UFPR e Sistema Ocepar firmam parceria para impulsionar inovação agroindustrial no Paraná



O lançamento oficial do Food Valley Paraná, realizado nesta sexta-feira (24) na sede do Sicredi Vale do Piquiri, em Palotina, marcou o início de uma aliança estratégica entre a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e o Sistema Ocepar, com apoio das principais cooperativas agroindustriais do Oeste do Estado. A cerimônia reuniu lideranças do cooperativismo, gestores públicos e pesquisadores, consolidando o compromisso conjunto de transformar a região em um polo de referência em tecnologia e inovação no agronegócio.

O lançamento do Food Valley Paraná contou com a presença de autoridades do meio acadêmico, cooperativista e financeiro. Compuseram a mesa o reitor daUFPR, Marcos Sunye, o presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken,  o presidente da C.Vale, Alfredo Lang, o presidente do Sicredi Vale do Piquiri, Jaime Basso, e o professor Carlos Eduardo Zacarkim, diretor de Desenvolvimento e Integração dos Campi da UFPR, um dos idealizadores da iniciativa. Durante a manhã, Luis de Bona, pró-reitor de Planejamento e Dados da UFPR, apresentou a proposta do Food Valley aos presentes.

“É uma oportunidade, para nós, do Centro de Computação Científica e Software Livre [C3SL], aplicarmos nosssa expertise em resolver problemas reais e de grande porte, dentro de domínios especializados, como o agronegócio. O C3SL tem essa vocação de oferecer soluções com foco em problemas de interesse da sociedade, sempre visando a soberania nacional. No caso do Oeste do Paraná, isso passa necessariamente pela produção cooperada de alimentos”, concordou Marcos Castilho, coordenador do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) da UFPR. O C3SL será o executor da parceria entre UFPR e Ocepar.

Parceria entre universidade e cooperativas

O reitor da UFPR, Marcos Sunye, afirmou que o Food Valley representa um passo concreto na aproximação entre a universidade e o setor produtivo, com foco em desafios reais do agronegócio. Ele ressaltou o papel da UFPR como parceira estratégica, destacando o potencial científico e tecnológico da instituição. “Temos equipamentos de última geração, que podem e devem ser utilizados pelas cooperativas. Nosso objetivo é unir o conhecimento acadêmico à capacidade produtiva regional”, declarou.

Sunye reforçou que a iniciativa é fruto de uma postura institucional mais aberta, colaborativa e voltada à inovação aplicada. Segundo ele, a UFPR quer “convencer os pensadores a se debruçarem sobre os problemas complexos do setor produtivo” e oferecer soluções que aumentem a competitividade das cooperativas. “A universidade está diferente, mais integrada e disposta a diversificar suas fontes de financiamento. Queremos contribuir com o desenvolvimento do Estado e colocar nossa estrutura à disposição da sociedade”, completou..

Compromisso do cooperativismo paranaense

O presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken, destacou em sua fala o papel do cooperativismo paranaense como motor econômico e social do Estado. Ele lembrou que as cooperativas respondem por quase dois terços da produção de grãos e metade da proteína animal do Paraná, e que a parceria com a UFPR representa a oportunidade de transformar esse desempenho em inovação sustentável. “Essa aproximação entre cooperativas e universidade vai trazer uma realidade mais organizada e eficiente. Temos um modelo que dá certo e agora podemos potencializá-lo com base científica e tecnológica”, afirmou.

Ricken também ressaltou a mudança de cenário na relação entre academia e cooperativismo, elogiando a gestão da UFPR por sua abertura e sensibilidade às demandas do setor produtivo. “Vivemos uma fase em que a universidade está mais próxima, dialogando conosco e oferecendo conhecimento aplicado. Precisamos usar essa estrutura e esses equipamentos de ponta para avançar em inteligência artificial, automação e sustentabilidade”, destacou. O dirigente encerrou sua participação com entusiasmo: “Estamos diante de uma oportunidade histórica, mais do que otimismo — é entusiasmo pelo que está por vir”

Sicredi: anfitrião e articulador regional

O presidente do Sicredi Vale do Piquiri, Jaime Basso, abriu o evento destacando o caráter histórico da parceria e o orgulho em sediar o lançamento do Food Valley Paraná. Em seu discurso, Basso afirmou que a união entre cooperativas, universidade e instituições financeiras simboliza uma nova fase para o agronegócio do Oeste do Paraná, baseada em inteligência coletiva e inovação tecnológica. “Quando reunimos toda essa inteligência que já existe na região e conseguimos agir em conjunto, todos ganham com isso”, disse, ressaltando que o desenvolvimento tecnológico gera prosperidade e qualidade de vida para as comunidades locais

O dirigente também enfatizou o papel do cooperativismo como força de coesão e transformação regional. Ao convidar os presentes a conhecerem as instalações do Sicredi em Palotina, Basso destacou o investimento contínuo da instituição em infraestrutura e tecnologia. “É uma imensa honra receber este lançamento e contribuir para a construção de um futuro mais próspero e sustentável. O Sicredi estará sempre junto, seja o Vale do Piquiri, o Progresso, a Vanguarda ou a Aliança, porque acreditamos no desenvolvimento coletivo”, completou..

Um marco para o desenvolvimento regional

Durante a cerimônia, Sunye e Ricken assinaram o Memorando de Entendimento que formaliza a criação do hub de inovação, com foco em pesquisa aplicada, biotecnologia, sustentabilidade e economia de dados. A iniciativa é coordenada pelo professor Carlos Zacarkim, diretor de Desenvolvimento e Integração dos Campi da UFPR, e contará com a participação de docentes, estudantes e técnicos da universidade, em parceria com as cooperativas da região.

O Food Valley Paraná, idealizado no campus da UFPR em Palotina, nasce como um ecossistema de inovação aberto, voltado a desenvolver soluções tecnológicas para o agronegócio e para o fortalecimento das economias locais, reforçando o papel do cooperativismo como motor do desenvolvimento sustentável do Estado.



Food Valley Paraná: Lançamento oficial do hub de inovação tecnológica para o agro será nesta sexta-feira em Palotina

Projeto pioneiro integra universidade e cooperativas para criar soluções tecnológicas adaptadas ao clima e solo do Paraná, impulsionando a competitividade do setor agrícola

Nesta sexta-feira (24), será oficialmente lançado o Food Valley Paraná, o primeiro ecossistema de inovação tecnológica dedicado ao agronegócio e cooperativismo no estado. O evento acontecerá na sede administrativa do Sicredi, em Palotina, durante o 1º Encontro de Lideranças e Gestores do Agro, reunindo pesquisadores, líderes cooperativistas, produtores rurais e autoridades do setor agroindustrial paranaense.

A iniciativa, liderada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pelo Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), tem como objetivo aproximar a pesquisa acadêmica das demandas das cooperativas e dos produtores rurais, promovendo o desenvolvimento de soluções tecnológicas sob medida para o campo paranaense. O projeto conta com apoio da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (SEAB), Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), Sistema Ocepar, Sicredi, C-Vale e Frimesa. 

Estão confirmadas as presenças do reitor da UFPR, Marcos Sunye, do secretário da SEAB, Márcio Nunes, e do presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken. Para o pesquisador do C3SL e professor do Departamento de Informática da UFPR, Luis de Bona, o projeto marca uma transformação significativa. “O Food Valley é a oportunidade única de conectarmos nossa vocação para inovação com o futuro do agronegócio. Estamos criando um ambiente onde a tecnologia de ponta encontra os desafios reais do campo, permitindo que o agro paranaense cresça de forma ainda mais conectada com o futuro”, ressalta.

Carlos Zacarkim, professor e pesquisador do departamento de engenharia da UFPR em Palotina, reforça a importância do hub: “O Food Valley representa um marco essencial para o fortalecimento da agroindústria paranaense, impulsionando a inovação integrada entre ciência, tecnologia e cooperativismo. É um catalisador para ampliar a competitividade do nosso agro e abrir novas fronteiras de desenvolvimento sustentável”.

Zacarkim destaca ainda o desafio da dependência tecnológica: “O Paraná exporta alimentos para todo o mundo, mas ainda importa a maior parte da tecnologia utilizada na produção. Nossa produção é guiada principalmente por sistemas e equipamentos com tecnologia importada, muitas vezes projetados para outras realidades climáticas e de solo diferentes das nossas”, reforça.

O Food Valley Paraná surge para atender a esse paradoxo ao propor transformar o Paraná não apenas no celeiro do mundo, mas no maior laboratório de inovação, com tecnologias que atendam especificamente às condições locais, gerando maior eficiência e sustentabilidade para o agronegócio. O evento de lançamento na sede do Sicredi em Palotina reunirá gestores, líderes e especialistas para debater e construir soluções tecnológicas alinhadas com as demandas reais das cooperativas e dos produtores rurais. 

Evento: 1º Encontro de Lideranças e Gestores do Agro – Food Valley Paraná
Data: 24 de outubro de 2025

Local: Sicredi Palotina (Av. Presidente Kennedy, 2384 – Jardim Itália, Palotina – PR)
Realização: UFPR, C3SL, OCEPAR
Apoio: Sicredi, IDR-Paraná, Governo do Estado do Paraná, Sistema Ocepar, C-Vale, Frimesa

SOBERANIA DIGITAL: C3SL elimina dependência de serviços proprietários com Matrix e Nextcloud

Hospedagem local da infraestrutura digital permite ao C3SL total autonomia sobre armazenamento, acesso e processamento de informações

O Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), laboratório de inovação vinculado ao Departamento de Informática (Dinf) da UFPR, adotou as plataformas abertas Matrix e Nextcloud para garantir sua soberania digital, mantendo total controle sobre dados e infraestrutura tecnológica. A iniciativa visa substituir serviços proprietários como Discord, Microsoft Teams/Office 365, WhatsApp e Telegram, reduzindo a dependência de fornecedores externos e protegendo o patrimônio intelectual da instituição.

No cotidiano do C3SL, o Matrix substitui canais tradicionais de comunicação proporcionando tanto chats assíncronos quanto videoconferências para reuniões remotas. Já o Nextcloud ocupa o lugar de suítes proprietárias como Microsoft Office e Google Docs, facilitando o armazenamento, criação e compartilhamento colaborativo de documentos, apresentações, mídias e relatórios em ambiente controlado.

Para Marcos Castilho, um dos fundadores do C3SL e professor do Dinf, o laboratório atua como um centro de inovação em software livre. Desta forma, está na base do centro de pesquisa o desenvolvimento e adoção de soluções tecnológicas que promovam a autonomia digital. “Como um laboratório pioneiro em software livre, o C3SL tem o papel fundamental de fomentar a inovação tecnológica aberta, criando soluções que garantem a soberania digital e fortalecem uma cultura colaborativa essencial para o avanço do Brasil na área de tecnologia,” ressalta Castilho.

Segundo Fernando Kiotheka, mestrando em informática, bolsista e integrante da equipe Root do C3SL, quando os dados ficam no controle de terceiros, eles podem ser usados como reféns para forçar a aplicação de contratos abusivos. “O exemplo recente do Slack, que aumentou em 190 mil dólares por ano o preço para uma instituição sem fins lucrativos, ameaçando deletar 11 anos de mensagens em uma semana, mostra o risco real dessa extorsão”, destaca Kiotheka.

No caso do uso do protocolo Matrix e do Nextcloud, o aspecto central da soberania é garantido pela hospedagem dessas ferramentas no data center próprio do C3SL, eliminando intermediários e agentes externos. “Todos os dados são armazenados e processados em nossa infraestrutura local, sem controle de agentes externos,” reforça Kiotheka, apontando ainda para a integração das plataformas com o sistema de login institucional do C3SL, o que evita a criação de contas em serviços de terceiros e preserva a unidade do ambiente colaborativo.

Um dos benefícios-chave da escolha por Matrix e Nextcloud está na federação, que possibilita conexões e colaboração segura entre universidades e institutos de pesquisa, nacionais e internacionais. Fernando cita, por exemplo, uma rede de universidades alemãs que utiliza o Matrix para intercomunicação, sugerindo que o futuro das parcerias acadêmicas reside em plataformas livres e descentralizadas.

A arquitetura descentralizada do Matrix também permite liberdade para adotar implementações variadas e até mesmo desenvolver aplicações próprias pré-configuradas, ampliando a flexibilidade do C3SL. Do ponto de vista técnico, o desafio de gerir sistemas complexos é enfrentado por meio do uso de Kubernetes, práticas de implantação contínua e infraestrutura como código versionado, destacando a especialização da equipe do laboratório.

Embora o foco atual do C3SL esteja na implantação das tecnologias, já há planos para contribuir ativamente com a comunidade open source, produzindo documentação técnica e desenvolvendo plugins para integrar serviços adicionais no Nextcloud, como Overleaf e BigBlueButton.

No que tange ao capital intelectual da instituição, o uso dessas plataformas reforça a preservação do conhecimento interno. Diferentemente de dados dispersos em documentos proprietários e conversas em aplicativos variados que correm risco de se perder com a saída de colaboradores, o C3SL que atualmente concentra o trabalho em repositórios Git, agora conta também com Matrix e NextCloud. Isso garante que informações relevantes fiquem acessíveis à equipe e possam ser recuperadas a qualquer momento, fortalecendo a manutenção do legado coletivo.

Food Valley Paraná une UFPR e cooperativas em projeto tecnológico com lançamento em Palotina

Primeiro hub de inovação tecnológica para o agro paranaense será inaugurado com evento em 24 de outubro

A Universidade Federal do Paraná (UFPR), por meio do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), anuncia a criação oficial do Food Valley Paraná, ecossistema de inovação tecnológica que conecta a demanda das cooperativas e produtores rurais com a capacidade de pesquisa de ponta da maior universidade do estado. O lançamento do Food Valley será realizado durante a programação do 1º Encontro de Lideranças e Gestores do Agro, no dia 24 de outubro, na sede administrativa do Sicredi em Palotina, reunindo gestores, líderes e dirigentes do setor para debater e construir soluções tecnológicas alinhadas com as demandas do campo.

O evento conta com o apoio da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SEAB), Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), Sistema Ocepar, Sicredi e C-Vale, fortalecendo a cooperação entre universidade, cooperativas e entidades públicas para o desenvolvimento da agrotecnologia no Paraná.

Para o pesquisador do C3SL e professor do Departamento de Informática da UFPR, Luis de Bona, o projeto representa um marco na transformação do Paraná em um “laboratório vivo de novas tecnologias” para o agronegócio, unindo a expertise acadêmica da UFPR com a força do cooperativismo paranaense. “O Food Valley é a oportunidade única de conectarmos nossa vocação para inovação com o futuro do agronegócio. Estamos criando um ambiente onde a tecnologia de ponta encontra os desafios reais do campo, permitindo que o agro paranaense cresça de forma ainda mais conectada com o futuro”, destaca.

Para Carlos Eduardo Zacarkim, professor e pesquisador do departamento de engenharia da UFPR Palotina, o HUB da UFPR com o Food Valley representa um marco essencial para o fortalecimento da agroindústria paranaense, ao impulsionar a inovação integrada entre ciência, tecnologia e cooperativismo. É um catalisador para ampliar a competitividade do nosso agro e abrir novas fronteiras de desenvolvimento sustentável.

O objetivo do Food Valley Paraná é desenvolver soluções tecnológicas próprias e sob medida para os desafios reais das cooperativas, reduzindo a dependência de tecnologias importadas. O Paraná exporta alimentos para todo o mundo, mas ainda importa a maior parte da tecnologia utilizada na produção. 

“Nossa produção, em sua grande maioria, é guiada por sistemas e equipamentos com tecnologia importada. Muitas vezes, os sistemas disponíveis no mercado foram projetados para outras realidades, com climas e solos diferentes dos nossos”, explica Zacarkim. O Food Valley surge como resposta a este paradoxo: transformar o Paraná não apenas no “celeiro do mundo”, mas também no “maior laboratório de inovação”, criando tecnologias que atendam especificamente às condições locais e tragam maior eficiência.   

SOBRE O C3SL

O Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) é um laboratório de inovação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) reconhecido nacional e internacionalmente pela produção de tecnologias públicas e soluções em larga escala para o Estado brasileiro. Desde 2002, o C3SL atua no desenvolvimento de sistemas de informação voltados à educação, transparência e inclusão digital, com ênfase em software livre, dados abertos e infraestrutura pública de tecnologia. Seus projetos atendem milhões de usuários e consolidam o C3SL como uma das principais referências em ciência de dados aplicada a políticas públicas no país.

Evento: 1º Encontro de Lideranças e Gestores do Agro – Food Valley Paraná
Data: 24 de outubro de 2025

Local: Sicredi Palotina (Av. Presidente Kennedy, 2384 – Jardim Itália, Palotina – PR)
Realização: UFPR, C3SL, OCEPAR
Apoio: Sicredi, IDR-Paraná, Governo do Estado do Paraná, Sistema Ocepar

Inscrições e informações: https://www.sympla.com.br/evento/1-encontro-de-liderancas-e-gestores-do-agro-food-valley-parana/3158296 

Egresso da UFPR e co-fundador do DuckDB evidencia potencial do open source na resolução de desafios sociais complexos

Em entrevista ao C3SL, o ex-mestrando do PPGInf ressalta como o software livre torna o acesso a ferramentas analíticas avançadas mais simples, eficiente e disponível para pesquisadores, empresas e entusiastas ao redor do mundo

Nascido em Fortaleza, no Ceará, Pedro Thiago Timbó Holanda trilhou um caminho que o levou do DINF e do PPGInf/UFPR ao protagonismo global na comunidade de software livre. Formado em Computação pela Universidade Federal do Ceará, Pedro foi bolsista de iniciação científica desde o primeiro semestre, já com direcionamento à pesquisa em bancos de dados. “Comecei testando hipóteses, sempre em busca de novas soluções, ainda no contexto acadêmico e do software open source”, relembra.

Artigo do mestrado aprovado em evento internacional abriu portas para a criação do DuckDB, diz Pedro

Durante o mestrado na UFPR, orientado pelo professor do Dinf e pesquisador do C3SL, Eduardo Almeida, Pedro aprofundou-se no estudo de indexação adaptativa, área-chave para bancos de dados modernos e ferramentas analíticas. Sua dissertação, embasada em técnicas inovadoras como o Database Cracking, conectou sua pesquisa à linha de frente de grupos internacionais — especialmente o CWI, renomado centro holandês de pesquisa em ciências exatas.

Esse olhar inovador sobre indexação e análise de dados foi essencial na transição ao doutorado no CWI, em Amsterdã, aprofundando pesquisas em indexação progressiva. Lá, Pedro aproximou-se de comunidades de software livre e do tema que norteia sua carreira: a democratização do acesso a ferramentas analíticas eficientes.

É nesse contexto que surge sua maior contribuição: o DuckDB, banco de dados analítico de código aberto criado no CWI, do qual Pedro é cofundador do laboratório comercial, o DuckDB Labs. “A grande motivação foi aproximar a potência dos bancos de dados do universo da análise de dados no ambiente open source, tornando mais simples e acessível o processamento massivo de dados para todos”, explica.

Ao se inspirar no universo do SQLite e no apelo “SQLite for analytics”, Pedro buscou unir a simplicidade de uso e a eficiência de performance em um software livre que pudesse ser rapidamente adotado por pesquisadores, empresas e entusiastas. O DuckDB, distribuído sob licença open source, rapidamente se tornou referência mundial. O sucesso da ferramenta reflete a força da comunidade do software livre: “Quem desenvolve uma solução aberta permite avanços globais. O open source é tanto um convite quanto um compromisso de impactar o mundo”, afirma Pedro.

Pedro Thiago, o professor Eduardo Almeida e Mark Raasveldt, Co-criador do DuckDB

Durante sua carreira, Pedro também colaborou com a Microsoft, sempre defendendo a abertura do conhecimento e o impacto transformador do software livre. Essa filosofia marcou sua trajetória desde os tempos de estudante na UFPR, “onde aprendi o valor de compartilhar conhecimento e participar de comunidades acadêmicas e open source”.

Esta reportagem integra uma série de entrevistas promovidas pelo Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) e Dinf. A iniciativa busca destacar a trajetória e as contribuições de ex-bolsistas, alunos e pesquisadores que se destacam no campo da informática, mostrando a diversidade e o impacto das pesquisas desenvolvidas nesse ambiente acadêmico e tecnológico de excelência.

C3SL – Pedro, para começar, você poderia contar um pouco sobre sua trajetória pessoal e como chegou até o desenvolvimento do DuckDB?

PEDRO – Fiz minha graduação na Universidade Federal do Ceará. Desde o meu primeiro semestre fui bolsista de iniciação científica na área de indexação de banco de dados. Então, eu passei boa parte da minha graduação já trabalhando com sistemas de banco de dados, mas no nível de pesquisa, sem implementar nada em um sistema mesmo, mas com o que a gente chama de aplicação stand-alone. Você faz basicamente o código mais simples para testar aquela sua hipótese. Quando terminei minha graduação, tive oportunidade de ou continuar trabalhando na empresa que eu estava, ou de seguir para um mestrado. E a realidade é que eu tinha meio que me apaixonado pelo sul. Eu queria ir ou para Curitiba ou para Florianópolis, dar aquele empurrão, para sair da casa dos pais, etc. Então, eu apliquei a prova para Curitiba, Florianópolis, e acho que para Porto Alegre também. E do pessoal que eu conversei, que eu me dei melhor naquela conversinha de uma hora, foi com o professor Eduardo Almeida, da UFPR. Ele também trabalhava com o que na época era meio que os grandes hypes do momento, né, que era NoSQL e Spark. Forçamento MapReduce.

Pedro Thiago e demais pesquisadores do Dinf alunos do professor Eduardo Almeida em evento científico de informática

Neste processo, fui aprovado no mestrado como orientando dele, então eu fui para Curitiba, e a gente começou trabalhando com Banco de Dados NoSQL. Ali pelo meio do mestrado a gente viu que não era uma coisa tão bacana assim, que existiam uma série de problemas dentro da utilização de Banco de Dados NoSQL que não tornava isso interessante, e foi neste ponto que mudamos completamente o tópico para voltar à indexação. Só que a partir de um tipo de indexação chamada de Database Cracking, que é uma técnica de criação de índices em que você cria os índices enquanto está executando consultas. E daí eu fiz meu mestrado nesse tópico e calhou que era um tópico que tinha sido começado pelo Grupo de Pesquisa de Amsterdã que é a CWI (Centrum Wiskunde & Informatica), que é o Centro Viscundia Informática Centro de Matemática e Informática. Quando eu terminei meu mestrado, consegui a aprovação de um paper numa conferência internacional, e foi a partir desta oportunidade que aproveitei para me inscrever em uma vaga de doutorado aqui em Amsterdã. Foi justamente por conta de ter tido esse paper do mestrado e de ter tido alguma visibilidade já e ter feito o mestrado no em um tema central na pesquisa da instituição aqui que consegui a vaga no doutorado. Nisso, vim para cá e dei continuidade na minha pesquisa sobre índice. Em 2019 o Mark Raasveldt, que por sinal era o meu colega de quarto no doutorado, começou a implementar o DUNKDB como um projeto acadêmico.

Os projetos que a gente tem na CWI é um pouco diferente de como ocorre no Brasil. Enquanto o financiamento da pesquisa no Brasil é quase na sua totalidade originária de entes públicos, aqui na Europa é usual termos a grande maioria vindo de financiamentos de iniciativa privada ou público-privados. No meu caso, o projeto era com a fabricante de automóveis Honda. Eles pagavam metade do meu doutorado e o governo holandês pagava outra metade. No caso do Mark, a empresa financiadora era a Tata Steel, empresa global do setor siderúrgico, também neste mesmo modelo de custeio com o governo. Com este modelo, éramos levados a atuar em alguns dos problemas que essas empresas tinham. Além disso, tanto o meu projeto como o do Mark eram projetos que eram mais de ciência de dados, apesar de estarmos vinculado a um grupo com foco de estudo em sistema de banco de dados e desenvolvimento de sistema. Neste momento começamos a perceber que o pessoal tinha meio que aversão a sistemas de banco de dados, o que gerou essa curiosidade nossa. Oras, estamos no campo da informática há 50 anos desenvolvendo pesquisas, tentando fazer as coisas mais rápidas e além da memória, usar todo o processamento do computador. Porém, poucos se interessam por tais soluções, e acabam usando ferramentas que são consideravas inferiores nesse sentido de performance técnico. Neste ponto, começamos a perceber que a grande motivação era que os sistemas de banco de dados eram muito complexos.

Então, se você pegava uma pessoa para fazer uma análise de dados, eles preferiam ir para um “Pandas da vida”, que é uma ferramenta mais simples. Isso porque em uma linha de comando você já está conseguindo analisar seus dados. Agora, se você fosse usar um SQL Server, um ADB, era preciso instalar o seu servidor, descobrir como é que faz a conexão do cliente, fazer criação de esquema etc. Você perde um dia para começar a ler o seu primeiro arquivo. O teu custo de interação com a ferramenta era muito grande com sistemas. É desta reflexão que gerado o DuckDB. Será que a gente consegue fazer um sistema para análise de dados que seja tão fácil de usar quanto o Pandas, mas que tenha toda essa bagagem de coisas que a gente tem feito em pesquisa? Nos últimos anos, esse é o problema que o DuckDB surge para poder resolver no universo do banco de dados.

C3SL: O slogan “SQLite for analytics” resume bem a proposta do DuckDB. Como essa analogia ajuda a compreender o projeto? E quais foram os momentos-chave que levaram à criação ou sua entrada no time do DuckDB?

PEDRO: O slogan “SQLite for Data Analytics” que encampamos e a razão desse slogan é porque a gente queria ser na verdade o mesmo que o Pandas era, mas a gente também queria que as pessoas do mundo de banco de dados entendessem a proposta, e o SQLite era o mais próximo, sendo um sistema que não demanda instalação. Contudo, o SQLite é feito para o que a gente chama de cargas transacionais, que é quando você tem muitas atualizações. Seria algo como “o Pedro mudou de endereço”, o que é considerado uma atualização, e nisso o SQLite é muito bom em fazer. Mas se você tiver um tipo de consulta, como “quero saber o que é que as pessoas entre 20 e 30 anos que moram em Curitiba compram mais”, isso é uma carga analítica que demanda uma quantidade muito grande de seus dados. Então, são sistemas com propósitos diferentes. Mas a ideia é que nossa proposta à época era ser o que o SQLite é para essas atualizações, só que para essas cargas analíticas. Em 2019 começou o desenvolvimento do DuckDB.

Apenas para destacar um “fun fact”, na época o Mark estava no Brasil, especificamente em Curitiba. Então o início do DuckDB foi desenvolvido, por coincidência, na UFPR. Claro, não tendo uma relação direta com algum projeto da universidade. O Mark estava em Curitiba, e daí eu conversei com o professor Eduardo para ver se a gente conseguia uma sala para ficar usando naquela época. Isso já era no doutorado, em 2019. Por coincidência, o comecinho aconteceu fisicamente na UFPR. Foi neste ano que comecei a implementação do sistema, com uma carga bem acadêmica, sem também grandes deslumbres ou ainda um sistema de uso real. As coisas começam a mudar um pouco ali por 2021 e 2022. É neste momento temos um insight, e começamos a perceber que existe um interesse comercial na ferramenta. Já existiam empresas que estavam utilizando a ferramenta. E em 2021 é quando criamos a DuckDB Labs, que é a empresa que presta serviço em cima do DuckDB. É ela que opera em serviço o DuckDB, que é uma ferramenta de código aberto completamente gratuita. Na verdade, não tem nada que a gente faz dentro da DuckDB Labs que não seja aberto e gratuito.

Defesa de mestrado no PPGInf da UFPR

Para se ter uma ideia, a propriedade intelectual da ferramenta não é nem da DuckDB Labs, mas sim de uma fundação. Com isso, se algo ocorre com a empresa amanhã, a propriedade intelectual e o código continuam protegido. E uma pergunta muito comum é como mantemos a empresa se a ferramenta é aberta. O modelo de negócio é baseado em desenvolver projetos com a ferramenta aberta. A gente pode ter um projeto com outra empresa grande, como a Google. Eles utilizavam a DuckDB internamente dentro de um ou outro projeto deles, e precisavam que uma determinada carga de trabalho de junção bem específica fosse implementada para poder acelerar o processo deles. Neste caso, fechamos um contrato com a DuckDB Labs, um dos engenheiros vai e trabalha com eles pelo período que seja necessário para implementar. O business é esse desde o começo. A ferramenta foi toda desenvolvida com recurso público, e a ideia foi dar o retorno aos contribuintes deixando-a aberta, para que todos possam usar. O modelo de negócio envolve em aplicá-la em projetos.

C3SL: Hoje, como é a estrutura dos clientes e seus desafios em nível de complexidade de demandas?

PEDRO: Os projetos são bem diferentes, e a complexidade depende muito da necessidade dos clientes. Desta forma, é muito variada a complexidade. Temos alguns projetos que pedem para fazer melhorias no Iceberg, em outros, há pedidos para aprimoramentos dos da base dos clientes. O DuckDB é uma ferramenta que pode comunicar por diversas linguagens, como C++, Java, Go. Cada um desses é um cliente diferente, e cada um desses é desenvolvido à parte. Por exemplo, o nosso cliente que eu diria que é o mais forte é o Python. Por outro lado, tem uma outra empresa que está mais interessada no cliente Go que a gente tinha desenvolvido há um tempo, mas que só estava com a base. Agora estão pagando pelo desenvolvimento completo.  A complexidade de você desenvolver um cliente e de desenvolver uma integração com o Iceberg são diferentes. No fim das contas, o projeto é mais sobre o tempo gasto daquilo, do que realmente complexidade.

C3SL: A DuckDB fez uma implementação de suporte ao Delta Lake. O que motivou essa decisão e o que ela representa para os usuários e para o cenário do código aberto?

PEDRO: Se você é um usuário da Oracle, tem os seus arquivos salvos na Oracle. Caso queira migrar para um outro sistema, é uma grande dificuldade. No fim, você fica preso. Ou você aceita pagar o que eles quiserem te cobrar, ou você vai ter um custo caro para fazer uma migração. Além disso, migrações são complexas, pois há a necessidade de garantir que seus dados estão corretos no processo. A ideia do Delta Lake é que, em vez de ter um armazenamento de um sistema proprietário, você faria tudo com arquivos que são públicos. No caso, você usaria arquivos parquet que qualquer sistema pode ler ou escrever, e você usaria os outros arquivos JSON e AVRO, que também são arquivos formados públicos, que qualquer sistema pode teoricamente implementar um leitor e uma escrita, porque o formato é aberto. Então, a ideia do Data Lake era basicamente isso.

Em vez de um armazenamento privado, usar esses arquivos de armazenamento público para armazenar os dados. Se o fulano que tem os dados dele usou o Oracle para escrever os dados dele usando o Iceberg, que é basicamente uma coleção de parquet, JSON e AVRO, quiser usar um outro sistema para ler, não tem migração nenhuma. Se os dois sistemas sabem ler, o custo de migração é zero, porque os dados estão em um arquivo aberto, de formato aberto. Por qual motivo a gente decidiu criar um sistema? Basicamente você tinha três formatos: o Hoodie, o Iceberg e o Delta Lake que é do Databricks. São muito similares, sendo uma coleção de arquivos parquet, com uma linha de arquivos JSON, com outra linha de arquivos json e com um arquivo AVRO. Em cada alteração ou leitura, você tem que ir por todos esses arquivos, até chegar aonde os seus dados estão armazenados nesse parquet, e após isso trazer os dados de novo para o cliente. Quando você tem a atualização, é preciso criar novos arquivos. Isso vai aumentando essa estrutura, o que faz com que ela se consolide como uma estrutura muito complexa. A grande razão a que foi criada essa estrutura é porque eles não queriam ter um sistema de banco de dados nesse meio, para não depender de um sistema de certo modo, queriam só arquivos. Porém, eventualmente acabaram adicionando um sistema de banco de dados, o Postgres, para conseguir armazenar qualquer arquivo do topo que era a versão correta. Assim, acabaram adicionando um sistema de banco de dados de qualquer jeito. O que a nós da DuckDB fizemos foi revisitar essa solução. Nós já temos um sistema de banco de dados, um sistema aberto, e a dúvida que surgiu foi: “será que conseguimos eliminar todo esse monte de arquivo no meio, manter os parquets para armazenar os dados, usar um sistema de banco de dados que seja gratuito e aberto e que a maioria das pessoas tem? Será que a gente não consegue se limitar só a SQL 92 e garantir que vários sistemas possam ser utilizados, e a pessoa não fica presa ao Postgres? Daí veio a ideia do Delta Lake, que foi meio que o grande lançamento de dois meses atrás.

A abordagem era exatamente poder usar um sistema de banco de dados. Existe toda a especificação das consultas que são utilizadas. A única obrigatoriedade é que o sistema que está sendo usado tem que garantir transação ACID (atomicidade, consistência, isolamento e durabilidade), e garantir que suas transações são seguras. Mas você pode usar qualquer sistema. Como essa do Duck Lake, ela é uma especificação, mas a gente também tem uma implementação para o DuckDB, e na nossa implementação você pode usar como esse catálogo tanto o Postgres, como o MySQL, ou o SQLite, ou ainda o próprio DuckDB. A ideia é mostrar que você não está preso a nada, e que você pode usar qualquer sistema, eliminando essa grande quantidade de arquivos. Com isso você tem um ganho de performance muito alto. O resultado é que chegamos a ver ganho de performance em atualização de duas ordens de magnitude. Ou seja, se um procedimento demorasse um segundo para uma transação, ele passaria demorar 0.01. É uma diferença gritante de performance. Considero que é uma mudança de jogo comparado às outras ferramentas. A maior dificuldade, como qualquer standard que você cria, é a adoção. O Iceberg, por exemplo, já está bem definido, com vários sistemas que usam ele. O Snowflake o usa, o próprio Databricks, o Trino. O desafio é fazer esses usuários mudarem para um formato novo, criar uma cultura. E temos conquistado boa aceitação. Isso também pela vantagem que tem o sistema em reduzir o custo de pessoal para implementar. Um suporte para o Iceberg ou um Oracle, por exemplo, não é fácil de implementar. É preciso ter um time de engenheiros. No Duck Lake, você só precisa falar SQL. Ou seja, a curva de aprendizagem e de aplicação é extremamente mais curta do que qualquer outro.

Para ter uma ideia, estamos implementando a integração com o Iceberg, e temos um time hoje de quatro pessoas que está trabalhando há um ano neste projeto. A nossa implementação do Duck Lake demorou três meses, com uma pessoa. Fica evidente que a dificuldade de implementar um e outro é gritante. Eu diria que a diferença de tempo é de uma ordem de magnitude. Isso torna o Duck Lake muito atraente, ainda mais para sistemas menores, por conta do custo. O sistema já está maduro o suficiente para poder começar a implementação, porém, logo que alcançarmos a versão 1.0, e tivermos um desses grandes sistemas implementando, isso passa a dar uma garantia de que há um padrão que está sendo mais aceito. Temos uma confiança muito alta no nosso sistema, e temos um número de download ou número de estrela no GitHub com um pico gigantesco. O DuckDB hoje tem entre 20 a 30 milhões de downloads por mês. Cada download seria, basicamente, uma utilidade, de pequeno a grande porte. Se você imaginar a Tesla, o Google, o Facebook, eu sei que já usaram o sistema, assim como a Airbnb.

C3SL – Nesta trajetória toda, qual o papel do DINF, do PPGInf e das instituições de ensino públicas brasileiras?

PEDRO: Cada passo e cada etapa da minha formação foi importante e contribuiu para este processo. E certamente o mestrado no PPGInf com o professor Eduardo foi essencial. Ele me ajudou muito. Como orientador, ele me impulsionou bastante. Ele até brinca, ele chama de programar em baixaria, que é fazer programação em linguagem de baixo nível. A minha experiência antes da minha graduação tinha sido mais alto nível, o nível de programação. Então o professor Eduardo me puxou para coisas que eram mais atraentes para sistemas. Ele me puxou mais para fazer implementação que não é dentro do sistema, porque fazer isso no Brasil ainda é muito complexo. E a razão pela qual é complexo é que se você vem para um grupo aqui, se você vem fazer hoje um mestrado ou doutorado na CWI, ao seu redor estão os rapazes que implementam no sistema.

Defesa da tese de Pedro Thiago, na Centrum Wiskunde & Informatica

Por mais que o sistema esteja aberto, a tua barreira de entrada é muito baixa. E no Brasil a gente não tem essa proximidade. Mas o professor Eduardo me puxou para fazer isso, fazer a minha própria aplicação de qualquer. Ele me ajudou muito com a escrita, com a apresentação dos projetos. A pesquisa que a gente fez, que foi basicamente uma atualização de uma estrutura de dados que já existia para um tipo de problema. A gente teve um ganho de performance bom com a ideia.  E o importante foi a metodologia aplicada. Seguimos todo o processo de você ter uma hipótese, de implementar, validar, escrever o artigo e gerar as figuras. Também foi muito importante ter conseguido uma publicação internacional com o professor, que foi o que abriu a porta para eu vir para cá, em Amsterdã. Da mesma forma foi importante ter uma publicação da conferência regional a partir da graduação. Cada etapa é o que chamamos de stepping stones. Cada coisa vai te elevando um pouco além, e vai te abrindo novas oportunidades. Sem dúvida alguma, eu não estaria aqui se não fosse pela formação no Brasil, tanto na graduação como no mestrado. Todas as oportunidades são, sem dúvidas, dadas por conta da universidade.

C3SL – Que conselhos você daria hoje para estudantes brasileiros que gostariam de colaborar com o DuckDB ou projetos open source de alta complexidade?

PEDRO: Todo projeto de alta complexidade também tem problemas de baixa complexidade. O DuckDB, se você pegar a parte central dele, a parte realmente do sistema de banco de dados, é muito complexo. Se você for mexer no otimizador, fazer um novo algoritmo de junção, isso não são coisas fáceis. O DuckDB tem vários clientes. Assim, uma sugestão é contribuir para o sistema já atuando junto a um dos clientes. É uma barreira menor para você começar a entrar dentro do sistema. Agora, olhando para o Pedro do passado, se pudesse, o conselho que daria é investir muito no aprendizado do inglês. Afinal de contas, para ser apto a contribuir para esses projetos, a comunicação vai ser toda em inglês. Isso é um fato, isso não vai mudar. É preciso ser capaz de se expressar, de exprimir ideias e debater elas. Ainda mais quando você tem esse tipo de discussão online e assíncrona, como muitas vezes ocorre. Você tem que estar mais apto a conseguir realmente escrever e relatar suas ideias.

O aprendizado disso começa a ser evidente na graduação e pós, quando é necessário usar esta capacidade comunicativa nos papers. Um segundo conselho é que encontre projeto que você gosta, que te interessa, que seja gratuito, que seja open source e contribua para ele. Porque, em geral, vários projetos têm até uma própria tag de Good First Issue. Além de investir no aprendizado, há também, neste caso, uma demonstração de interesse nos projetos que pode ajudar lá na frente. Só para se ter uma ideia, nesse exato momento, estou fazendo seleção para os estagiários desse ano. Se tem alguém que já contribuiu para o DuckDB, com o que quer que seja, mesmo uma coisa pequena, já está a um passo além de quem não contribuiu. Isso pelo fato de que esta pessoa já demonstrou previamente que consegue atuar, que tem algum certo tipo de entrega de sistema, que consegue compilar, consegue executar, consegue rodar teste e modificar o código. Isso modifica muito as possibilidades. No caso do DuckDB, quem quiser contribuir, pode também aproveitar as extensões que o ele permite usar. Você consegue criar algoritmos novos, operadores novos. Acho que quase tudo hoje no sistema é extensível, fazendo uma coisa completamente externa ao DuckDB. Então, a minha dica paraquem está fazendo pesquisa em sistemas de banco de dados, especificamente, é se você estiver fazendo mestrado, na graduação também, ou doutorado, é tentar implementar uma extensão do DuckDB para aquilo que você está pesquisando.

Cooperativas podem se inscrever para o lançamento do Food Valley Paraná até 17 de outubro

Diretores e dirigentes de cooperativas de agropecuária e de crédito podem se inscrever, gratuitamente, até 17 de outubro, para o lançamento oficial do Food Valley Paraná. O evento será realizado no dia 24, em Palotina, quando a Universidade Federal do Paraná (UFPR) apresentará seu mais novo projeto, voltado à expansão da agrotecnologia, levando especialistas na área para resolverem problemas reais de automação logística, gestão computadorizada e robótica até as cooperativas.

As cooperativas que confirmarem presença no lançamento do Food Valley terão prioridade de atendimento e poderão, no dia, realizar as primeiras reuniões com a equipe técnica do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), da UFPR, que coordena o projeto. As inscrições devem ser feitas pelo Sympla ou pelo e-mail contato@c3sl.ufpr.br

O Food Valley Paraná é uma iniciativa da UFPR e conta com o apoio da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab), do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), do Sistema Ocepar, da Sicredi e da C-Vale, consolidando o Paraná como referência nacional em inovação agroindustrial.

O evento de lançamento reunirá lideranças cooperativistas, gestores públicos e pesquisadores para apresentar o ecossistema de inovação e definir oportunidades de cooperação entre universidades e o setor produtivo.

Sobre o C3SL
O Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) é um grupo de pesquisa da Universidade Federal do Paraná (UFPR) reconhecido nacional e internacionalmente pela produção de tecnologias públicas e soluções em larga escala para o Estado brasileiro. Desde 2002, o C3SL atua no desenvolvimento de sistemas de informação voltados à  inclusão digital, com ênfase em software livre, dados abertos e infraestrutura pública de tecnologia. Seus projetos atendem milhões de usuários e fizeram do C3SL uma das referências em ciência de dados aplicada a políticas públicas no país.

Evento: 1º Encontro de Lideranças e Gestores do Agro – FOOD VALLEY Paraná
Data: 24 de outubro de 2025

Local: Sicredi Palotina (Av. Presidente Kennedy, 2384 – Jardim Itália, Palotina – PR)
Realização: UFPR, C3SL, OCEPAR
Apoio: Sicredi, IDR-Paraná, Governo do Estado do Paraná, Sistema Ocepar
Promoção: RPC – De Olho no Mercado

Inscrições e informações: https://www.sympla.com.br/evento/1-encontro-de-liderancas-e-gestores-do-agro-food-valley-parana/3158296 

Pesquisadores do C3SL apresentam metodologia para integração dos dados do Censo Escolar no SBBD 2025

Estudo aprimora Plataforma de Dados Educacionais, solução do C3SL e MEC com ferramentas open source para análise interativa e acesso a indicadores da educação

Os pesquisadores do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), laboratório de inovação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), participam nesta semana 40º Simpósio Brasileiro de Banco de Dados (SBBD), em Fortaleza (CE) apresentando dados da pesquisa sobre o projeto de Plataforma de Dados Educacionais para Políticas Públicas (DEPP), desenvolvido em parceria com o Ministério da Educação (MEC). Intitulado “Utilização do Apache Superset para visualização escalável de dados educacionais públicos: um estudo de caso com o Censo Escolar”, o trabalho debate o uso da ferramenta de código aberto para superação de desafios técnicos na plataforma, facilitando a geração de indicadores educacionais úteis para gestores, pesquisadores e a sociedade civil.

O paper aprovado em um dos principais eventos da área na América Latina é assinado pelos pesquisadores de graduação do C3SL, João Pedro Ramalho, João Silveira, Thales Gabriel e Mateus Herbele, pelo pesquisador do doutorando, Josiney de Souza, e pelos professores e pesquisadores sênior do C3SL, Guilherme Derenievicz, Letícia Peres e Simone Dominico.

Para o pesquisador do C3SL, Mateus Herbele, a participação no evento completa o processo da pesquisa. “Poder apresentar nossa solução para a comunidade científica da área de banco de dados foi uma etapa importante para concluir todo o nosso processo de pesquisa e aprimoramento dentro dos nossos objetivos com a plataforma de dados educacionais. Com as novas visões que obtivemos no evento sobre o nosso próprio trabalho junto do conhecimento de outras pesquisas, temos agora novas bases para planejarmos nossos próximos passos no projeto e contornamos desafios existentes”, destaca.

A Plataforma de Dados Educacionais (DEPP), objeto do projeto apresentado, é uma solução inovadora baseada em software livre que reúne diferentes bases de dados educacionais em um ambiente analítico moderno. O objetivo da plataforma é permitir o cruzamento e análise de padrões temporais, demográficos e geográficos dos dados educacionais, permitindo diferentes níveis de desagregação e a construção de indicadores acessíveis para gestores públicos, pesquisadores e a sociedade civil.

Apesar de o Censo Escolar, disponibilizado pelo INEP, conter informações essenciais para o planejamento educacional, sua análise enfrenta obstáculos devido à alta dimensionalidade dos dados, heterogeneidade entre as edições anuais e ausência de ferramentas adequadas para exploração. Os arquivos CSV apresentam inconsistências, como mudanças na nomenclatura e estrutura de dados ao longo dos anos, demandando reparos manuais e scripts que tornam o processo trabalhoso e sujeito a erros. Além disso, soluções proprietárias para visualização costumam ser caras e inacessíveis a órgãos públicos, o que reforça a necessidade de alternativas escaláveis e abertas.

Para superar esses desafios, o estudo em desenvolvimento pela equipe de base de dados do C3SL propõe um fluxo integrado baseado em ferramentas abertas. O Apache NiFi automatiza a ingestão e padronização dos arquivos CSV, corrigindo inconsistências e consolidando os dados em um modelo relacional gerenciado pelo ClickHouse. O Apache Superset, conectado a esse banco, viabiliza a criação de dashboards interativos que permitem a exploração de padrões temporais, espaciais e demográficos por meio de filtros globais e visualizações interligadas. Exemplos incluem dashboards de matrículas por cor/raça, gênero, faixa etária e educação especial, além de dados docentes organizados por escola, usando gráficos de linha, mapas interativos e tabelas para maior clareza.

O uso do Superset mostrou alta eficiência. Além disso, a solução diminui a complexidade do trabalho manual, simplifica atualizações e adapta-se às mudanças futuras do Censo Escolar. O ambiente relacional possibilita consultas avançadas por SQL e visualizações dinâmicas, promovendo transparência e suporte à tomada de decisão.

Imprensa repercute resultados da pesquisa do NAPI Biodiversidade com o C3SL

Estudo aponta que o aquecimento global pode reduzir em até 54% a diversidade de espécies no Paraná, com o supercomputador do C3SL acelerando os cálculos da pesquisa

A pesquisa do NAPI Biodiversidade – Serviços Ecossistêmicos, desenvolvida em parceria com o Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) da UFPR, tem ganhado ampla repercussão na imprensa. O estudo aponta que o aquecimento global pode reduzir em até 54% a diversidade de espécies nativas no Paraná até 2100, incluindo árvores simbólicas como a araucária e plantas essenciais como a erva-mate. Esses impactos ameaçam a cultura, o ecossistema e a economia local. A pesquisa modelou a distribuição de cerca de 10 mil espécies e destacou regiões mais vulneráveis, como os Campos Gerais e a floresta estacional, sujeitas a elevações de temperatura de até 5,3°C.

O supercomputador do C3SL foi peça-chave, processando mais de 60 milhões de registros com tecnologia de Big Data e aprendizado de máquina, permitindo projeções robustas e detalhadas. As matérias divulgadas na imprensa ressaltam a importância do poder computacional do C3SL para acelerar análises complexas e apontar prioridades para a conservação. Pesquisadores destacam a necessidade urgente de restauração ambiental, fortalecimento das Unidades de Conservação e criação de corredores ecológicos, para amenizar os efeitos das mudanças climáticas e preservar a biodiversidade paranaense.

Confira abaixo a lista de sites:

TRIBUNA DO PARANÁ – Estudo indica possível desaparecimento de araucárias no Paraná até 2100 >> https://www.tribunapr.com.br/noticias/parana/aquecimento-global-ameaca-araucarias-parana-diz-estudo/

JORNAL BEM PARANÁ – Supercomputador da UFPR traça mapa da extinção no Paraná para este século >> https://www.bemparana.com.br/noticias/parana/supercomputador-ufpr-mapa-extincao-parana/

JORNAL JNOTÍCIAS –  Aquecimento global pode reduzir em até 54% a diversidade de espécies no Paraná >> https://jnoticias.com.br/aquecimento-global-pode-reduzir-em-ate-54-a-diversidade-de-especies-no-parana#google_vignette

JORNAL POTAL AFNEWS – Aquecimento global pode reduzir em até 54% a diversidade de espécies no PR >> https://www.portalafnews.com/noticia/6762/noticias/aquecimento-global-pode-reduzir-em-ate-54-as-especies-nativas-do-pr.html

JORNAL TNONLINE – Aquecimento global pode reduzir em até 54% a diversidade de espécies no PR >>https://tnonline.uol.com.br/noticias/parana/aquecimento-global-pode-reduzir-em-ate-54-as-especies-nativas-do-pr-1022103

RÁDIO CRUZEIRO FM – Estudo prevê perda de até 54% da biodiversidade do paraná até 2100 devido ao aquecimento global >> https://fmcruzeiro.com.br/2025/09/12/estudo-preve-perda-de-ate-54-da-biodiversidade-do-parana-ate-2100-devido-ao-aquecimento-global/

PORTAL ECONOMIA PR – Aquecimento global pode reduzir em até 54% a diversidade de espécies no PR >> https://economiapr.com.br/2025/09/11/aquecimento-global-pode-reduzir-em-ate-54-a-diversidade-de-especies-no-pr/

FOLHA AGRÍCOLA – Aquecimento global pode reduzir em até 54% a diversidade de espécies no Paraná >> https://folhaagricola.com.br/2025/09/12/aquecimento-global-pode-reduzir-em-ate-54-a-diversidade-de-especies-no-parana/

PORTAL MARINGÁ.COM – Aquecimento global pode reduzir diversidade de espécies do Paraná em até 54%>> https://noticias.maringa.com/30442/aquecimento-global-pode-reduzir-diversidade-de-especies-do-parana-em-ate-54

PORTAL TEMPO DE SAFRA – Aquecimento global pode reduzir em até 54% a diversidade de espécies no Paraná >> https://tempodesafra.com.br/aquecimento-global-pode-reduzir-em-ate-54-a-diversidade-de-especies-no-parana/

PORTAL AGRO NA MÍDIA – Paraná pode perder suas araucárias até o fim do século, alerta estudo da UFPR>> https://agronamidia.com.br/natureza/parana-pode-perder-suas-araucarias-ate-o-fim-do-seculo-alerta-estudo-da-ufpr/  

PORTAL BRASIL EM FOLHAS – Aquecimento global ameaça extinção de 54% das espécies no Paraná até 2100>> https://www1.brasilemfolhas.com.br/2025/09/aquecimento-global-ameaca-extincao-de-54-das-especies-no-parana-ate-2100/

C3SL adota Matrix como solução opensource para comunicação interna

Migração para o Element, mensageiro open source baseado no protocolo descentralizado Matrix, reforça a soberania digital e controle total sobre sistema de comunicação

O Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) acaba de dar um passo significativo na direção da soberania digital, adotando o Element, aplicativo de mensagens instantâneas de código aberto que implementa o protocolo Matrix, como sua principal ferramenta de comunicação interna. A migração representa mais do que uma simples mudança de plataforma: simboliza um compromisso renovado com os valores do software livre que norteiam as atividades do centro de pesquisa.

Para Antonio da Ressureição Filho, pesquisador de graduação do C3SL e integrante da equipe ROOT, responsável pela infraestrutura das máquinas virtuais do centro de inovação, dentre as principais motivações para a implantação está o compromisso com as tecnologias opensource e o potencial de controle do sistema. “Além de termos na comunicação entre os pesquisadores um sistema com foco em software livre, o que evidencia nossa busca por soberania digital, podemos operar e controlar a solução em nosso próprio domínio”, explicou Antonio

O aspecto de controle mencionado pelo pesquisador é fundamental, pois ao hospedar o software em infraestrutura própria, o C3SL elimina dependências de terceiros e ganha a capacidade de personalizar a plataforma conforme suas necessidades específicas.

Matrix, base empregada para o Element, é um protocolo de comunicação em tempo real de código aberto, desenvolvido em 2014 com uma proposta de alternativa descentralizada às plataformas proprietárias que dominam o mercado. Diferentemente de sistemas centralizados como WhatsApp ou Slack, onde todas as informações passam por servidores controlados por uma única empresa, o Matrix permite que cada organização hospede seus próprios servidores, mantendo controle total sobre seus dados.

Já o Element é o cliente de referência para o protocolo Matrix. A aplicação oferece todas as funcionalidades esperadas de um sistema moderno de comunicação: mensagens de texto, compartilhamento de arquivos, chamadas de voz e vídeo, além de recursos avançados como criptografia de ponta a ponta. Uma das características mais distintivas do Element é sua capacidade de integração com outras plataformas através de “bridges” (pontes), permitindo comunicação com usuários de WhatsApp, Telegram, Slack, Discord, IRC e outros sistemas. Essa interoperabilidade elimina as barreiras entre diferentes plataformas, criando um ambiente de comunicação unificado.

Supercomputador do C3SL ajuda a traçar mapa da extinção no Paraná para este século

Resultados preliminares do NAPI Biodiversidade – Serviços Ecossistêmicos  e Centro de Computação Científica e Software Livre da UFPR, revelam áreas e grupos biológicos sob maior risco e orientam prioridades para conservação

Imagine um Paraná sem pinhão na mesa das famílias. A araucária, árvore símbolo do estado e fonte do pinhão, corre risco de desaparecer totalmente do território paranaense até o final deste século. É o que aponta o estudo preliminar do NAPI Biodiversidade – Serviços Ecossistêmicos em parceria com o Centro de Computação Científica e Software Livre da UFPR. E não é só a iguaria que representa a identidade e a cultura local que está em perigo. De acordo com a pesquisa, o aquecimento global pode extinguir localmente até 54% das espécies nativas do Paraná até 2100.

Na lista de espécies em risco de extinção no território paranaense com o aumento da temperatura também está a erva-mate, que pode perder até 60% do ambiente propício para seu crescimento. Com a perda dessas espécies, desaparecem também as conexões essenciais da natureza, como a gralha-azul, ave vital para dispersar as sementes da Araucária. É um retrato sombrio de um futuro em que o sabor, o ecossistema e a memória paranaense podem se perder para sempre.

Regiões do Paraná com clima adequado para a ocorrência de araucária no presente e em cenários de mudanças climáticas mais  ‘pessimista’ para 2100.

“À medida que a temperatura aumenta, os impactos sobre a biodiversidade crescem de forma acelerada, não linear. Aumentos aparentemente pequenos, como entre 2,9°C e 3,5°C, podem representar a diferença decisiva entre a sobrevivência ou extinção local de muitas espécies”, explica Victor Zwiener, pesquisador do Departamento de Biodiversidade da UFPR em Palotina e integrante do projeto.

Segundo Zwiener, grupos biológicos como anfíbios, plantas e répteis são os mais sensíveis às mudanças, com até metade das espécies desses grupos podendo perder mais de 50% do habitat disponível no Paraná. “Em cenários pessimistas, até 15% dessas espécies correm risco de extinção local, o que representa uma perda irreparável para os ecossistemas do estado”, destaca o pesquisador.

As regiões dos Campos Gerais, e da floresta estacional, que compreende as áreas predominantemente nas bacias dos rios Paraná e Paranapanema, são apontadas como as mais vulneráveis devido ao aquecimento projetado, que pode chegar até 5,3°C no cenário mais grave. “Essas áreas já são historicamente fragilizadas pelo desmatamento e fragmentação. A alta temperatura combinada com o habitat degradado torna o ambiente inóspito para as espécies nativas”, relata Zwiener. O pesquisador ressalta que as análises consideraram apenas os efeitos climáticos, sem incluir impactos adicionais como desmatamento contínuo, o que pode agravar ainda mais a situação.

Regiões do Paraná com clima adequado para a ocorrência de gralha-azul no presente e em cenários de mudanças climáticas mais ‘pessimista’ para 2100.

O estudo, desenvolvido em parceria com os pesquisadores Marcos Carlucci, André Padial e Weverton Trindade, do Departamento de Botânica, também chama atenção para os efeitos indiretos do aquecimento sobre a economia local e o bem-estar das comunidades. Um exemplo emblemático é a erva-mate, planta fundamental para a cultura e economia do Paraná, que pode perder até 68% das áreas aptas para cultivo em cenários pessimistas. A redução de polinizadores e anfíbios pode desequilibrar o funcionamento dos ecossistemas e elevar o uso de agrotóxicos, impactando diretamente a saúde humana e ambiental das populações locais.

Na primeira fase do projeto, foram modeladas a distribuição de cerca de 76% das plantas, 95% das aves, 85% dos mamíferos, 89% dos répteis, 83% dos anfíbios e 67% dos peixes nativos do Paraná, permitindo a identificação das áreas prioritárias para conservação e restauração no estado.  “Restaurar as áreas degradadas e proteger as ainda preservadas é fundamental para a resistência da biodiversidade a curto prazo”, afirma Weverton Trindade, um dos pesquisadores do projeto. Ele ressalta a importância do fortalecimento das Unidades de Conservação e a criação de corredores ecológicos para permitir o deslocamento das espécies frente às mudanças climáticas. “A médio e longo prazo, é essencial o monitoramento contínuo e a atualização constante dos planos de manejo, alinhados às políticas públicas para combater as causas das mudanças climáticas”, conclui Weverton Trindade.

Segundo Weverton, apesar do aumento da temperatura pressionar para a redução da biodiversidade no território paranaense, as projeções da pesquisa não resultam obrigatoriamente na extinção das espécies analisadas. “Existem araucárias, por exemplo, registradas no Espírito Santo e na Bahia, o que mostra que alguns indivíduos podem suportar temperaturas mais altas, embora ainda não saibamos se conseguem reproduzir e produzir pinhões. As projeções indicam tendências e cenários possíveis. Por isso, não devemos nem nos desesperar achando que não podemos fazer nada porque está tudo perdido, nem achar que todas as espécies vão dar um jeito de se adaptar. Contudo, o estudo serve para nos alertar para os impactos das mudanças climáticas, e para nos mostrar caminhos para reduzir esses efeitos”, pondera o pesquisador.

Supercomputador da UFPR potencializa processamento de dados de pesquisa

A pesquisa, inédita em escala no estado, analisou dados de ocorrência de quase 10 mil espécies de plantas, aves, mamíferos, répteis, anfíbios e peixes para projetar a distribuição potencial dessas espécies diante dos cenários de aumento de temperatura global. Para lidar com a complexidade e volume dos dados — mais de 60 milhões de registros, o equivalente a aproximadamente 200 GB —, o supercomputador do C3SL foi essencial. Ele permitiu o processamento rápido e eficiente dos modelos que preveem as áreas mais afetadas pela crise climática.

O supercomputador do C3SL foi o “coração tecnológico” do projeto. Para cada espécie, foram testados centenas de milhares de modelos diferentes, buscando as melhores projeções para o presente e futuro. Essa capacidade vai muito além do que computadores comuns podem oferecer e acelerou a geração de conhecimento fundamental para a preservação da biodiversidade estadual.

Segundo o professor Marco Zanata, pesquisador do C3SL e docente do Departamento de Informática da UFPR, “O computador de alto desempenho do C3SL está à disposição da comunidade acadêmica para solicitação e análise de atendimento de demandas. Nossa missão é democratizar o acesso à infraestrutura de informática para agilizar o avanço das análises científicas em diferentes áreas do conhecimento”, destaca Zanata.

A infraestrutura do C3SL representa um salto qualitativo para a pesquisa científica. Com servidores de alto desempenho e hardware especializado para análises de Big Data e aprendizado de máquina, o laboratório oferece recursos que permitem o processamento de grandes volumes de dados em períodos reduzidos, o que seria impraticável em ambientes convencionais. “Esse poder computacional proporcionou à equipe a possibilidade de testar múltiplos cenários, aprimorar métodos estatísticos e gerar resultados robustos para apoiar tomadas de decisão em conservação e políticas públicas”, diz Victor Zwiener.