Estudo sobre dependência tecnológica no Brasil aponta o C3SL como exemplo de inovação em soberania digital

Estudo revela que mais de R$ 23 bilhões anuais são destinados a plataformas estrangeiras, reforçando a importância de investimento em soluções em software livre, para garantir soluções tecnológicas sustentável no país

O Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), da Universidade Federal do Paraná, figura como um dos principais protagonistas no estudo inédito que revelou o custo da dependência tecnológica do Brasil diante das Big Techs: mais de R$ 23 bilhões anuais investidos em plataformas e serviços estrangeiros. O estudo reforça que fortalecer centros como o C3SL, referência internacional em soluções abertas, maior espelho de software livre do hemisfério sul e um dos principais laboratórios de inovação do país, é fundamental para reduzir a vulnerabilidade do Brasil frente às Big Techs e garantir soberania digital, inovação e desenvolvimento social sustentáveis.

Pela primeira vez, um estudo quantificou o tamanho da dependência tecnológica do Brasil diante das gigantes globais de tecnologia, as chamadas Big Techs. O trabalho analisou contratos públicos de tecnologia da informação e comunicação (TIC) firmados entre 2014 e 2025. Os resultados expõem o volume bilionário de recursos destinados a empresas como Microsoft, Google, Oracle e Red Hat, além de apontar riscos à soberania digital do país. O montante apontado no trabalho representa o quanto o país investe em serviços, plataformas e infraestruturas digitais controladas por empresas estrangeiras, evidenciando a fragilidade nacional diante desse cenário.

De acordo com o levantamento, publicado pelo Grupo de Estudos em Tecnologias e Inovações na Gestão Pública (GETIP/EACH/USP), vinculado ao Observatório Interdisciplinar de Políticas Públicas “Prof. Dr. José Renato de Campos Araújo” (OIPP/EACH/USP), a evolução dos gastos ao longo dos anos aponta uma aceleração significativa a partir de 2023, especialmente em soluções de nuvem e segurança digital. Somente entre 2023 e junho de 2025, foram contratados R$ 5,97 bilhões em licenças de software, R$ 9 bilhões em soluções de computação em nuvem e R$ 1,91 bilhão em softwares e serviços de segurança.

O estudo alerta para os riscos dessa dependência, que vão desde a vulnerabilidade dos dados nacionais até a perda de autonomia sobre decisões estratégicas em áreas como economia, saúde, educação e segurança. Especialistas defendem que a soberania tecnológica é pré-requisito para a soberania econômica, e que o desenvolvimento de soluções nacionais é fundamental para o futuro do país.

O documento que aponta dados sobre as big techs é assinado pelo mestre em administração pública pela FGV e analista de dados e pesquisa da More in Common Ergon Cugler de Moraes Silva; pela doutoranda em Ciência Política pelo IPOL UnB e presidente do Fórum para Tecnologia Estratégica dos BRICS+ Isabela Rocha; pelo doutor em Sistemas de Informação (EAESP-FGV) e professor dos cursos de Graduação e Pós-Graduação em Gestão de Políticas Públicas da EACH-USP José Carlos Vaz; pela mestranda em Administração Pública e Governo pela FGV Julia Ribeiro de Almeida Veneziani; e Diretora de Projetos Estratégicos do BRICS+ Camila de Camargo Modanez.

Leia a íntegra do estudo no link http://bit.ly/3GyZEi8

Reunião da reitoria da UFPR, MCTI e C3SL discute soberania digital e bens públicos digitais no país

Encontro em Curitiba reúne pesquisadores, gestores públicos e representantes da sociedade civil para debater soberania digital, inclusão e criação de um centro nacional para articular e ampliar o ecossistema de software livre e bens digitais públicos no Brasil

Nesta segunda-feira (7), o Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) participou de reunião na reitoria da UFPR para discutir uma agenda nacional que organize a sociedade civil, os entes governamentais e a população em defesa dos Bens Públicos Digitais Nacionais. O C3SL figura como um dos operadores centrais da proposta da frente em defesa desses bens digitais, atuando para fortalecer o ecossistema de software livre e soluções abertas no país. Entre os temas centrais, destacou-se a necessidade de rearticular e integrar as comunidades de software livre, garantindo maior apoio institucional para ampliar seu impacto na inovação e na administração pública.

O encontro contou com a presença do reitor da UFPR e um dos fundadores do C3SL, Marcos Sunye; do atual coordenador do C3SL, Marcos Castilho; do pesquisadores Fabiano Silva e Luis Bona (pró-reitor de planejamento e dados da UFPR); Nésio Fernandes De Medeiros Junior, médico sanitarista, diretor do Instituto de Desenvolvimento e Apoio a Gestão – IDAG e um dos articuladores da frente em defesa dos Bens Públicos Digitais Nacionais; Pedro Torres, da coordenação da Agência de Tecnologia da Informação e Comunicação (AGTIC); Corinto Meffe, coordenador de Responsabilidade Socioambiental do Dataprev; Delfino Natal de Souza, consultor independente especialista em gestão da informação e governança de dados. Também participaram do encontro Edemir Reginaldo Maciel, diretor superintendente da Fundação da UFPR (Funpar); Hugo Valadares, diretor do Departamento de Ciência, Tecnologia e Inovação Digital (DECTI) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); Ergon Cugler de Moraes Silva, analista de dados e pesquisa da More in Common; Guilherme Alberto Almeida de Almeida, diretor de Inovação e Gestão do Conhecimento do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos; Laura Rodrigues, da Frente Hacker, da União da Juventude Socialista; e Fabricio Solagna, do Coletivo Digital.

Nésio Fernandes de Medeiros Junior destacou a importância de rearticular as comunidades de software livre no Brasil. Segundo ele, muitas dessas comunidades seguem ativas, mas carecem de maior integração e apoio institucional para ampliar sua atuação. “A tecnologia da informação é estratégica para a gestão pública, especialmente quando baseada em evidências. O espaço público brasileiro oferece inúmeras oportunidades para inovação, desde que as instituições saibam utilizar seu poder normativo e de articulação”, afirmou.

Nésio ressaltou que o software livre merece um lugar institucional protegido, que ofereça uma perspectiva de longo prazo e um espaço de articulação para os atores envolvidos. Para isso, defendeu a retomada e o fortalecimento de uma frente que debata e defenda a pauta dos bens públicos digitais, pautando o tema em fóruns nacionais, internacionais e regionais, projetando a agenda dos veículos digitais abertos no cenário da soberania digital do país.

O reitor da UFPR, Marcos Sunye, apresentou três pontos fundamentais para o debate sobre soberania digital e bens públicos digitais no Brasil. O primeiro deles é a proteção desigual entre dados públicos e privados. Enquanto a Lei de Acesso à Informação obriga o Estado a divulgar seus dados, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) protege o setor privado, que não é obrigado a revelar as informações que possui. “Temos uma lógica que penaliza o público e protege o privado. Por que uma empresa privada não entra na lei, ou pelo menos não precisa dizer quais dados possui e sobre quem?”, questionou.

O segundo ponto destacado pelo reitor é o aprisionamento tecnológico das instituições públicas. Sunye criticou uma diretiva da Secretaria de Gestão que proibiu universidades de manter seus próprios data centers, obrigando-as a hospedar dados em nuvem de terceiros, o que limita o controle sobre a infraestrutura tecnológica. “Depois de toda aquela movimentação no início do século sobre autonomia tecnológica, as universidades, que eram grandes vetores para políticas públicas, foram proibidas de ter data centers. Isso é aprisionamento tecnológico”, afirmou. Ele também lamentou a dependência das universidades em relação a grandes empresas de tecnologia para serviços essenciais, como servidores de e-mail, que têm acesso a dados importantes para a inovação.

Por fim, Sunye destaca a falta de debate sobre inteligência artificial com perspectiva do Sul Global. Neste ponto, o fundador do C3SL criticou que a discussão atual se limita ao uso de ferramentas como ChatGPT na educação, sem abordar a criação de inteligência artificial alinhada às necessidades e realidades do Sul Global. “Ninguém tem um discurso de como fazer uma IA no Sul Global. A discussão é só como usar, como se a posta já estivesse dada. Se você não pega, vai ficar atrasado”, alertou. O país enfrenta desafios para avançar em pautas como inclusão digital e adoção de soluções abertas, muitas vezes atrasadas em relação ao seu potencial.

A incompatibilidade de sistemas proprietários é uma barreira que precisa ser superada, reforçando a urgência de promover bens públicos digitais abertos e colaborativos. Apesar dos avanços tecnológicos, a inclusão digital permanece um desafio especialmente no serviço público, onde muitos municípios ainda não têm acesso ou qualificação para utilizar recursos digitais de forma eficaz. Diante desse cenário, os participantes da reunião propuseram a criação de uma organização com abertura ampla para participação da sociedade civil, universidades, empresas, governo e sociedade em geral. Esse centro funcionaria como um espaço de articulação, acolhendo iniciativas já existentes e fomentando novas, com projeção nacional e internacional.

O momento atual, marcado por transformações como a inteligência artificial e o controle das mídias sociais, exige iniciativas coletivas, colaborativas e independentes, capazes de promover inovação, integração e letramento digital. A criação desse centro é vista como uma oportunidade singular para consolidar décadas de trabalho, fortalecer o software livre e ampliar o acesso a bens digitais públicos no Brasil.

Pesquisador do C3SL é destaque em reportagem sobre tecnologia e segurança para a terceira idade

Especialista em cibersegurança, André Grégio aborda desafios e soluções para inclusão digital e proteção dos idosos no uso de tecnologias, destacando a importância da autonomia e da segurança contra golpes virtuais

O professor do Departamento de Informática (DINF) da UFPR e pesquisador do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), André Grégio, foi destaque na reportagem exibida no telejornal Meio Dia Paraná, no último dia 21 de maio, que integrou a série “Além da Idade”. A matéria abordou a relação da terceira idade com a tecnologia, apontando como o avanço digital tem deixado de ser uma barreira para se tornar uma importante ferramenta para melhorar a qualidade de vida dos idosos.

Na reportagem, o pesquisador do C3SL destacou os principais riscos que os idosos enfrentam no ambiente digital, como golpes de clonagem de cartão, fraudes via Pix e falsas centrais de atendimento, explicando de forma didática como identificar armadilhas comuns. Ele ressaltou que muitos golpes envolvem pedidos de pagamento via Pix para pessoas físicas, o que deve despertar a atenção dos usuários. O professor enfatizou a importância da cautela, do questionamento e da busca por ajuda antes de fornecer dados pessoais ou clicar em links desconhecidos.

Além disso, a reportagem mostrou histórias inspiradoras de idosos que superaram o medo da tecnologia, como Dona Hilda, que aos 80 anos utiliza dois celulares e realiza pagamentos via Pix com autonomia, e Marcos, que passou a usar aplicativos bancários após participar do curso gratuito de inclusão digital oferecido pela UFPR. O curso, que já atendeu mais de 400 pessoas, foca em desenvolver a competência digital e a segurança dos idosos no uso de dispositivos móveis.

Outro ponto importante abordado foi a visão positiva do professor André Grégio sobre a tecnologia, destacando que, quando usada de forma adequada, ela pode humanizar as relações e ampliar a participação social da terceira idade. Ele também é responsável pelo desenvolvimento de aplicativos voltados para pacientes bariátricos e oncológicos, que facilitam a comunicação entre médicos e pacientes, demonstrando o impacto social da tecnologia. Clique no link e confira a reportagem na íntegra no GloboPlay> https://globoplay.globo.com/v/13619987/

Fabiano Silva: IA é vendida como humana, mas serve à vigilância e amplia desigualdades

Em palestra no Universo UFPR, Fabiano Silva criticou a imagem amigável da inteligência artificial, usada para marketing, enquanto a tecnologia avança na indústria militar e acirra injustiças sociais.

Apesar da aparência amigável de assistentes virtuais e aplicativos baseados em linguagem, as inteligências artificiais (IAs) que se popularizam no cotidiano operam sob lógicas muito diferentes das humanas. O alerta foi feito pelo professor Fabiano Silva, do Departamento de Informática da Universidade Federal do Paraná (UFPR), durante palestra no evento Universo UFPR, realizada em 22 de maio de 2025.

Doutor em Engenharia Elétrica e Informática Industrial e um dos fundadores do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), Silva descontruiu a imagem das IAs como seres “inteligentes” e afirmou que essa narrativa é movida por estratégias de marketing — enquanto, na prática, a tecnologia é moldada para vigilância e acentuação das desigualdades sociais.

Marketing, controle e desigualdade

Fabiano Silva defendeu que a humanização das inteligências artificiais é uma construção retórica voltada ao consumo. “A ideia de que esses sistemas pensam ou sentem como nós é uma construção de marketing. Quanto mais humanos parecerem, maior será a adesão, o interesse, o número de pessoas querendo usar”. Ele explicou que, tecnicamente, os sistemas não compreendem o que dizem, apenas selecionam padrões estatísticos da linguagem mais frequente. “Esses modelos são papagaios estocásticos. Eles só devolvem a resposta mais provável com base no que já foi escrito”, avisou.

Ao rebater a percepção popular de que as IAs estão a serviço do bem comum, o professor apontou que o financiamento dominante vem de outro setor. “Quem sustenta essa indústria é a indústria de uso militar. Sempre foi assim. A evolução tecnológica sempre foi financiada por esse caminho”, alertou Fabiano Silva. Ele citou o uso de IA em vigilância, reconhecimento facial em tempo real e robôs autônomos armados, já empregados em cenários de guerra. “Essas coisas não têm mais humanos cuidando. A gente tem máquinas fazendo análise facial nas ruas e detectando padrões”, assinalou.

O pesquisador demonstrou preocupação com os efeitos sociais da automação por IA, sobretudo em áreas tradicionalmente vistas como estáveis. “Diferente da revolução industrial, que substituiu o esforço braçal, agora temos máquinas que escrevem, analisam, tomam decisões. Profissões de média e alta qualificação estão sendo diretamente afetadas”. Segundo ele, o discurso de que a IA aumenta a produtividade esconde uma consequência grave: “a produtividade aumenta, mas a riqueza gerada não está sendo redistribuída. A tendência é concentrar ainda mais renda”.

Outro ponto abordado na palestra foi a manipulação emocional promovida por sistemas que imitam a linguagem humana. “Quando começo a confiar na resposta da máquina como confio na fala de um amigo, estou me abrindo para ser manipulado. A superatribuição de humanidade torna as pessoas mais vulneráveis.” Silva chamou atenção para o risco de uma relação de dependência. “A gente humaniza essas ferramentas para se sentir confortável. Isso é nocivo. Não tem nada de humano por trás, só estatística.”

Concluindo sua fala, o pesquisador do C3SL defendeu que a sociedade precisa olhar criticamente para os rumos da inteligência artificial. “Não se trata de imaginar máquinas conscientes, mas de entender como sistemas criados por grandes empresas estão sendo colocados no centro das decisões humanas — sem regulação e com alto potencial de aprofundar desigualdades.” Segundo ele, é preciso ir além do fascínio tecnológico. “A pergunta que importa é: quem controla essa tecnologia, a quem ela serve e quem paga a conta?”

C4SL bate recorde de participantes: tradicional Churrasco do Centro de Computação Científica e Software Livre teve 16ª edição do Prêmio Horácio

Cerca de 160 pessoas estiveram presentes no evento mais aguardado por estudantes e professores do C3SL; conheça os ganhadores do Horácio 2025

A 16ª edição do Churrasco do C3SL (Centro de Computação Científica e Software Livre), popularmente conhecido como C4SL, bateu recorde de participação em 2025. Cerca de 160 pessoas estiveram presentes no evento, que aconteceu na Associação dos Professores da UFPR (APUFPR) e que premiou mais uma vez bolsistas e professores do grupo de pesquisa com o Prêmio Horácio. Para a edição recorde, mais de 30 kg de carnes, 20 kg de linguiça e 180 litros de chopp foram comprados, além de outros tipos de bebidas, comidas e até mesmo sobremesa.

Em 2025, as organizadoras do evento foram as bolsistas do C3SL Maria Carolina Sauer e Janaína Kshesek, que enfrentaram o desafio de oferecer o melhor para bolsistas, professores e convidados. “Reunir o pessoal não foi tão difícil, pois todo mundo espera bastante o churrasco. O desafio maior foi definir a quantidade de coisas para comprar, mas está sendo muito legal, estamos muito felizes com o resultado até agora”, contou Janaína. 

Para os bolsistas, o churrasco é uma forma de sair da rotina e estreitar ainda mais os laços. “Esse evento representa um momento de união muito legal, porque a gente convive diariamente na universidade, no grupo de pesquisa, mas não é a mesma coisa que um evento como esse. Aqui a gente conversa, se diverte, é muito legal”, diz Maria Carolina.

Para os professores também é momento de celebrar e relembrar a história do grupo de pesquisa. “É impressionante ver esse evento com essa quantidade de pessoas, das quais 80 são bolsistas. Nunca imaginei que o C3SL fosse chegar onde chegou. Foi uma ideia que a gente teve de valorizar o software livre, a computação científica, e é um imenso prazer ver que o C3 está consolidado. Estamos muito felizes de estarmos aqui e de ver todo esse movimento”, contou Marcos Castilho, um dos fundadores do grupo.

Prêmio Horácio

E como não podia deixar de ser, no churrasco houve a tão esperada entrega do Prêmio Horácio, criada pelos professores Castilho e Luiz Bona. “O Horácio nasceu de uma brincadeira, com a ideia de premiar aquelas ideias e acontecimentos mais bizarros e estapafúrdios do dia a dia do departamento e do grupo de pesquisa. Acabou virando uma tradição e a gente tem muito orgulho não só de ter criado o prêmio, mas também de já ter levado pra casa o troféu, afinal, só erra quem trabalha”, brincou Castilho.

Esta foi a 16ª edição do Prêmio, que entregou aos ganhadores um Horácio feito de amigurumi pela bolsista do C3, Eloiza Cardoso, e ofereceu três categorias de premiação. “É genial estarmos aqui, pois foi uma ideia que começou com quatro pessoas que tinham uma ideia em comum mas que parecia incerta, que era a militância pelo software livre e pela ciência aberta. A gente sabe que não é fácil ser idealista no mundo de hoje, mas ver isso tudo vale muito a pena”, disse o professor e pesquisador do C3SL, Fabiano Silva.

As três categorias de indicação foram: Galo Veio, Pequeno Gafanhoto e Déjà Vú. Confira os ganhadores de cada uma das categorias:

  • Deja vu: Bruno Sime
  • Pequeno Gafanhoto: Marco Zanata
  • Galo Veio: Paulo de Almeida, Vinicius Fülber e André Grégio.

Pesquisadores do C3SL palestram em oficina de inovação e aceleração digital em Saúde na APS

Evento em Brasília destaca parcerias entre C3SL e Ministério da Saúde para modernização da Atenção Primária à Saúde

Entre os dias 10 e 11 de junho, os pesquisadores do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) estarão entre os palestrantes da II Oficina de Integração Estratégica de Inovação e Aceleração Digital em Saúde na Atenção Primária à Saúde (APS), em Brasília. Promovida pela Coordenação-Geral de Inovação e Aceleração Digital da Atenção Primária (CGIAD/SAPS) da Secretaria de Atenção Primária à Saúde, a oficina visa fomentar discussões sobre a transformação digital na APS e ampliar a transparência das ações em desenvolvimento no âmbito da saúde digital no SUS.

Os destaques do C3SL na programação do evento do Ministério da Saúde ficarão a cargo dos pesquisadores André Grégio e Simone Dominico. Durante o primeiro dia da oficina, que será realizada no auditório do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, será realizada a palestra da professora Simone Dominico, com a temática “Reestruturação do Sistema de Informação da APS”, abordando inovação e colaboração. No dia seguinte, o professor André Grégio falará sobre “Segurança e Privacidade em Modelos de IA” no contexto de tecnologia e inovação.


Palestras integram projeto de parceria entre C3SL e o Ministério da Saúde – a participação dos pesquisadores da UFPR integra as atividades do projeto do C3SL com o Ministério da Saúde, iniciado em janeiro de 2024, com o foco no aprimoramento da comunicação na APS. Na UFPR, o projeto é gerenciado pelo professor André Grégio. O sistema em desenvolvimento no laboratório de inovação do C3SL surge como uma resposta aos desafios enfrentados na APS, como a necessidade de integrar políticas públicas e ações programáticas de saúde, garantir uma comunicação efetiva para promover a saúde e o bem-estar, e apoiar os agentes de saúde no gerenciamento de campanhas.

Seminário aborda sistemas de recomendação da rede MECRED

Pesquisadora do C3SL apresenta diagnóstico e recomendações para aprimorar personalização na principal rede social educacional do MEC

A análise e o aprimoramento dos sistemas de recomendação da plataforma MECRED são o centro do seminário realizado nesta terça-feira (3) no auditório do Departamento de Informática (Dinf) da UFPR. A atividade, intitulada “Análise de Interações na MECRED: Subsídios para Sistemas de Recomendação”, é conduzida pela pesquisadora de pós-doutorado Mariane Cassenote, bolsista do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL). A primeira etapa do seminário foi nesta manhã, direcionada aos pesquisadores do Dinf e do C3SL. Logo mais, às 19 horas, será realizada a segunda etapa da atividade, aberta ao público, com transmissão Ao Vivo pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=GRRC3JZIhOU. O seminário aborda o comportamento dos usuários, o uso dos recursos educacionais e a qualidade dos metadados, identificando desafios e oportunidades. Na atividade são apresentadas recomendações técnicas para otimizar a personalização e o engajamento, visando aprimorar a MECRED como espaço educacional.

Na primeira etapa do seminário, Mariane Cassenote detalhou o funcionamento atual dos sistemas de busca e recomendação da MECRED, que hoje se baseiam principalmente na similaridade entre os títulos dos recursos educacionais cadastrados. “A análise é muito focada nas palavras usadas no título. O sistema resgata recursos similares a partir dessas palavras”, explicou. No entanto, a pesquisadora destacou que há um potencial ainda pouco explorado no uso dos metadados dos recursos – como tema (disciplina), idioma, palavras-chave, descrição, nível de ensino – e nas interações dos usuários, como curtidas, comentários, downloads e visualizações. “Essas informações podem qualificar melhor o processo de recomendação, permitindo identificar perfis de usuários e sugerir conteúdos mais relevantes para cada contexto”, destaca.

Outro ponto abordado foi a importância das avaliações dos usuários. Recursos bem avaliados tendem a ser de maior qualidade e, portanto, deveriam ser priorizados nas recomendações. Segundo a pesquisadora do C3SL, o processo envolve descobrir perfis de usuários e identificar quais metadados e avaliações estão disponíveis para qualificar os recursos.  “O diagnóstico apresentado hoje buscou identificar o perfil dos usuários, dos recursos e das interações, para desenhar sistemas de recomendação que realmente beneficiem quem acessa a MECRED, tanto na busca quanto no consumo de materiais”, concluiu Mariane Cassenote.

Principal rede social da educação no Brasil: MECREDA MECRED é a principal rede social brasileira voltada a educadores, criada para promover o compartilhamento e a integração de conteúdos pedagógicos digitais. Desenvolvida pelo C3SL em parceria com o Ministério da Educação (MEC), a MECRED se consolidou como um espaço inovador de colaboração entre professores de todo o país. Desde seu lançamento em 2017, a MECRED cresceu de forma consistente e, em 2024, alcançou a marca de 37 mil usuários cadastrados, registrando um crescimento de 15% apenas no último ano. A plataforma já disponibiliza mais de 320 mil conteúdos educacionais, incluindo planos de aula, vídeos, jogos, podcasts e cartilhas, tornando-se uma biblioteca digital gratuita e colaborativa para a comunidade escolar brasileira

Conheça os aprovados para bolsas do C3SL em 2025

Com aumento de 30% de candidatos, processo seletivo bate recorde de inscritos para atuar em pesquisa em computação científica

A seleção para bolsista do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) bateu recorde de inscritos em 2025. Neste ano, foram 93 candidatos às vagas, o que representa um aumento de 30% em comparação a 2024, quando foram registradas 71 inscrições. Confira abaixo a lista dos 21 aprovados no processo seletivo. As atividades dos novos bolsistas iniciam a partir de 1 de julho, nos laboratórios do C3SL.

  • Antonio Da Ressurreição Filho
  • Davi Chaves Rodrigues Dutra Manzini
  • Juliana Zambon
  • Leonardo Prazeres Tosin
  • Kauê de Amorim Silva
  • Alexander Danila Mion
  • Camila Yuki Shibata
  • Suellen Priscilla de Camargo
  • Vinícius Jeremias dos Santos
  • Pedro Takeo Shima
  • Heric Camargo
  • Heloisa Benedet Mendes
  • Heloisa de Oliveira Pinho
  • Gustavo do Prado Silva
  • Milena Langner Mello
  • Matheus Ferreira Marquesini
  • Matheus Telles Batista
  • Mardoqueu Freire Nunes
  • Eduarda Rodrigues Ferreira
  • Nelson Baltazar Neto
  • Sofia Pessini Scherer

O C3Sl parabeniza a todos os todos os aprovados no processo seletivo! Este é um reconhecimento pelo esforço e dedicação de cada um de vocês. Sucesso nesta nova etapa.  O C3SL também agradece a todos os demais inscritos no processo. Fiquem atentos aos próximos editais e oportunidades, que serão divulgados nas redes e na página do laboratório de inovação da UFPR.   

Vinculado ao Departamento de Informática da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o C3SL é um dos principais laboratórios de inovação tecnológica do Brasil, com mais de 20 anos de atuação em pesquisa, desenvolvimento e transferência de tecnologia.

Seu papel como laboratório de inovação é marcado pelo desenvolvimento de soluções tecnológicas inovadoras para desafios complexos, especialmente em áreas estratégicas como inteligência artificial, ciência de dados, blockchain, robótica, computação em nuvem e cibersegurança. Essas soluções são aplicadas tanto na gestão pública quanto na iniciativa privada, sempre com foco em gerar impacto social e promover maior eficiência operacional.

Os pesquisadores selecionados atuarão em projetos de pesquisa e desenvolvimento no Dinf com foco em áreas como bancos de dados, engenharia de software, inteligência artificial, redes e sistemas distribuídos. Além disso, os bolsistas terão a chance de interagir com outros pesquisadores e desenvolver estudos em diversas áreas da computação.

Funpar e C3SL discutem plano de compartilhamento de recursos em data center avançado 

Visita técnica fortalece compromisso entre a nova gestão da Funpar e da UFPR, apontando caminhos para colaboração em inovação tecnológica

O Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) recebeu na última segunda-feira (26) visita técnica da Fundação da Universidade Federal do Paraná (Funpar) para conhecer a infraestrutura de dados do laboratório de inovação da UFPR, e avaliar uma parceria para hospedagem de serviços e máquinas virtuais da Funpar no data center do C3SL. O encontro contou com a presença de Marlon Mereth Ferreira da Silva, da Unidade de Gestão da Tecnologia da Informação da fundação, do professor do Departamento de Informática da UFPR (Dinf) e pesquisador do C3SL, Fabiano Silva, pesquisador do C3SL, e da gestora de projetos do Centro, Ianka Antunes.

A Funpar desempenha um papel central ao viabilizar projetos, captar recursos e fortalecer a interação entre a universidade, a sociedade e o mercado. A parceria, segundo a gestora de projetos do C3SL, Ianka Antunes, “fortalece a relação de apoio entre as duas instituições e promove uma solução eficiente e de independência tecnológica”.

A visita permitiu que os representantes da Funpar conhecessem de perto a infraestrutura tecnológica do C3SL, considerada de ponta, com soluções de alta disponibilidade, redundância e velocidade. Com 2 mil núcleos de processamento, o data center do C3SL conta com capacidade de 1 PetaBytes de armazenamento. “Fiquei bastante impressionado com a infraestrutura tecnológica com soluções de alta disponibilidade, redundância e velocidade. Soma-se a isso o conhecimento técnico da equipe e o compromisso com a inovação são grandes diferenciais, o que reforça o potencial de uma parceria estratégica entre a Funpar e a UFPR, por meio do C3SL”, destaca Marlon Mereth.

Durante a visita, foram identificados alguns pontos cruciais para viabilizar a migração do sistema de gestão da Funpar para o novo ambiente. Entre eles, destacam-se a necessidade de integração entre redes e ampliação da largura de banda, a compatibilidade dos ambientes de virtualização e a avaliação do desempenho dos discos.

Segundo o professor Fabiano Silva, uma etapa em andamento para a parceria é o dimensionamento da tecnologia oferecida pelo C3SL. “O dimensionamento faz parte desses testes que a gente quer fazer para verificar o atendimento da demanda por parte da nossa infraestrutura. A partir disso, um passo seguinte é realizar os experimentos de migração de sistemas usados pela fundação, para observar a compatibilidade com a estrutura do C3SL. É com tais testes que veremos que haverá necessidade de reforço da infraestrutura. Após isso, seguimos para a delimitação de um plano de compartilhamento de recurso”, aponta o pesquisador.

Artigo: Quem a LGPD protege? Hoje, as empresas — mas dá pra reverter

Na era da informação, saber quem detém os dados — e o que faz com eles — é uma questão de cidadania. Transparência não pode parar na planilha contábil.

Artigo de Marcos Sunye, reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), é professor titular do Departamento de Informática (Dinf-UFPR) e fundador do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL). Para acessar a versão editada publicada na Folha de S.Paulo, na edição de 27 de maio de 2025, clique aqui.

A transparência virou um valor assimétrico no Brasil. Enquanto o Estado é compelido, por força da Lei de Acesso à Informação (LAI), a abrir seus dados ao escrutínio público, empresas privadas seguem livres para acumular, explorar e compartilhar dados pessoais em sigilo. Mais do que isso: a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que deveria proteger o cidadão, passou a ser usada como argumento para restringir o acesso à informação pública. O instrumento pensado para resguardar o indivíduo foi apropriado para blindar instituições.

A apropriação da LGPD como escudo contra a transparência não se limita ao setor público. No setor privado, ela tem servido como biombo para ocultar a extensão e o uso dos dados que as empresas acumulam sobre seus clientes, usuários ou mesmo visitantes ocasionais de sites e aplicativos. O argumento da proteção da privacidade, embora legítimo, tem sido desvirtuado para justificar uma zona cinzenta onde circulam informações de alto valor econômico, que, ocultadas, acabam inacessíveis ao controle social.

Na economia contemporânea, dados não são apenas registros técnicos: são insumos estratégicos. Por meio deles, empresas mapeiam padrões de consumo, inferem comportamentos futuros, segmentam públicos com precisão e direcionam ofertas com eficiência quase cirúrgica. Quanto mais detalhada, granular e temporalmente rica for uma base de dados, maior seu valor de mercado. E, ao contrário do que ocorre com ativos tangíveis, essas bases não constam nos balanços contábeis, nem estão sujeitas a qualquer tipo de fiscalização pública sobre sua formação, manipulação ou troca.

Essa lógica nos leva a uma analogia inevitável. Quando o petróleo passou a mover economias, foi regulado, com exigências de transparência sobre reservas, métodos de extração e impactos ambientais. Quando a eletricidade se tornou essencial para a vida urbana, foi regulada. Quando a água passou a ser mercadoria escassa, foi regulada. Os dados seguiram caminho inverso: tornaram-se o novo recurso fundamental da era digital, sem que a sociedade sequer saiba como — ou por quem — estão sendo explorados. O que está em jogo, portanto, não é apenas a privacidade individual, mas a opacidade institucionalizada de um setor cuja matéria-prima é invisível aos olhos da sociedade, embora flagrantemente lucrativa.

Se dados são ativos estratégicos, cuja posse e uso definem vantagens competitivas e moldam relações de poder, faz sentido que permaneçam em sigilo absoluto? Assim como exigimos que empresas divulguem balanços financeiros, é legítimo discutir a criação de um mecanismo análogo para seus ativos informacionais. Não se trata de revelar dados pessoais, mas de tornar pública a estrutura geral dos bancos de dados mantidos por companhias que coletam, armazenam ou comercializam informações em larga escala.

Pedir um “balanço de dados” não é nenhuma fantasia regulatória. Empresas de capital aberto, no Brasil e no mundo, já são obrigadas a publicar, periodicamente, seus demonstrativos contábeis — incluindo receitas, dívidas, ativos, passivos e movimentações de caixa. Se já exigimos transparência sobre o capital financeiro, por que não estender esse princípio ao capital informacional? O que está em jogo é o direito coletivo de compreender as estruturas que sustentam as decisões algorítmicas que afetam comportamentos, mercados e eleições.

Uma proposta inicial seria obrigar tais empresas a divulgar, periodicamente, um “balanço de dados”: número total de registros, tipos de dado retidos, período médio de retenção, fontes de coleta, o “dicionário de dados” utilizado — isto é, os campos e categorias existentes em sua base — e a lista de empresas parceiras com quem compartilham esses dados. A privacidade individual estaria garantida, mas o controle social finalmente seria possível. Esse modelo contribuiria para inaugurar um regime de accountability algorítmica — no qual estruturas de decisão automatizadas passam a ser compreensíveis, auditáveis e socialmente fiscalizáveis.

Essa transparência mínima abriria caminho para um debate mais amplo: os termos de compartilhamento de dados entre empresas. Hoje, essas relações envolvem transferência de valor implícita, sem qualquer regulação ou visibilidade pública. Ao contrário do que ocorre com fusões, aquisições ou contratos societários, a circulação de dados no setor privado opera em uma zona cinzenta, silenciosa e invisível, apesar de ser central para a economia digital.

A regulação da informação precisa alcançar o século XXI. Se o dado é a nova matéria-prima da economia digital, sua circulação não pode seguir intocada por mecanismos mínimos de transparência. A sociedade tem o direito de saber quem sabe o quê sobre ela. O que hoje está em jogo já não é apenas a proteção da privacidade individual, mas o equilíbrio de forças em uma era em que o poder informacional é o que mais pesa.

A pergunta que resta é simples e urgente: por que aceitamos tão passivamente viver às cegas num mundo que tudo vê? É hora de exigirmos um novo pacto de transparência digital, não apenas do Poder Público, mas também das corporações que transformaram nossas vidas em dados. A cidadania do século XXI passa, necessariamente, pelo direito de conhecer quem nos conhece.