Artigo no Le Monde Diplomatique enfatiza referência do C3SL na soberania digital brasileira

Texto alerta para riscos econômicos e institucionais da hegemonia das big techs, e aponta que país gastou mais de R$ 10 bilhões em software e infraestrutura das empresas estrangeiras

O Brasil permanece vulnerável diante da dependência crescente de tecnologias estrangeiras, alerta o pesquisador Ergon Cugler de Moraes Silva, do Laboratório de Estudos sobre Desordem Informacional e Políticas Públicas (DesinfoPop/FGV), em artigo publicado no Le Monde Diplomatique Brasil. A análise, publicada nesta terça-feira (22), ganha relevância após recentes episódios em que o governo brasileiro foi alvo de pressões oriundas do cenário global, intensificadas por políticas unilaterais de Donald Trump e pelo domínio das big techs norte-americanas sobre o setor de nuvem e processamento de dados públicos.

Segundo o texto, de 2024 a 2025, o Brasil gastou mais de R$ 10 bilhões em software e infraestrutura fornecidos por empresas como Google, Microsoft, Oracle e Amazon – recursos que poderiam fortalecer centros nacionais de pesquisa, criar infraestrutura própria ou gerar políticas de fomento à inovação. Tal dependência, argumenta Silva, deixa o país exposto a ameaças econômicas, políticas e à possibilidade de vazamento de informações sensíveis.

Apesar do cenário ainda predominantemente desfavorável, o artigo apresenta caminhos viáveis para a construção de soberania digital. E, neste ponto, destaca o Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), vinculado à Universidade Federal do Paraná (UFPR). Com mais de vinte anos de trajetória, o C3SL é apontado como referência em desenvolvimento de soluções de software livre e ciência de dados, contando com equipe altamente qualificada e infraestrutura própria. O caso do C3SL evidencia que o Brasil reúne competência técnica para criar e manter alternativas eficientes e seguras, faltando, na visão do pesquisador, apenas vontade política e investimentos planejados de médio e longo prazo.

“Temos universidades com excelência reconhecida internacionalmente. Temos redes de pesquisadores altamente qualificados. Temos experiência acumulada em governo digital, em dados abertos, em participação cidadã. Temos o Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que é um exemplo real e que há mais de 20 anos desenvolve soluções robustas em software livre e ciência de dados com infraestrutura própria e equipe altamente qualificada. Vimos inclusive, com o estudo que publicamos, que temos também dinheiro para investir em tecnologia. O que falta não é competência técnica. É decisão estratégica. É vontade política de transformar essa competência em infraestrutura, essa infraestrutura em soberania e essa soberania em proteção institucional”, aponta Ergon no artigo.

Leia a íntegra do artigo em https://diplomatique.org.br/a-chantagem-de-trump-evidencia-que-precisamos-de-soberania-digital/