Texto alerta para riscos econômicos e institucionais da hegemonia das big techs, e aponta que país gastou mais de R$ 10 bilhões em software e infraestrutura das empresas estrangeiras
O Brasil permanece vulnerável diante da dependência crescente de tecnologias estrangeiras, alerta o pesquisador Ergon Cugler de Moraes Silva, do Laboratório de Estudos sobre Desordem Informacional e Políticas Públicas (DesinfoPop/FGV), em artigo publicado no Le Monde Diplomatique Brasil. A análise, publicada nesta terça-feira (22), ganha relevância após recentes episódios em que o governo brasileiro foi alvo de pressões oriundas do cenário global, intensificadas por políticas unilaterais de Donald Trump e pelo domínio das big techs norte-americanas sobre o setor de nuvem e processamento de dados públicos.
Segundo o texto, de 2024 a 2025, o Brasil gastou mais de R$ 10 bilhões em software e infraestrutura fornecidos por empresas como Google, Microsoft, Oracle e Amazon – recursos que poderiam fortalecer centros nacionais de pesquisa, criar infraestrutura própria ou gerar políticas de fomento à inovação. Tal dependência, argumenta Silva, deixa o país exposto a ameaças econômicas, políticas e à possibilidade de vazamento de informações sensíveis.
Apesar do cenário ainda predominantemente desfavorável, o artigo apresenta caminhos viáveis para a construção de soberania digital. E, neste ponto, destaca o Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), vinculado à Universidade Federal do Paraná (UFPR). Com mais de vinte anos de trajetória, o C3SL é apontado como referência em desenvolvimento de soluções de software livre e ciência de dados, contando com equipe altamente qualificada e infraestrutura própria. O caso do C3SL evidencia que o Brasil reúne competência técnica para criar e manter alternativas eficientes e seguras, faltando, na visão do pesquisador, apenas vontade política e investimentos planejados de médio e longo prazo.
“Temos universidades com excelência reconhecida internacionalmente. Temos redes de pesquisadores altamente qualificados. Temos experiência acumulada em governo digital, em dados abertos, em participação cidadã. Temos o Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que é um exemplo real e que há mais de 20 anos desenvolve soluções robustas em software livre e ciência de dados com infraestrutura própria e equipe altamente qualificada. Vimos inclusive, com o estudo que publicamos, que temos também dinheiro para investir em tecnologia. O que falta não é competência técnica. É decisão estratégica. É vontade política de transformar essa competência em infraestrutura, essa infraestrutura em soberania e essa soberania em proteção institucional”, aponta Ergon no artigo.
Leia a íntegra do artigo em https://diplomatique.org.br/a-chantagem-de-trump-evidencia-que-precisamos-de-soberania-digital/
Ferramenta gratuita do MEC apoia planejamento pedagógico com planos de aula e recursos compartilhados por docentes de todo o país
De olho no retorno às aulas para o segundo semestre letivo de 2025, um projeto da Universidade Federal do Paraná (UFPR) divulgou sete vídeos demonstrando como professores e pedagogos no Brasil podem utilizar a rede social MECRED para compartilhar planos de aula e material didático. Conhecida como “a rede social da educação pública”, a plataforma é mantida pelo Ministério da Educação (MEC) para compartilhamento de Recursos Educacionais Digitais (RED).
Desenvolvida pelo Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), vinculado ao Departamento de Informática da UFPR, a rede social MECRED possui 44 mil usuários, que já compartilharam 320 mil recursos educacionais na plataforma, que podem ser acessados gratuitamente de qualquer lugar do Brasil. Os vídeos explicam, de forma simples e acessível, como utilizar os principais recursos da rede: desde a criação de conta até o compartilhamento de planos de aula, passando pela navegação, edição de perfil e organização de materiais didáticos.
Os vídeos podem ser acessados na própria MECRED, no perfil oficial da rede social, ou no canal Informática UFPR no YouTube, mantido pelo C3SL. Neles, os educadores que ainda não ingressaram na rede conhecerão os objetivos da MECRED, como criar uma conta nova, como editar o perfil de professor, fazer o download de recursos pedagógicos, navegar e interagir com outros docentes, além de aprender como compartilhar recursos e criar coleções.
A expectativa é que os vídeos facilitem o uso da ferramenta e ampliem a cultura de colaboração docente em rede. Desde o lançamento da MECRED, em novembro de 2017, os dados estão hospedados no datacenter do C3SL, no Centro Politécnico da UFPR. Em um esforço conjunto de 40 pesquisadores associados ao Centro de Computação, a plataforma recebeu um upgrade de usabilidade, acessibilidade e protocolos de segurança em 2024.
Com recorde de inscrições, o laboratório de inovação da UFPR acolhe novos pesquisadores para atuarem em projetos estratégicos nas áreas de saúde e educação
O Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) promoveu, entre os dias 30 de junho e 4 de julho, a tradicional semana de integração e capacitação para os novos bolsistas. A atividade de boas-vindas reuniu 21 estudantes selecionados em um processo seletivo com recorde de 93 inscritos, provenientes dos cursos de Ciência da Computação e Informática Biomédica da UFPR.
Sob coordenação do gerente de projetos do C3SL e mestrando do PPGInf, Richard Heise, as capacitações ofereceram aos novos pesquisadores uma imersão nas dinâmicas de pesquisa, organização dos projetos e na metodologia de desenvolvimento de inovações adotada pelo laboratório. A iniciativa visa preparar os bolsistas para atuarem em equipes multidisciplinares, integrando professores doutores e demais pesquisadores. A semana de integração contou com programação abrangente, desde a apresentação da instituição e seu ambiente computacional até temas essenciais como redes, serviços, controle de versão com Git local e remoto, além de introdução ao Docker, bancos de dados e o funcionamento da web.
Atualmente, o C3SL conta com pesquisadores professores doutores do Departamento de Informática (Dinf) da UFPR, e pesquisadores bolsistas de graduação, mestrado e doutorado, trabalhando em três grandes projetos em andamento: o desenvolvimento de Sistemas de Informação para a Atenção Primária à Saúde (APS) em parceria com o Ministério da Saúde; o Laboratório de Dados Educacionais; e a plataforma de Recursos Educacionais Digitais do Ministério da Educação (MEC).
Cada bolsista é alocado em equipes específicas conforme seu perfil, habilidades e preferências indicadas durante a entrevista seletiva. Com uma dedicação semanal de 20 horas presenciais nas dependências do Dinf, os novos integrantes terão a oportunidade de contribuir diretamente para projetos que impactam áreas essenciais como saúde e educação no Brasil.
Estudo revela que mais de R$ 23 bilhões anuais são destinados a plataformas estrangeiras, reforçando a importância de investimento em soluções em software livre, para garantir soluções tecnológicas sustentável no país
O Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), da Universidade Federal do Paraná, figura como um dos principais protagonistas no estudo inédito que revelou o custo da dependência tecnológica do Brasil diante das Big Techs: mais de R$ 23 bilhões anuais investidos em plataformas e serviços estrangeiros. O estudo reforça que fortalecer centros como o C3SL, referência internacional em soluções abertas, maior espelho de software livre do hemisfério sul e um dos principais laboratórios de inovação do país, é fundamental para reduzir a vulnerabilidade do Brasil frente às Big Techs e garantir soberania digital, inovação e desenvolvimento social sustentáveis.
Pela primeira vez, um estudo quantificou o tamanho da dependência tecnológica do Brasil diante das gigantes globais de tecnologia, as chamadas Big Techs. O trabalho analisou contratos públicos de tecnologia da informação e comunicação (TIC) firmados entre 2014 e 2025. Os resultados expõem o volume bilionário de recursos destinados a empresas como Microsoft, Google, Oracle e Red Hat, além de apontar riscos à soberania digital do país. O montante apontado no trabalho representa o quanto o país investe em serviços, plataformas e infraestruturas digitais controladas por empresas estrangeiras, evidenciando a fragilidade nacional diante desse cenário.
De acordo com o levantamento, publicado pelo Grupo de Estudos em Tecnologias e Inovações na Gestão Pública (GETIP/EACH/USP), vinculado ao Observatório Interdisciplinar de Políticas Públicas “Prof. Dr. José Renato de Campos Araújo” (OIPP/EACH/USP), a evolução dos gastos ao longo dos anos aponta uma aceleração significativa a partir de 2023, especialmente em soluções de nuvem e segurança digital. Somente entre 2023 e junho de 2025, foram contratados R$ 5,97 bilhões em licenças de software, R$ 9 bilhões em soluções de computação em nuvem e R$ 1,91 bilhão em softwares e serviços de segurança.
O estudo alerta para os riscos dessa dependência, que vão desde a vulnerabilidade dos dados nacionais até a perda de autonomia sobre decisões estratégicas em áreas como economia, saúde, educação e segurança. Especialistas defendem que a soberania tecnológica é pré-requisito para a soberania econômica, e que o desenvolvimento de soluções nacionais é fundamental para o futuro do país.
O documento que aponta dados sobre as big techs é assinado pelo mestre em administração pública pela FGV e analista de dados e pesquisa da More in Common Ergon Cugler de Moraes Silva; pela doutoranda em Ciência Política pelo IPOL UnB e presidente do Fórum para Tecnologia Estratégica dos BRICS+ Isabela Rocha; pelo doutor em Sistemas de Informação (EAESP-FGV) e professor dos cursos de Graduação e Pós-Graduação em Gestão de Políticas Públicas da EACH-USP José Carlos Vaz; pela mestranda em Administração Pública e Governo pela FGV Julia Ribeiro de Almeida Veneziani; e Diretora de Projetos Estratégicos do BRICS+ Camila de Camargo Modanez.
Encontro em Curitiba reúne pesquisadores, gestores públicos e representantes da sociedade civil para debater soberania digital, inclusão e criação de um centro nacional para articular e ampliar o ecossistema de software livre e bens digitais públicos no Brasil
Nesta segunda-feira (7), o Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) participou de reunião na reitoria da UFPR para discutir uma agenda nacional que organize a sociedade civil, os entes governamentais e a população em defesa dos Bens Públicos Digitais Nacionais. O C3SL figura como um dos operadores centrais da proposta da frente em defesa desses bens digitais, atuando para fortalecer o ecossistema de software livre e soluções abertas no país. Entre os temas centrais, destacou-se a necessidade de rearticular e integrar as comunidades de software livre, garantindo maior apoio institucional para ampliar seu impacto na inovação e na administração pública.
O encontro contou com a presença do reitor da UFPR e um dos fundadores do C3SL, Marcos Sunye; do atual coordenador do C3SL, Marcos Castilho; do pesquisadores Fabiano Silva e Luis Bona (pró-reitor de planejamento e dados da UFPR); Nésio Fernandes De Medeiros Junior, médico sanitarista, diretor do Instituto de Desenvolvimento e Apoio a Gestão – IDAG e um dos articuladores da frente em defesa dos Bens Públicos Digitais Nacionais; Pedro Torres, da coordenação da Agência de Tecnologia da Informação e Comunicação (AGTIC); Corinto Meffe, coordenador de Responsabilidade Socioambiental do Dataprev; Delfino Natal de Souza, consultor independente especialista em gestão da informação e governança de dados. Também participaram do encontro Edemir Reginaldo Maciel, diretor superintendente da Fundação da UFPR (Funpar); Hugo Valadares, diretor do Departamento de Ciência, Tecnologia e Inovação Digital (DECTI) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); Ergon Cugler de Moraes Silva, analista de dados e pesquisa da More in Common; Guilherme Alberto Almeida de Almeida, diretor de Inovação e Gestão do Conhecimento do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos; Laura Rodrigues, da Frente Hacker, da União da Juventude Socialista; e Fabricio Solagna, do Coletivo Digital.
Nésio Fernandes de Medeiros Junior destacou a importância de rearticular as comunidades de software livre no Brasil. Segundo ele, muitas dessas comunidades seguem ativas, mas carecem de maior integração e apoio institucional para ampliar sua atuação. “A tecnologia da informação é estratégica para a gestão pública, especialmente quando baseada em evidências. O espaço público brasileiro oferece inúmeras oportunidades para inovação, desde que as instituições saibam utilizar seu poder normativo e de articulação”, afirmou.
Nésio ressaltou que o software livre merece um lugar institucional protegido, que ofereça uma perspectiva de longo prazo e um espaço de articulação para os atores envolvidos. Para isso, defendeu a retomada e o fortalecimento de uma frente que debata e defenda a pauta dos bens públicos digitais, pautando o tema em fóruns nacionais, internacionais e regionais, projetando a agenda dos veículos digitais abertos no cenário da soberania digital do país.
O reitor da UFPR, Marcos Sunye, apresentou três pontos fundamentais para o debate sobre soberania digital e bens públicos digitais no Brasil. O primeiro deles é a proteção desigual entre dados públicos e privados. Enquanto a Lei de Acesso à Informação obriga o Estado a divulgar seus dados, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) protege o setor privado, que não é obrigado a revelar as informações que possui. “Temos uma lógica que penaliza o público e protege o privado. Por que uma empresa privada não entra na lei, ou pelo menos não precisa dizer quais dados possui e sobre quem?”, questionou.
O segundo ponto destacado pelo reitor é o aprisionamento tecnológico das instituições públicas. Sunye criticou uma diretiva da Secretaria de Gestão que proibiu universidades de manter seus próprios data centers, obrigando-as a hospedar dados em nuvem de terceiros, o que limita o controle sobre a infraestrutura tecnológica. “Depois de toda aquela movimentação no início do século sobre autonomia tecnológica, as universidades, que eram grandes vetores para políticas públicas, foram proibidas de ter data centers. Isso é aprisionamento tecnológico”, afirmou. Ele também lamentou a dependência das universidades em relação a grandes empresas de tecnologia para serviços essenciais, como servidores de e-mail, que têm acesso a dados importantes para a inovação.
Por fim, Sunye destaca a falta de debate sobre inteligência artificial com perspectiva do Sul Global. Neste ponto, o fundador do C3SL criticou que a discussão atual se limita ao uso de ferramentas como ChatGPT na educação, sem abordar a criação de inteligência artificial alinhada às necessidades e realidades do Sul Global. “Ninguém tem um discurso de como fazer uma IA no Sul Global. A discussão é só como usar, como se a posta já estivesse dada. Se você não pega, vai ficar atrasado”, alertou. O país enfrenta desafios para avançar em pautas como inclusão digital e adoção de soluções abertas, muitas vezes atrasadas em relação ao seu potencial.
A incompatibilidade de sistemas proprietários é uma barreira que precisa ser superada, reforçando a urgência de promover bens públicos digitais abertos e colaborativos. Apesar dos avanços tecnológicos, a inclusão digital permanece um desafio especialmente no serviço público, onde muitos municípios ainda não têm acesso ou qualificação para utilizar recursos digitais de forma eficaz. Diante desse cenário, os participantes da reunião propuseram a criação de uma organização com abertura ampla para participação da sociedade civil, universidades, empresas, governo e sociedade em geral. Esse centro funcionaria como um espaço de articulação, acolhendo iniciativas já existentes e fomentando novas, com projeção nacional e internacional.
O momento atual, marcado por transformações como a inteligência artificial e o controle das mídias sociais, exige iniciativas coletivas, colaborativas e independentes, capazes de promover inovação, integração e letramento digital. A criação desse centro é vista como uma oportunidade singular para consolidar décadas de trabalho, fortalecer o software livre e ampliar o acesso a bens digitais públicos no Brasil.
Especialista em cibersegurança, André Grégio aborda desafios e soluções para inclusão digital e proteção dos idosos no uso de tecnologias, destacando a importância da autonomia e da segurança contra golpes virtuais
O professor do Departamento de Informática (DINF) da UFPR e pesquisador do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), André Grégio, foi destaque na reportagem exibida no telejornal Meio Dia Paraná, no último dia 21 de maio, que integrou a série “Além da Idade”. A matéria abordou a relação da terceira idade com a tecnologia, apontando como o avanço digital tem deixado de ser uma barreira para se tornar uma importante ferramenta para melhorar a qualidade de vida dos idosos.
Na reportagem, o pesquisador do C3SL destacou os principais riscos que os idosos enfrentam no ambiente digital, como golpes de clonagem de cartão, fraudes via Pix e falsas centrais de atendimento, explicando de forma didática como identificar armadilhas comuns. Ele ressaltou que muitos golpes envolvem pedidos de pagamento via Pix para pessoas físicas, o que deve despertar a atenção dos usuários. O professor enfatizou a importância da cautela, do questionamento e da busca por ajuda antes de fornecer dados pessoais ou clicar em links desconhecidos.
Além disso, a reportagem mostrou histórias inspiradoras de idosos que superaram o medo da tecnologia, como Dona Hilda, que aos 80 anos utiliza dois celulares e realiza pagamentos via Pix com autonomia, e Marcos, que passou a usar aplicativos bancários após participar do curso gratuito de inclusão digital oferecido pela UFPR. O curso, que já atendeu mais de 400 pessoas, foca em desenvolver a competência digital e a segurança dos idosos no uso de dispositivos móveis.
Outro ponto importante abordado foi a visão positiva do professor André Grégio sobre a tecnologia, destacando que, quando usada de forma adequada, ela pode humanizar as relações e ampliar a participação social da terceira idade. Ele também é responsável pelo desenvolvimento de aplicativos voltados para pacientes bariátricos e oncológicos, que facilitam a comunicação entre médicos e pacientes, demonstrando o impacto social da tecnologia. Clique no link e confira a reportagem na íntegra no GloboPlay> https://globoplay.globo.com/v/13619987/
Autoridades da universidade sul-africana conhecem infraestrutura e projetos inovadores do laboratório de computação científica da UFPR
A Universidade Federal do Paraná (UFPR) recebeu, no último dia 10 de junho, uma comitiva composta por 17 autoridades da North-West University (NWU), da África do Sul, incluindo o próprio reitor da instituição. O grupo veio ao Brasil para formalizar um termo de cooperação entre as duas universidades, ampliando as perspectivas de colaboração acadêmica e científica.
A NWU, reconhecida por sua expressiva comunidade acadêmica de cerca de 60 mil estudantes distribuídos entre graduação, mestrado e doutorado, mantém diversos programas, plataformas e institutos de pesquisa. A visita reforça o interesse mútuo em desenvolver projetos conjuntos e compartilhar experiências inovadoras no ensino superior.
Durante a manhã, os representantes da NWU foram recepcionados por autoridades da UFPR no Salão Nobre da Tecnologia, no prédio da Administração do Centro Politécnico. Na ocasião, foram apresentados os principais projetos institucionais da UFPR, indicadores de desempenho e oportunidades para futuras parcerias estratégicas. Como parte da programação, a comitiva sul-africana realizou um tour pelos laboratórios e departamentos do Politécnico, com destaque para a visita ao Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL).
Os professores Letícia Peres e Fabiano Silva, do Departamento de Informática, conduziram a apresentação da infraestrutura e dos projetos desenvolvidos pelo C3SL, ressaltando o papel do centro na pesquisa e no desenvolvimento de soluções em software livre e computação científica.
Em palestra no Universo UFPR, Fabiano Silva criticou a imagem amigável da inteligência artificial, usada para marketing, enquanto a tecnologia avança na indústria militar e acirra injustiças sociais.
Apesar da aparência amigável de assistentes virtuais e aplicativos baseados em linguagem, as inteligências artificiais (IAs) que se popularizam no cotidiano operam sob lógicas muito diferentes das humanas. O alerta foi feito pelo professor Fabiano Silva, do Departamento de Informática da Universidade Federal do Paraná (UFPR), durante palestra no evento Universo UFPR, realizada em 22 de maio de 2025.
Doutor em Engenharia Elétrica e Informática Industrial e um dos fundadores do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), Silva descontruiu a imagem das IAs como seres “inteligentes” e afirmou que essa narrativa é movida por estratégias de marketing — enquanto, na prática, a tecnologia é moldada para vigilância e acentuação das desigualdades sociais.
Marketing, controle e desigualdade
Fabiano Silva defendeu que a humanização das inteligências artificiais é uma construção retórica voltada ao consumo. “A ideia de que esses sistemas pensam ou sentem como nós é uma construção de marketing. Quanto mais humanos parecerem, maior será a adesão, o interesse, o número de pessoas querendo usar”. Ele explicou que, tecnicamente, os sistemas não compreendem o que dizem, apenas selecionam padrões estatísticos da linguagem mais frequente. “Esses modelos são papagaios estocásticos. Eles só devolvem a resposta mais provável com base no que já foi escrito”, avisou.
Ao rebater a percepção popular de que as IAs estão a serviço do bem comum, o professor apontou que o financiamento dominante vem de outro setor. “Quem sustenta essa indústria é a indústria de uso militar. Sempre foi assim. A evolução tecnológica sempre foi financiada por esse caminho”, alertou Fabiano Silva. Ele citou o uso de IA em vigilância, reconhecimento facial em tempo real e robôs autônomos armados, já empregados em cenários de guerra. “Essas coisas não têm mais humanos cuidando. A gente tem máquinas fazendo análise facial nas ruas e detectando padrões”, assinalou.
O pesquisador demonstrou preocupação com os efeitos sociais da automação por IA, sobretudo em áreas tradicionalmente vistas como estáveis. “Diferente da revolução industrial, que substituiu o esforço braçal, agora temos máquinas que escrevem, analisam, tomam decisões. Profissões de média e alta qualificação estão sendo diretamente afetadas”. Segundo ele, o discurso de que a IA aumenta a produtividade esconde uma consequência grave: “a produtividade aumenta, mas a riqueza gerada não está sendo redistribuída. A tendência é concentrar ainda mais renda”.
Outro ponto abordado na palestra foi a manipulação emocional promovida por sistemas que imitam a linguagem humana. “Quando começo a confiar na resposta da máquina como confio na fala de um amigo, estou me abrindo para ser manipulado. A superatribuição de humanidade torna as pessoas mais vulneráveis.” Silva chamou atenção para o risco de uma relação de dependência. “A gente humaniza essas ferramentas para se sentir confortável. Isso é nocivo. Não tem nada de humano por trás, só estatística.”
Concluindo sua fala, o pesquisador do C3SL defendeu que a sociedade precisa olhar criticamente para os rumos da inteligência artificial. “Não se trata de imaginar máquinas conscientes, mas de entender como sistemas criados por grandes empresas estão sendo colocados no centro das decisões humanas — sem regulação e com alto potencial de aprofundar desigualdades.” Segundo ele, é preciso ir além do fascínio tecnológico. “A pergunta que importa é: quem controla essa tecnologia, a quem ela serve e quem paga a conta?”
Cerca de 160 pessoas estiveram presentes no evento mais aguardado por estudantes e professores do C3SL; conheça os ganhadores do Horácio 2025
A 16ª edição do Churrasco do C3SL (Centro de Computação Científica e Software Livre), popularmente conhecido como C4SL, bateu recorde de participação em 2025. Cerca de 160 pessoas estiveram presentes no evento, que aconteceu na Associação dos Professores da UFPR (APUFPR) e que premiou mais uma vez bolsistas e professores do grupo de pesquisa com o Prêmio Horácio. Para a edição recorde, mais de 30 kg de carnes, 20 kg de linguiça e 180 litros de chopp foram comprados, além de outros tipos de bebidas, comidas e até mesmo sobremesa.
Em 2025, as organizadoras do evento foram as bolsistas do C3SL Maria Carolina Sauer e Janaína Kshesek, que enfrentaram o desafio de oferecer o melhor para bolsistas, professores e convidados. “Reunir o pessoal não foi tão difícil, pois todo mundo espera bastante o churrasco. O desafio maior foi definir a quantidade de coisas para comprar, mas está sendo muito legal, estamos muito felizes com o resultado até agora”, contou Janaína.
Para os bolsistas, o churrasco é uma forma de sair da rotina e estreitar ainda mais os laços. “Esse evento representa um momento de união muito legal, porque a gente convive diariamente na universidade, no grupo de pesquisa, mas não é a mesma coisa que um evento como esse. Aqui a gente conversa, se diverte, é muito legal”, diz Maria Carolina.
Para os professores também é momento de celebrar e relembrar a história do grupo de pesquisa. “É impressionante ver esse evento com essa quantidade de pessoas, das quais 80 são bolsistas. Nunca imaginei que o C3SL fosse chegar onde chegou. Foi uma ideia que a gente teve de valorizar o software livre, a computação científica, e é um imenso prazer ver que o C3 está consolidado. Estamos muito felizes de estarmos aqui e de ver todo esse movimento”, contou Marcos Castilho, um dos fundadores do grupo.
Prêmio Horácio
E como não podia deixar de ser, no churrasco houve a tão esperada entrega do Prêmio Horácio, criada pelos professores Castilho e Luiz Bona. “O Horácio nasceu de uma brincadeira, com a ideia de premiar aquelas ideias e acontecimentos mais bizarros e estapafúrdios do dia a dia do departamento e do grupo de pesquisa. Acabou virando uma tradição e a gente tem muito orgulho não só de ter criado o prêmio, mas também de já ter levado pra casa o troféu, afinal, só erra quem trabalha”, brincou Castilho.
Esta foi a 16ª edição do Prêmio, que entregou aos ganhadores um Horácio feito de amigurumi pela bolsista do C3, Eloiza Cardoso, e ofereceu três categorias de premiação. “É genial estarmos aqui, pois foi uma ideia que começou com quatro pessoas que tinham uma ideia em comum mas que parecia incerta, que era a militância pelo software livre e pela ciência aberta. A gente sabe que não é fácil ser idealista no mundo de hoje, mas ver isso tudo vale muito a pena”, disse o professor e pesquisador do C3SL, Fabiano Silva.
As três categorias de indicação foram: Galo Veio, Pequeno Gafanhoto e Déjà Vú. Confira os ganhadores de cada uma das categorias:
Deja vu: Bruno Sime
Pequeno Gafanhoto: Marco Zanata
Galo Veio: Paulo de Almeida, Vinicius Fülber e André Grégio.