomédica

Começaram nesta segunda-feira (15) as atividades de integração dos novos bolsistas de pesquisa do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). As atividades de capacitação seguem até quarta-feira (17). Neste primeiro edital de 2024, foram selecionados 21 alunos de graduação de um total de 70 inscritos dos cursos de Ciência da Computação e Informática Biomédica.

Os alunos foram recepcionados pelo bolsista e gerente de projetos, Richard Heise, que apresentou as atividades de pesquisa e os projetos desenvolvidos pelo C3SL. Formando em Ciência da Computação e responsável pela gestão do projeto do repositório de recursos educacionais do MEC, Heise destacou na dinâmica com os alunos o uso do método ágil como forma de organização dos projetos do centro de computação.

Com 15 professores doutores vinculados ao grupo e cerca de 30 alunos de graduação, mestrado e doutorado, o C3SL conta atualmente com três grandes projetos em andamento: Pesquisa e Inovação em Sistemas de Informação para Saúde; o Laboratório de Dados Educacionais, que abrange as plataformas MapFor, SIMCAQ e um repositório de indicadores; e a plataforma de Recursos Educacionais Digitais do MEC.

Cada um dos novos bolsistas integrará as equipes de professores e demais pesquisadores por projeto. A distribuição entre os programas em desenvolvimento é definida pelo perfil e habilidade do bolsista, bem como das preferências de atuação indicadas na entrevista no processo seletivo. Junto ao C3SL, os novos bolsistas terão 20 horas de dedicação semanal presencial nas dependências do Departamento de Informática (Dinf) da UFPR.

Apesar do foco em desenvolvimento de projetos com parcerias externas, Heise reforçou aos bolsistas que a preocupação é o fomento à pesquisa. Desta forma, os alunos são fortemente convidados a desenvolverem pesquisas nas diversas áreas da computação e têm a oportunidade de interagir com outros alunos que já até publicaram e apresentaram artigos. Segundo o gerente de projetos, diversas publicações científicas, divulgação em eventos, dissertações e trabalhos de conclusão de curso foram produzidos por ex-bolsistas tendo como objeto de pesquisa a atividades do C3SL.  

No encontro com os novos bolsistas, o pesquisador e um dos fundadores do C3SL, Marcos Castilho, reforçou a centralidade do aprendizado e do caráter de experimentação dos alunos durante as atividades junto ao centro de computação. “O C3SL não é uma fábrica de software. Nós estamos dentro de uma universidade. Vocês serão programadores. Mas, antes de tudo, aqui são estudantes. E o que faz um estudante? Pesquisam, propõem soluções, medidas alternativas e inovadoras para um problema. E é a partir desta perspectiva que devem compreender a sua atuação junto ao C3SL”.

Também presente na atividade de boas-vindas aos bolsistas, o professor do Dinf e pesquisador do C3SL, Eduardo Todt, frisou o papel do interesse público nos projetos encabeçados pelo centro de computação, sobretudo em parceria com governos federal, estadual e municipal. “O C3SL sempre faz projetos importantes para a sociedade. E vocês agora são do C3SL e passam a contribuir com atividades de ação social, com impacto na sociedade”.

Computação na Educação Básica: caminhos, desafios e possibilidades no letramento digital de crianças

Marcos Castilho
Fundador e professor pesquisador do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) da Universidade Federal do Paraná (UFPR)

2024 será o primeiro ano em que as escolas terão que obrigatoriamente colocar em prática atividades que incluam a computação em toda a Educação Básica. Uma resolução publicada pela Câmara de Educação Básica, do Conselho Nacional de Educação, em 2022, em complemento à BNCC – Base Nacional Comum Curricular – fez do Brasil um dos países em que a computação se torna obrigatória em todo o ciclo de formação do aluno. A resolução ficou conhecida como BNCC – Computação e propõe ações pedagógicas voltadas para o letramento da cultura digital em todas as fases da educação formal.

A norma foi construída com base em três eixos: cultura digital, mundo digital e pensamento computacional. As três essenciais para que o indivíduo que se forma tenha acesso não só a como utilizar, mas sobretudo, usos digitais, funcionamento da tecnologia, lógica computacional e diversos outros pontos estratégicos para que as crianças e adolescentes desenvolvam autonomia e responsabilidade no uso da cultura digital.

Ora, falar sobre computação é falar de dia a dia. A rotina da criança atualmente é guiada pela tecnologia. As telas preenchem a rotina das famílias, e a escola, e principalmente as políticas públicas, têm a obrigação de orientar as crianças num processo crítico, responsável e seguro. O uso de computadores, celulares, apps, softwares, não pode ser feita de forma aleatória, mas sim, reflexiva, levando as próprias crianças a entenderem essa dinâmica, enxergar soluções para os desafios e lidar de maneira simplificada com inteligência lógica. Podemos dizer que atualmente, o pensamento computacional é uma habilidade tão importante quanto ler e escrever sim, quer a gente queira ou não. E a prática desse pensamento é trabalhar com características que são próprias de computadores, baseado nas quatro definições básicas da computação, que são: abstração, reconhecimento de padrões, decomposição e algoritmos.

Dois pontos são fundamentais nessa discussão. O primeiro diz respeito às formas que conduzem essas três esferas a que se propõe a BNCC- Computação. Por isso, falar em letramento digital é falar sobre transversalidade. É incluir, de maneira desplugada inclusive, atividades que suscitem, por exemplo, maneiras que a ciência computacional propõe para resolver problemas e desafios. Hoje, muitas pesquisas na área da informática são desenvolvidas com o objetivo de pensar nas formas como crianças de 7 a 11 anos podem pensar sim com o computador e celular em mãos, mas sobretudo sem esses dispositivos. São atividades que envolvem movimentos, recortes, auxiliando até mesmo o desenvolvimento motor das crianças. São atividades direcionadas a desenvolver habilidades como decompor problemas em partes menores, reconhecer padrões, focar nas partes mais importantes de um problema, entre outras. Isso é pensamento computacional.

Outro ponto fundamental ao se falar em pensamento computacional para crianças e adolescentes é pensar na questão do software livre. Estamos falando de política pública. Estamos falando de recursos públicos. São milhares de crianças que ainda não têm acesso a computadores ou celulares. São muitas escolas que possuem um computador para quatro, cinco crianças. Adaptar o pensamento computacional para esta realidade é propor soluções que tornem a educação cada vez menos refém das bigtechs e da política de dados a que a sociedade está sujeita. O código aberto possibilita que os impostos sejam investidos em uma computação mais democrática, e que ainda tem o poder de proporcionar ao país a tão sonhada soberania digital.

Para isso, é preciso investir em educação, ciência e tecnologia e em programas que formem professores capazes de reproduzir essas técnicas. As universidades públicas são grandes sujeitos dessa dinâmica. É preciso incentivar pesquisas na área da informática que saiam do óbvio, que debatam políticas públicas e soberania. Que tragam para o governo novos horizontes e possibilidades de investimento e de retorno para a sociedade. Nossas crianças agradecem.

C3SL na SBPC

O professor e pesquisador do C3SL Luis Bona foi moderador da mesa “Infraestrutura para Cidades Sustentáveis” durante a programação da 75ª reunião anual da SBPC, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. O evento é um dos maiores de ciência e neste ano acontece em Curitiba, na Universidade Federal do Paraná, UFPR.

A mesa contou com a participação de Gustavo Possetti, da Sanepar, Ana Jayme, do IPPUC, Isac Roizenblatt, da Associação Brasileira da Indústria de Iluminação, a ABILUX, e Manuel Steidle, da Fundação CERTI. O encontro ouviu especialistas comprometidos com políticas públicas e debateu sobre desafios e dificuldades da transformação digital no âmbito da cidade.

A SBPC vai até dia 29 de julho, com diversas atividades em todos os campi da Universidade. Acompanhe a programação no site https://ra.sbpcnet.org.br/75RA/.