Pesquisa usa framework 5W2H para diagnosticar elementos de jogos, e reforça importância de práticas participativas com educadores na criação de jogos digitais
A MECRED, maior rede social da educação do Brasil, estará no Simpósio Brasileiro sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais (IHC 2025). O evento será realizado entre os dias 8 e 10 de setembro, na capital mineira. Criada pelo Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) em parceria com o Ministério da Educação, a rede é tema de artigo aprovado para apresentação no evento nacional de destaque na área Interação Humano-Computador.
O trabalho “Gamificar para engajar: Utilizando o framework 5W2H para o diagnóstico de elementos de jogos na MEC RED” tem como objetivo propor uma análise dos elementos de gamificação presentes na rede social. Os pesquisadores propõem diagnosticar e aprimorar os mecanismos que estimulam o engajamento e a permanência dos profissionais da educação na plataforma. O artigo é assinado pelos pesquisadores de graduação do C3SL, Gabriela dos Santos e Mariane Cassenote, pelo ex-bolsista do C3SL, Nicolas Rizzardi; pela pesquisadora de doutorado do C3SL, Krissia Menezes; e pelos professores do Dinf e pesquisadores sênior do C3SL, Roberto Pereira e Rachel Reis.
A MECRED é uma plataforma pioneira voltada para o compartilhamento de recursos educacionais digitais, com foco na colaboração entre professores e profissionais da educação de todas as regiões do Brasil. A rede social conta hoje com mais de 45 mil usuários e 35 mil recursos disponíveis gratuitamente, hospedados exclusivamente em datacenter próprio do C3SL na UFPR.
O estudo apresentado no IHC analisa a gamificação da MECRED — ou seja, a incorporação de elementos de jogos para melhorar a experiência do usuário e estimular maior participação. Utilizando o framework 5W2H, que considera sete dimensões essenciais para a avaliação (Quem?, O quê?, Por quê?, Quando?, Onde?, Como? e Quanto?), a pesquisa identificou 12 elementos de jogo na plataforma, como coleções, níveis, pontos, medalhas, conteúdos desbloqueáveis, status social e premiações.
Mesmo identifica de tais elementos, o diagnóstico indica que a gamificação na MECRED está concentrada em níveis básicos e intermediários (componentes e mecânicas), e que com isso ficam faltando as dinâmicas mais abstratas que engajam profundamente os usuários. A pesquisa também aponta falta de clareza nos critérios, recompensas e objetivos dos elementos dos recursos de gamificação postados na rede, bem como pouca integração entre eles. De acordo com o estudo, isso pode resultar em experiência fragmentada, o que dificulta a permanência e maior engajamento dos docentes.
As principais contribuições do estudo incluem um diagnóstico estruturado e detalhado da gamificação na MEC RED a partir do 5W2H, que aponta pontos fortes e limitações, bem como oportunidades explícitas para aprimorar a experiência do usuário. O estudo sugere a importância de um redesign que integre melhor os elementos de jogo, elevando-os para níveis mais abstratos e alinhando-os claramente aos objetivos pedagógicos e sociais da plataforma.
Os estudos investigam como a IHC pode transformar práticas educativas e sistemas públicos de saúde, ampliando a participação, o engajamento e sua eficiência
Pesquisadores de graduação e pós-graduação do Centro de Estudos sobre Sistemas Complexos (C3SL) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) estão entre os finalistas do prêmio de melhor artigo na trilha relatos de experiência do XIX Simpósio Brasileiro sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais (IHC). A ser realizado em Belo Horizonte entre os dias 8 a 10 de setembro, o IHC 2025 é o principal fórum científico da área de Interação Humano-Computador no Brasil. Na lista dos concorrentes ao prêmio estão o pesquisador do C3SL e professor do Dinf, Roberto Pereira, e os bolsistas de pós-graduação Krissia Menezes e Jonas Lopes Guerra.
Os trabalhos indicados para concorrer ao prêmio foram aprovados para apresentação no evento. A trilha relatos de experiência do IHC privilegia trabalhos que tragam narrativas detalhadas sobre práticas, projetos e vivências em IHC, contextualizados e fundamentados teoricamente.
Um dos finalistas é o artigo intitulado “Percepções e experiências sobre ensino e aprendizagem de uma disciplina de IHC com foco em práticas colaborativas”, de autoria da doutoranda em informática pelo PPGInf e pesquisadora do C3SL, Gabriela Corbari dos Santos, e da professora adjunta do Departamento de Informática (Dinf) e integrante da equipe de IHC da UFPR, Natasha Malveira Costa Valentim.
O artigo de Gabriela e Natasha apresenta um relato de experiência sobre o ensino da disciplina de IHC em 2024 nos cursos de Ciência da Computação e Informática Biomédica da UFPR. Segundo a pesquisa, o objetivo da disciplina foi capacitar alunos com noções básicas de IHC a partir de uma perspectiva socialmente consciente e orientada a projetos de software, enfatizando a prática colaborativa.
O curso foi estruturado em torno de dois trabalhos práticos (TPs): o primeiro direcionado à avaliação de usabilidade, experiência do usuário (UX) e acessibilidade do app HandTalk — que traduz português para Libras — e o segundo focado no desenvolvimento de um protótipo de aplicativo para pessoas com deficiência visual. Nessas atividades, os alunos aplicaram técnicas reconhecidas na área, como personas, cenários, análise hierárquica de tarefas (HTA), GOMS e métodos de avaliação variados, dentre eles as heurísticas de Nielsen e o percurso cognitivo.\
O relatório final do estudo, que será debatido no IHC 2025, apresenta sete lições aprendidas, entre as quais se destacam: a importância da motivação individual, o uso combinado de múltiplas técnicas de avaliação, a eficácia dos métodos de inspeção para avaliações rápidas e o valor do design socialmente consciente. No artigo, Gabriela e Natasha reforçam que o ensino de IHC deve ir além da aplicação técnica, incorporando valores sociais para formar profissionais preparados para os desafios do futuro.
Outro trabalho que também está entre os que concorrem o prêmio na trilha relatos é o intitulado “Design Socialmente Consciente na Prática: Concebendo uma Solução para o Gerenciamento de Campanhas no SUS”, de autoria do doutorando do PPGInf, Deógenes Pereira da Silva Junior; da doutoranda pelo PPGInf e pesquisadora do C3SL, Krissia Menezes; da pesquisadora e bacharel em Informática Biomédica pela UFPR, Marisa Sel Franco; mestrando em informática pelo PPGInf e pesquisador do C3SL, Jonas Lopes Guerra; e do pesquisador do C3SL e coordenador da equipe de IHC da UFPR, Roberto Pereira.
O relato de experiência abordado no trabalho é referente ao design de uma solução tecnológica para apoiar o gerenciamento de campanhas de saúde da Atenção Primária à Saúde (APS) no Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, considerando a complexidade socioeconômica, cultural e geográfica do país. A proposta buscou integrar a diversidade das necessidades das partes interessadas, em especial os Agentes Comunitários de Saúde (ACS), Agentes de Combate às Endemias (ACE) e gestores municipais, adotando o framework de Design Socialmente Consciente (DSC).\
A equipe aplicou uma combinação de métodos exploratórios, como revisão bibliográfica e netnografia em redes sociais, além de técnicas do DSC para mapear os desafios, identificar stakeholders, definir personas e cenários, e especificar requisitos para a solução. Um protótipo de média fidelidade foi desenvolvido para ilustrar a proposta, priorizando funcionalidades que atendem às necessidades da comunicação, gestão e avaliação das campanhas em contextos vulneráveis e diversificados.
Nas considerações do trabalho, os pesquisadores apontam que o DSC demonstra ser um caminho promissor para enfrentar a complexidade intrínseca de soluções que devem operar nacionalmente. A pesquisa reforça ainda que priorizar a proximidade e o engajamento dos agentes de saúde com a população, simplificar processos administrativos e garantir acessibilidade são pontos cruciais para o sucesso das campanhas. Também alerta para possíveis conflitos entre a necessidade de indicadores mensuráveis para gestores e a importância do vínculo humano entre agentes e comunidade, que nem sempre é quantificável.
Selecionados entre 71 inscritos, os novos pesquisadores atuarão em projetos estratégicos nas áreas de educação, saúde e políticas públicas, sob a orientação de professores e gestores do C3SL
O Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) realizou nesta segunda-feira (11) o primeiro encontro geral dos novos bolsistas de 2025. O encontro foi realizado no auditório do Departamento de Informática (Dinf) e reuniu os pesquisadores de graduação dos cursos de Ciência da Computação e Informática Biomédica aprovados no último edital de seleção. Participaram do encontro professores do Departamento de Informática (DINF) e pesquisadores do C3SL, como Marcos Castilho, Roberto Pereira, Eduardo Almeida, Letícia Peres, Raquel Reis, Vinicius Fulber-Garcia, Simone Dominico e Carlos Alberto Martins de Carvalho, além da gestora de projetos de pesquisa e desenvolvimento do C3SL, Ianka Antunes.
Durante a reunião, os coordenadores apresentaram a origem e o desenvolvimento de três projetos principais atuais vinculados ao C3SL. Um deles é a MECRED, maior rede social da educação do Brasil. A MECRED é uma parceria entre o C3SL e o MEC e tem papel importante na educação básica e fundamental no país. Outro projeto do C3SL é a plataforma de Dados Educacionais para Políticas Públicas (Depp), projeto dedicado à organização, análise e disponibilização de dados e indicadores da educação básica e superior em séries históricas. Dentre outras funcionalidades, a plataforma permite acesso em diferentes níveis de desagregação para apoiar a formulação de políticas públicas educacionais mais eficientes.
O terceiro projeto relatado no encontro é o APSUS, em desenvolvimento em parceria com o Ministério da Saúde. Trata-se de um sistema de informação para Atenção Primária à Saúde, (APS), que é a principal porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. Ela funciona como o primeiro contato do cidadão com o sistema de saúde. O projeto é voltado ao desenvolvimento de soluções tecnológicas para a comunicação e gestão na atenção primária à saúde, e busca melhorar a eficiência e a qualidade dos serviços de saúde pública.
Os novos bolsistas terão dedicação de 20 horas semanais e atuarão presencialmente nos laboratórios do C3SL, integrando equipes multidisciplinares compostas por professores doutores, pesquisadores de mestrado, doutorado e graduação.
Reunião no Ministério da Ciência e Tecnologia é desdobramento de projetos do C3SL, em discussão desde 2024 com o órgãos do MCTI
Com a soberania tecnológica brasileira na pauta, o reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marcos Sunye, e a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, se reuniram, em Brasília, no dia 29 de agosto, para discutir a estruturação de projetos na área. Além de apresentar as demandas da UFPR ao MCTI, Sunye deu continuidade às tratativas anteriores do ministério com o Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL).
Pelo MCTI, participaram também Daniel Almeida Filho (Desenvolvimento Tecnológico e Inovação), Davyd Souza Santos (Tecnologia Social e Economia Solidária) e Hugo Valadares Siqueira (Inovação Digital). O reitor foi acompanhado pelo superintendente da Fundação da UFPR (Funpar), Edemir Maciel, e pelos técnicos da Funpar, Líbia Naico e Jonivan Oliveira.
A criação de uma plataforma brasileira de bens digitais foi objeto da parte da conversa decorrente do C3SL, uma vez que o Centro tem mobilizado pesquisadores da área em todo o país para discutir a soberania tecnológica do Brasil. A experiência da Funpar com a gestão de projetos foi comentada brevemente, no tópico de acelerar o uso da Lei da Informática para o desenvolvimento de projetos de interesse nacional, aproveitando o know-how da fundação.
C3SL busca parceiros para desenvolver o projeto MAPSBR A reunião no MCTI foi o desdobramento de uma conversa anterior, em 2024, com o secretário nacional de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social, Inácio Arruda. Na ocasião, uma equipe técnica do Centro de Computação, com Luis de Bona, Edemir Maciel e Jonivan Oliveira apresentou a experiência do C3SL com projetos associando computação e impacto social, da distribuição nacional do Linux Educacional ao monitoramento de indicadores sociais, passando pelo atendimento na Atenção Primária de Saúde.
A ideia de mobilizar empresas para o desenvolvimento de uma ferramenta de geolocalização, a exemplo do Google Maps e do próprio GPS, surgiu naquele encontro e foi retomada agora, com a ideia de utilizar a Lei da Informática para esse fim. O MCTI se colocou à disposição para estruturar essa iniciativa, em parceria com a UFPR e com o C3SL, que depois poderá envolver outros institutos de ciência e tecnologia brasileiros.
Em entrevista ao C3SL, o ex-mestrando do PPGInf ressalta como o software livre torna o acesso a ferramentas analíticas avançadas mais simples, eficiente e disponível para pesquisadores, empresas e entusiastas ao redor do mundo
Nascido em Fortaleza, no Ceará, Pedro Thiago Timbó Holanda trilhou um caminho que o levou do DINF e do PPGInf/UFPR ao protagonismo global na comunidade de software livre. Formado em Computação pela Universidade Federal do Ceará, Pedro foi bolsista de iniciação científica desde o primeiro semestre, já com direcionamento à pesquisa em bancos de dados. “Comecei testando hipóteses, sempre em busca de novas soluções, ainda no contexto acadêmico e do software open source”, relembra.
Artigo do mestrado aprovado em evento internacional abriu portas para a criação do DuckDB, diz Pedro
Durante o mestrado na UFPR, orientado pelo professor do Dinf e pesquisador do C3SL, Eduardo Almeida, Pedro aprofundou-se no estudo de indexação adaptativa, área-chave para bancos de dados modernos e ferramentas analíticas. Sua dissertação, embasada em técnicas inovadoras como o Database Cracking, conectou sua pesquisa à linha de frente de grupos internacionais — especialmente o CWI, renomado centro holandês de pesquisa em ciências exatas.
Esse olhar inovador sobre indexação e análise de dados foi essencial na transição ao doutorado no CWI, em Amsterdã, aprofundando pesquisas em indexação progressiva. Lá, Pedro aproximou-se de comunidades de software livre e do tema que norteia sua carreira: a democratização do acesso a ferramentas analíticas eficientes.
É nesse contexto que surge sua maior contribuição: o DuckDB, banco de dados analítico de código aberto criado no CWI, do qual Pedro é cofundador do laboratório comercial, o DuckDB Labs. “A grande motivação foi aproximar a potência dos bancos de dados do universo da análise de dados no ambiente open source, tornando mais simples e acessível o processamento massivo de dados para todos”, explica.
Ao se inspirar no universo do SQLite e no apelo “SQLite for analytics”, Pedro buscou unir a simplicidade de uso e a eficiência de performance em um software livre que pudesse ser rapidamente adotado por pesquisadores, empresas e entusiastas. O DuckDB, distribuído sob licença open source, rapidamente se tornou referência mundial. O sucesso da ferramenta reflete a força da comunidade do software livre: “Quem desenvolve uma solução aberta permite avanços globais. O open source é tanto um convite quanto um compromisso de impactar o mundo”, afirma Pedro.
Pedro Thiago, o professor Eduardo Almeida e Mark Raasveldt, Co-criador do DuckDB
Durante sua carreira, Pedro também colaborou com a Microsoft, sempre defendendo a abertura do conhecimento e o impacto transformador do software livre. Essa filosofia marcou sua trajetória desde os tempos de estudante na UFPR, “onde aprendi o valor de compartilhar conhecimento e participar de comunidades acadêmicas e open source”.
Pedro Thiago Timbo Holanda, Microsoft (Data Management, Exploration and Mining) e CWI Amsterdam (Doutorando): Egresso de Mestrado sob orientação do Prof. Eduardo Almeida, atualmente é pesquisador e cofundador do DuckDB Labs em Amsterdam, uma empresa referência em pesquisa e desenvolvimento de soluções de infraestrutura e análise de grandes quantidades de dados.
C3SL – Pedro, para começar, você poderia contar um pouco sobre sua trajetória pessoal e como chegou até o desenvolvimento do DuckDB?
PEDRO – Fiz minha graduação na Universidade Federal do Ceará. Desde o meu primeiro semestre fui bolsista de iniciação científica na área de indexação de banco de dados. Então, eu passei boa parte da minha graduação já trabalhando com sistemas de banco de dados, mas no nível de pesquisa, sem implementar nada em um sistema mesmo, mas com o que a gente chama de aplicação stand-alone. Você faz basicamente o código mais simples para testar aquela sua hipótese. Quando terminei minha graduação, tive oportunidade de ou continuar trabalhando na empresa que eu estava, ou de seguir para um mestrado. E a realidade é que eu tinha meio que me apaixonado pelo sul. Eu queria ir ou para Curitiba ou para Florianópolis, dar aquele empurrão, para sair da casa dos pais, etc. Então, eu apliquei a prova para Curitiba, Florianópolis, e acho que para Porto Alegre também. E do pessoal que eu conversei, que eu me dei melhor naquela conversinha de uma hora, foi com o professor Eduardo Almeida, da UFPR. Ele também trabalhava com o que na época era meio que os grandes hypes do momento, né, que era NoSQL e Spark. Forçamento MapReduce.
Pedro Thiago e demais pesquisadores do Dinf alunos do professor Eduardo Almeida em evento científico de informática
Neste processo, fui aprovado no mestrado como orientando dele, então eu fui para Curitiba, e a gente começou trabalhando com Banco de Dados NoSQL. Ali pelo meio do mestrado a gente viu que não era uma coisa tão bacana assim, que existiam uma série de problemas dentro da utilização de Banco de Dados NoSQL que não tornava isso interessante, e foi neste ponto que mudamos completamente o tópico para voltar à indexação. Só que a partir de um tipo de indexação chamada de Database Cracking, que é uma técnica de criação de índices em que você cria os índices enquanto está executando consultas. E daí eu fiz meu mestrado nesse tópico e calhou que era um tópico que tinha sido começado pelo Grupo de Pesquisa de Amsterdã que é a CWI (Centrum Wiskunde & Informatica), que é o Centro Viscundia Informática Centro de Matemática e Informática. Quando eu terminei meu mestrado, consegui a aprovação de um paper numa conferência internacional, e foi a partir desta oportunidade que aproveitei para me inscrever em uma vaga de doutorado aqui em Amsterdã. Foi justamente por conta de ter tido esse paper do mestrado e de ter tido alguma visibilidade já e ter feito o mestrado no em um tema central na pesquisa da instituição aqui que consegui a vaga no doutorado. Nisso, vim para cá e dei continuidade na minha pesquisa sobre índice. Em 2019 o Mark Raasveldt, que por sinal era o meu colega de quarto no doutorado, começou a implementar o DUNKDB como um projeto acadêmico.
Os projetos que a gente tem na CWI é um pouco diferente de como ocorre no Brasil. Enquanto o financiamento da pesquisa no Brasil é quase na sua totalidade originária de entes públicos, aqui na Europa é usual termos a grande maioria vindo de financiamentos de iniciativa privada ou público-privados. No meu caso, o projeto era com a fabricante de automóveis Honda. Eles pagavam metade do meu doutorado e o governo holandês pagava outra metade. No caso do Mark, a empresa financiadora era a Tata Steel, empresa global do setor siderúrgico, também neste mesmo modelo de custeio com o governo. Com este modelo, éramos levados a atuar em alguns dos problemas que essas empresas tinham. Além disso, tanto o meu projeto como o do Mark eram projetos que eram mais de ciência de dados, apesar de estarmos vinculado a um grupo com foco de estudo em sistema de banco de dados e desenvolvimento de sistema. Neste momento começamos a perceber que o pessoal tinha meio que aversão a sistemas de banco de dados, o que gerou essa curiosidade nossa. Oras, estamos no campo da informática há 50 anos desenvolvendo pesquisas, tentando fazer as coisas mais rápidas e além da memória, usar todo o processamento do computador. Porém, poucos se interessam por tais soluções, e acabam usando ferramentas que são consideravas inferiores nesse sentido de performance técnico. Neste ponto, começamos a perceber que a grande motivação era que os sistemas de banco de dados eram muito complexos.
Então, se você pegava uma pessoa para fazer uma análise de dados, eles preferiam ir para um “Pandas da vida”, que é uma ferramenta mais simples. Isso porque em uma linha de comando você já está conseguindo analisar seus dados. Agora, se você fosse usar um SQL Server, um ADB, era preciso instalar o seu servidor, descobrir como é que faz a conexão do cliente, fazer criação de esquema etc. Você perde um dia para começar a ler o seu primeiro arquivo. O teu custo de interação com a ferramenta era muito grande com sistemas. É desta reflexão que gerado o DuckDB. Será que a gente consegue fazer um sistema para análise de dados que seja tão fácil de usar quanto o Pandas, mas que tenha toda essa bagagem de coisas que a gente tem feito em pesquisa? Nos últimos anos, esse é o problema que o DuckDB surge para poder resolver no universo do banco de dados.
C3SL: O slogan “SQLite for analytics” resume bem a proposta do DuckDB. Como essa analogia ajuda a compreender o projeto? E quais foram os momentos-chave que levaram à criação ou sua entrada no time do DuckDB?
PEDRO: O slogan “SQLite for Data Analytics” que encampamos e a razão desse slogan é porque a gente queria ser na verdade o mesmo que o Pandas era, mas a gente também queria que as pessoas do mundo de banco de dados entendessem a proposta, e o SQLite era o mais próximo, sendo um sistema que não demanda instalação. Contudo, o SQLite é feito para o que a gente chama de cargas transacionais, que é quando você tem muitas atualizações. Seria algo como “o Pedro mudou de endereço”, o que é considerado uma atualização, e nisso o SQLite é muito bom em fazer. Mas se você tiver um tipo de consulta, como “quero saber o que é que as pessoas entre 20 e 30 anos que moram em Curitiba compram mais”, isso é uma carga analítica que demanda uma quantidade muito grande de seus dados. Então, são sistemas com propósitos diferentes. Mas a ideia é que nossa proposta à época era ser o que o SQLite é para essas atualizações, só que para essas cargas analíticas. Em 2019 começou o desenvolvimento do DuckDB.
Apenas para destacar um “fun fact”, na época o Mark estava no Brasil, especificamente em Curitiba. Então o início do DuckDB foi desenvolvido, por coincidência, na UFPR. Claro, não tendo uma relação direta com algum projeto da universidade. O Mark estava em Curitiba, e daí eu conversei com o professor Eduardo para ver se a gente conseguia uma sala para ficar usando naquela época. Isso já era no doutorado, em 2019. Por coincidência, o comecinho aconteceu fisicamente na UFPR. Foi neste ano que comecei a implementação do sistema, com uma carga bem acadêmica, sem também grandes deslumbres ou ainda um sistema de uso real. As coisas começam a mudar um pouco ali por 2021 e 2022. É neste momento temos um insight, e começamos a perceber que existe um interesse comercial na ferramenta. Já existiam empresas que estavam utilizando a ferramenta. E em 2021 é quando criamos a DuckDB Labs, que é a empresa que presta serviço em cima do DuckDB. É ela que opera em serviço o DuckDB, que é uma ferramenta de código aberto completamente gratuita. Na verdade, não tem nada que a gente faz dentro da DuckDB Labs que não seja aberto e gratuito.
Defesa de mestrado no PPGInf da UFPR
Para se ter uma ideia, a propriedade intelectual da ferramenta não é nem da DuckDB Labs, mas sim de uma fundação. Com isso, se algo ocorre com a empresa amanhã, a propriedade intelectual e o código continuam protegido. E uma pergunta muito comum é como mantemos a empresa se a ferramenta é aberta. O modelo de negócio é baseado em desenvolver projetos com a ferramenta aberta. A gente pode ter um projeto com outra empresa grande, como a Google. Eles utilizavam a DuckDB internamente dentro de um ou outro projeto deles, e precisavam que uma determinada carga de trabalho de junção bem específica fosse implementada para poder acelerar o processo deles. Neste caso, fechamos um contrato com a DuckDB Labs, um dos engenheiros vai e trabalha com eles pelo período que seja necessário para implementar. O business é esse desde o começo. A ferramenta foi toda desenvolvida com recurso público, e a ideia foi dar o retorno aos contribuintes deixando-a aberta, para que todos possam usar. O modelo de negócio envolve em aplicá-la em projetos.
C3SL: Hoje, como é a estrutura dos clientes e seus desafios em nível de complexidade de demandas?
PEDRO: Os projetos são bem diferentes, e a complexidade depende muito da necessidade dos clientes. Desta forma, é muito variada a complexidade. Temos alguns projetos que pedem para fazer melhorias no Iceberg, em outros, há pedidos para aprimoramentos dos da base dos clientes. O DuckDB é uma ferramenta que pode comunicar por diversas linguagens, como C++, Java, Go. Cada um desses é um cliente diferente, e cada um desses é desenvolvido à parte. Por exemplo, o nosso cliente que eu diria que é o mais forte é o Python. Por outro lado, tem uma outra empresa que está mais interessada no cliente Go que a gente tinha desenvolvido há um tempo, mas que só estava com a base. Agora estão pagando pelo desenvolvimento completo. A complexidade de você desenvolver um cliente e de desenvolver uma integração com o Iceberg são diferentes. No fim das contas, o projeto é mais sobre o tempo gasto daquilo, do que realmente complexidade.
C3SL: A DuckDB fez uma implementação de suporte ao Delta Lake. O que motivou essa decisão e o que ela representa para os usuários e para o cenário do código aberto?
PEDRO: Se você é um usuário da Oracle, tem os seus arquivos salvos na Oracle. Caso queira migrar para um outro sistema, é uma grande dificuldade. No fim, você fica preso. Ou você aceita pagar o que eles quiserem te cobrar, ou você vai ter um custo caro para fazer uma migração. Além disso, migrações são complexas, pois há a necessidade de garantir que seus dados estão corretos no processo. A ideia do Delta Lake é que, em vez de ter um armazenamento de um sistema proprietário, você faria tudo com arquivos que são públicos. No caso, você usaria arquivos parquet que qualquer sistema pode ler ou escrever, e você usaria os outros arquivos JSON e AVRO, que também são arquivos formados públicos, que qualquer sistema pode teoricamente implementar um leitor e uma escrita, porque o formato é aberto. Então, a ideia do Data Lake era basicamente isso.
Em vez de um armazenamento privado, usar esses arquivos de armazenamento público para armazenar os dados. Se o fulano que tem os dados dele usou o Oracle para escrever os dados dele usando o Iceberg, que é basicamente uma coleção de parquet, JSON e AVRO, quiser usar um outro sistema para ler, não tem migração nenhuma. Se os dois sistemas sabem ler, o custo de migração é zero, porque os dados estão em um arquivo aberto, de formato aberto. Por qual motivo a gente decidiu criar um sistema? Basicamente você tinha três formatos: o Hoodie, o Iceberg e o Delta Lake que é do Databricks. São muito similares, sendo uma coleção de arquivos parquet, com uma linha de arquivos JSON, com outra linha de arquivos json e com um arquivo AVRO. Em cada alteração ou leitura, você tem que ir por todos esses arquivos, até chegar aonde os seus dados estão armazenados nesse parquet, e após isso trazer os dados de novo para o cliente. Quando você tem a atualização, é preciso criar novos arquivos. Isso vai aumentando essa estrutura, o que faz com que ela se consolide como uma estrutura muito complexa. A grande razão a que foi criada essa estrutura é porque eles não queriam ter um sistema de banco de dados nesse meio, para não depender de um sistema de certo modo, queriam só arquivos. Porém, eventualmente acabaram adicionando um sistema de banco de dados, o Postgres, para conseguir armazenar qualquer arquivo do topo que era a versão correta. Assim, acabaram adicionando um sistema de banco de dados de qualquer jeito. O que a nós da DuckDB fizemos foi revisitar essa solução. Nós já temos um sistema de banco de dados, um sistema aberto, e a dúvida que surgiu foi: “será que conseguimos eliminar todo esse monte de arquivo no meio, manter os parquets para armazenar os dados, usar um sistema de banco de dados que seja gratuito e aberto e que a maioria das pessoas tem? Será que a gente não consegue se limitar só a SQL 92 e garantir que vários sistemas possam ser utilizados, e a pessoa não fica presa ao Postgres? Daí veio a ideia do Delta Lake, que foi meio que o grande lançamento de dois meses atrás.
A abordagem era exatamente poder usar um sistema de banco de dados. Existe toda a especificação das consultas que são utilizadas. A única obrigatoriedade é que o sistema que está sendo usado tem que garantir transação ACID (atomicidade, consistência, isolamento e durabilidade), e garantir que suas transações são seguras. Mas você pode usar qualquer sistema. Como essa do Duck Lake, ela é uma especificação, mas a gente também tem uma implementação para o DuckDB, e na nossa implementação você pode usar como esse catálogo tanto o Postgres, como o MySQL, ou o SQLite, ou ainda o próprio DuckDB. A ideia é mostrar que você não está preso a nada, e que você pode usar qualquer sistema, eliminando essa grande quantidade de arquivos. Com isso você tem um ganho de performance muito alto. O resultado é que chegamos a ver ganho de performance em atualização de duas ordens de magnitude. Ou seja, se um procedimento demorasse um segundo para uma transação, ele passaria demorar 0.01. É uma diferença gritante de performance. Considero que é uma mudança de jogo comparado às outras ferramentas. A maior dificuldade, como qualquer standard que você cria, é a adoção. O Iceberg, por exemplo, já está bem definido, com vários sistemas que usam ele. O Snowflake o usa, o próprio Databricks, o Trino. O desafio é fazer esses usuários mudarem para um formato novo, criar uma cultura. E temos conquistado boa aceitação. Isso também pela vantagem que tem o sistema em reduzir o custo de pessoal para implementar. Um suporte para o Iceberg ou um Oracle, por exemplo, não é fácil de implementar. É preciso ter um time de engenheiros. No Duck Lake, você só precisa falar SQL. Ou seja, a curva de aprendizagem e de aplicação é extremamente mais curta do que qualquer outro.
Para ter uma ideia, estamos implementando a integração com o Iceberg, e temos um time hoje de quatro pessoas que está trabalhando há um ano neste projeto. A nossa implementação do Duck Lake demorou três meses, com uma pessoa. Fica evidente que a dificuldade de implementar um e outro é gritante. Eu diria que a diferença de tempo é de uma ordem de magnitude. Isso torna o Duck Lake muito atraente, ainda mais para sistemas menores, por conta do custo. O sistema já está maduro o suficiente para poder começar a implementação, porém, logo que alcançarmos a versão 1.0, e tivermos um desses grandes sistemas implementando, isso passa a dar uma garantia de que há um padrão que está sendo mais aceito. Temos uma confiança muito alta no nosso sistema, e temos um número de download ou número de estrela no GitHub com um pico gigantesco. O DuckDB hoje tem entre 20 a 30 milhões de downloads por mês. Cada download seria, basicamente, uma utilidade, de pequeno a grande porte. Se você imaginar a Tesla, o Google, o Facebook, eu sei que já usaram o sistema, assim como a Airbnb.
C3SL – Nesta trajetória toda, qual o papel do DINF, do PPGInf e das instituições de ensino públicas brasileiras?
PEDRO: Cada passo e cada etapa da minha formação foi importante e contribuiu para este processo. E certamente o mestrado no PPGInf com o professor Eduardo foi essencial. Ele me ajudou muito. Como orientador, ele me impulsionou bastante. Ele até brinca, ele chama de programar em baixaria, que é fazer programação em linguagem de baixo nível. A minha experiência antes da minha graduação tinha sido mais alto nível, o nível de programação. Então o professor Eduardo me puxou para coisas que eram mais atraentes para sistemas. Ele me puxou mais para fazer implementação que não é dentro do sistema, porque fazer isso no Brasil ainda é muito complexo. E a razão pela qual é complexo é que se você vem para um grupo aqui, se você vem fazer hoje um mestrado ou doutorado na CWI, ao seu redor estão os rapazes que implementam no sistema.
Defesa da tese de Pedro Thiago, na Centrum Wiskunde & Informatica
Por mais que o sistema esteja aberto, a tua barreira de entrada é muito baixa. E no Brasil a gente não tem essa proximidade. Mas o professor Eduardo me puxou para fazer isso, fazer a minha própria aplicação de qualquer. Ele me ajudou muito com a escrita, com a apresentação dos projetos. A pesquisa que a gente fez, que foi basicamente uma atualização de uma estrutura de dados que já existia para um tipo de problema. A gente teve um ganho de performance bom com a ideia. E o importante foi a metodologia aplicada. Seguimos todo o processo de você ter uma hipótese, de implementar, validar, escrever o artigo e gerar as figuras. Também foi muito importante ter conseguido uma publicação internacional com o professor, que foi o que abriu a porta para eu vir para cá, em Amsterdã. Da mesma forma foi importante ter uma publicação da conferência regional a partir da graduação. Cada etapa é o que chamamos de stepping stones. Cada coisa vai te elevando um pouco além, e vai te abrindo novas oportunidades. Sem dúvida alguma, eu não estaria aqui se não fosse pela formação no Brasil, tanto na graduação como no mestrado. Todas as oportunidades são, sem dúvidas, dadas por conta da universidade.
C3SL – Que conselhos você daria hoje para estudantes brasileiros que gostariam de colaborar com o DuckDB ou projetos open source de alta complexidade?
PEDRO: Todo projeto de alta complexidade também tem problemas de baixa complexidade. O DuckDB, se você pegar a parte central dele, a parte realmente do sistema de banco de dados, é muito complexo. Se você for mexer no otimizador, fazer um novo algoritmo de junção, isso não são coisas fáceis. O DuckDB tem vários clientes. Assim, uma sugestão é contribuir para o sistema já atuando junto a um dos clientes. É uma barreira menor para você começar a entrar dentro do sistema. Agora, olhando para o Pedro do passado, se pudesse, o conselho que daria é investir muito no aprendizado do inglês. Afinal de contas, para ser apto a contribuir para esses projetos, a comunicação vai ser toda em inglês. Isso é um fato, isso não vai mudar. É preciso ser capaz de se expressar, de exprimir ideias e debater elas. Ainda mais quando você tem esse tipo de discussão online e assíncrona, como muitas vezes ocorre. Você tem que estar mais apto a conseguir realmente escrever e relatar suas ideias.
O aprendizado disso começa a ser evidente na graduação e pós, quando é necessário usar esta capacidade comunicativa nos papers. Um segundo conselho é que encontre projeto que você gosta, que te interessa, que seja gratuito, que seja open source e contribua para ele. Porque, em geral, vários projetos têm até uma própria tag de Good First Issue. Além de investir no aprendizado, há também, neste caso, uma demonstração de interesse nos projetos que pode ajudar lá na frente. Só para se ter uma ideia, nesse exato momento, estou fazendo seleção para os estagiários desse ano. Se tem alguém que já contribuiu para o DuckDB, com o que quer que seja, mesmo uma coisa pequena, já está a um passo além de quem não contribuiu. Isso pelo fato de que esta pessoa já demonstrou previamente que consegue atuar, que tem algum certo tipo de entrega de sistema, que consegue compilar, consegue executar, consegue rodar teste e modificar o código. Isso modifica muito as possibilidades. No caso do DuckDB, quem quiser contribuir, pode também aproveitar as extensões que o ele permite usar. Você consegue criar algoritmos novos, operadores novos. Acho que quase tudo hoje no sistema é extensível, fazendo uma coisa completamente externa ao DuckDB. Então, a minha dica paraquem está fazendo pesquisa em sistemas de banco de dados, especificamente, é se você estiver fazendo mestrado, na graduação também, ou doutorado, é tentar implementar uma extensão do DuckDB para aquilo que você está pesquisando.
Pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que atuam em áreas com alta demanda computacional podem contar com o apoio técnico do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), vinculado ao Departamento de Informática. O objetivo da iniciativa é fortalecer projetos científicos por meio de recursos tecnológicos avançados, capazes de aprimorar metodologias, aumentar a eficiência de experimentos e acelerar a produção de resultados.
As parcerias são voltadas a grupos que desenvolvem pesquisas com foco em simulações científicas, modelagem matemática, análise de grandes volumes de dados ou uso intensivo de algoritmos. Também podem ser contemplados projetos que envolvam a automação de fluxos experimentais, otimização de rotinas computacionais ou desenvolvimento de ferramentas específicas.
Segundo o coordenador do C3SL, professor Marcos Castilho, “a expectativa é ampliar a interação entre o C3SL e outras unidades da UFPR, fortalecendo a pesquisa interdisciplinar e o papel da universidade na produção de conhecimento de ponta”. E complementa: “ao longo de 20 anos de trabalho, o C3SL constituiu um parque tecnológico relevante, com um computador de alto desempenho e infraestrutura capaz de executar com qualidade diversos projetos simultaneamente”.
Os pesquisadores interessados terão acesso à infraestrutura do C3SL, que inclui clusters de alto desempenho, consultoria técnica e suporte para aperfeiçoamento de códigos de programação e integração com ambientes computacionais avançados. As propostas devem ser enviadas para o e-mail contato@c3sl.ufpr.br e serão avaliadas pela gerente de projetos do centro.
Texto alerta para riscos econômicos e institucionais da hegemonia das big techs, e aponta que país gastou mais de R$ 10 bilhões em software e infraestrutura das empresas estrangeiras
O Brasil permanece vulnerável diante da dependência crescente de tecnologias estrangeiras, alerta o pesquisador Ergon Cugler de Moraes Silva, do Laboratório de Estudos sobre Desordem Informacional e Políticas Públicas (DesinfoPop/FGV), em artigo publicado no Le Monde Diplomatique Brasil. A análise, publicada nesta terça-feira (22), ganha relevância após recentes episódios em que o governo brasileiro foi alvo de pressões oriundas do cenário global, intensificadas por políticas unilaterais de Donald Trump e pelo domínio das big techs norte-americanas sobre o setor de nuvem e processamento de dados públicos.
Segundo o texto, de 2024 a 2025, o Brasil gastou mais de R$ 10 bilhões em software e infraestrutura fornecidos por empresas como Google, Microsoft, Oracle e Amazon – recursos que poderiam fortalecer centros nacionais de pesquisa, criar infraestrutura própria ou gerar políticas de fomento à inovação. Tal dependência, argumenta Silva, deixa o país exposto a ameaças econômicas, políticas e à possibilidade de vazamento de informações sensíveis.
Apesar do cenário ainda predominantemente desfavorável, o artigo apresenta caminhos viáveis para a construção de soberania digital. E, neste ponto, destaca o Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), vinculado à Universidade Federal do Paraná (UFPR). Com mais de vinte anos de trajetória, o C3SL é apontado como referência em desenvolvimento de soluções de software livre e ciência de dados, contando com equipe altamente qualificada e infraestrutura própria. O caso do C3SL evidencia que o Brasil reúne competência técnica para criar e manter alternativas eficientes e seguras, faltando, na visão do pesquisador, apenas vontade política e investimentos planejados de médio e longo prazo.
“Temos universidades com excelência reconhecida internacionalmente. Temos redes de pesquisadores altamente qualificados. Temos experiência acumulada em governo digital, em dados abertos, em participação cidadã. Temos o Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que é um exemplo real e que há mais de 20 anos desenvolve soluções robustas em software livre e ciência de dados com infraestrutura própria e equipe altamente qualificada. Vimos inclusive, com o estudo que publicamos, que temos também dinheiro para investir em tecnologia. O que falta não é competência técnica. É decisão estratégica. É vontade política de transformar essa competência em infraestrutura, essa infraestrutura em soberania e essa soberania em proteção institucional”, aponta Ergon no artigo.
Leia a íntegra do artigo em https://diplomatique.org.br/a-chantagem-de-trump-evidencia-que-precisamos-de-soberania-digital/
Ferramenta gratuita do MEC apoia planejamento pedagógico com planos de aula e recursos compartilhados por docentes de todo o país
De olho no retorno às aulas para o segundo semestre letivo de 2025, um projeto da Universidade Federal do Paraná (UFPR) divulgou sete vídeos demonstrando como professores e pedagogos no Brasil podem utilizar a rede social MECRED para compartilhar planos de aula e material didático. Conhecida como “a rede social da educação pública”, a plataforma é mantida pelo Ministério da Educação (MEC) para compartilhamento de Recursos Educacionais Digitais (RED).
Desenvolvida pelo Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), vinculado ao Departamento de Informática da UFPR, a rede social MECRED possui 44 mil usuários, que já compartilharam 320 mil recursos educacionais na plataforma, que podem ser acessados gratuitamente de qualquer lugar do Brasil. Os vídeos explicam, de forma simples e acessível, como utilizar os principais recursos da rede: desde a criação de conta até o compartilhamento de planos de aula, passando pela navegação, edição de perfil e organização de materiais didáticos.
Os vídeos podem ser acessados na própria MECRED, no perfil oficial da rede social, ou no canal Informática UFPR no YouTube, mantido pelo C3SL. Neles, os educadores que ainda não ingressaram na rede conhecerão os objetivos da MECRED, como criar uma conta nova, como editar o perfil de professor, fazer o download de recursos pedagógicos, navegar e interagir com outros docentes, além de aprender como compartilhar recursos e criar coleções.
A expectativa é que os vídeos facilitem o uso da ferramenta e ampliem a cultura de colaboração docente em rede. Desde o lançamento da MECRED, em novembro de 2017, os dados estão hospedados no datacenter do C3SL, no Centro Politécnico da UFPR. Em um esforço conjunto de 40 pesquisadores associados ao Centro de Computação, a plataforma recebeu um upgrade de usabilidade, acessibilidade e protocolos de segurança em 2024.
Com recorde de inscrições, o laboratório de inovação da UFPR acolhe novos pesquisadores para atuarem em projetos estratégicos nas áreas de saúde e educação
O Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) promoveu, entre os dias 30 de junho e 4 de julho, a tradicional semana de integração e capacitação para os novos bolsistas. A atividade de boas-vindas reuniu 21 estudantes selecionados em um processo seletivo com recorde de 93 inscritos, provenientes dos cursos de Ciência da Computação e Informática Biomédica da UFPR.
Sob coordenação do gerente de projetos do C3SL e mestrando do PPGInf, Richard Heise, as capacitações ofereceram aos novos pesquisadores uma imersão nas dinâmicas de pesquisa, organização dos projetos e na metodologia de desenvolvimento de inovações adotada pelo laboratório. A iniciativa visa preparar os bolsistas para atuarem em equipes multidisciplinares, integrando professores doutores e demais pesquisadores. A semana de integração contou com programação abrangente, desde a apresentação da instituição e seu ambiente computacional até temas essenciais como redes, serviços, controle de versão com Git local e remoto, além de introdução ao Docker, bancos de dados e o funcionamento da web.
Atualmente, o C3SL conta com pesquisadores professores doutores do Departamento de Informática (Dinf) da UFPR, e pesquisadores bolsistas de graduação, mestrado e doutorado, trabalhando em três grandes projetos em andamento: o desenvolvimento de Sistemas de Informação para a Atenção Primária à Saúde (APS) em parceria com o Ministério da Saúde; o Laboratório de Dados Educacionais; e a plataforma de Recursos Educacionais Digitais do Ministério da Educação (MEC).
Cada bolsista é alocado em equipes específicas conforme seu perfil, habilidades e preferências indicadas durante a entrevista seletiva. Com uma dedicação semanal de 20 horas presenciais nas dependências do Dinf, os novos integrantes terão a oportunidade de contribuir diretamente para projetos que impactam áreas essenciais como saúde e educação no Brasil.
Estudo revela que mais de R$ 23 bilhões anuais são destinados a plataformas estrangeiras, reforçando a importância de investimento em soluções em software livre, para garantir soluções tecnológicas sustentável no país
O Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), da Universidade Federal do Paraná, figura como um dos principais protagonistas no estudo inédito que revelou o custo da dependência tecnológica do Brasil diante das Big Techs: mais de R$ 23 bilhões anuais investidos em plataformas e serviços estrangeiros. O estudo reforça que fortalecer centros como o C3SL, referência internacional em soluções abertas, maior espelho de software livre do hemisfério sul e um dos principais laboratórios de inovação do país, é fundamental para reduzir a vulnerabilidade do Brasil frente às Big Techs e garantir soberania digital, inovação e desenvolvimento social sustentáveis.
Pela primeira vez, um estudo quantificou o tamanho da dependência tecnológica do Brasil diante das gigantes globais de tecnologia, as chamadas Big Techs. O trabalho analisou contratos públicos de tecnologia da informação e comunicação (TIC) firmados entre 2014 e 2025. Os resultados expõem o volume bilionário de recursos destinados a empresas como Microsoft, Google, Oracle e Red Hat, além de apontar riscos à soberania digital do país. O montante apontado no trabalho representa o quanto o país investe em serviços, plataformas e infraestruturas digitais controladas por empresas estrangeiras, evidenciando a fragilidade nacional diante desse cenário.
De acordo com o levantamento, publicado pelo Grupo de Estudos em Tecnologias e Inovações na Gestão Pública (GETIP/EACH/USP), vinculado ao Observatório Interdisciplinar de Políticas Públicas “Prof. Dr. José Renato de Campos Araújo” (OIPP/EACH/USP), a evolução dos gastos ao longo dos anos aponta uma aceleração significativa a partir de 2023, especialmente em soluções de nuvem e segurança digital. Somente entre 2023 e junho de 2025, foram contratados R$ 5,97 bilhões em licenças de software, R$ 9 bilhões em soluções de computação em nuvem e R$ 1,91 bilhão em softwares e serviços de segurança.
O estudo alerta para os riscos dessa dependência, que vão desde a vulnerabilidade dos dados nacionais até a perda de autonomia sobre decisões estratégicas em áreas como economia, saúde, educação e segurança. Especialistas defendem que a soberania tecnológica é pré-requisito para a soberania econômica, e que o desenvolvimento de soluções nacionais é fundamental para o futuro do país.
O documento que aponta dados sobre as big techs é assinado pelo mestre em administração pública pela FGV e analista de dados e pesquisa da More in Common Ergon Cugler de Moraes Silva; pela doutoranda em Ciência Política pelo IPOL UnB e presidente do Fórum para Tecnologia Estratégica dos BRICS+ Isabela Rocha; pelo doutor em Sistemas de Informação (EAESP-FGV) e professor dos cursos de Graduação e Pós-Graduação em Gestão de Políticas Públicas da EACH-USP José Carlos Vaz; pela mestranda em Administração Pública e Governo pela FGV Julia Ribeiro de Almeida Veneziani; e Diretora de Projetos Estratégicos do BRICS+ Camila de Camargo Modanez.