Projeto da UFPR emprega Inteligência Artificial para melhorar atendimento no SUS

Solução busca automatiza interações, coleta dados estratégicos e aprimora a experiência dos pacientes na Atenção Primária à Saúde

Pesquisadores do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) estão desenvolvendo um sistema baseado em Inteligência Artificial para melhorar o atendimento na Atenção Primária à Saúde do SUS. O projeto, realizado em parceria com o Ministério da Saúde, visa criar uma solução capaz de interagir com milhões de brasileiros, coletando dados e promovendo melhorias nos serviços de saúde pública. “Com o uso da IA, podemos transformar a APS, criando um canal direto do SUS com os cidadãos, que não apenas melhora a experiência do paciente, mas também fornece dados estratégicos para uma gestão mais assertiva e inclusiva”, destaca André Grégio, pesquisador do C3SL e coordenador do projeto com o Ministério da Saúde.

Uso de IA no pós-atendimento do SUS pode automatizar a comunicação e criar uma gestão otimizada da saúde. Foto: Juliana Telesse

A cada minuto, três mil pessoas passam pela APS no país, a principal porta de entrada para os serviços básicos do SUS, caracterizando-se por um conjunto abrangente de ações voltadas tanto para o indivíduo quanto para a coletividade. Somente em 2024, foram mais de quatro milhões de atendimentos individuais, registrando um aumento de 18% em comparação ao ano anterior. A solução promete aprimorar a gestão da saúde pública no país na medida em que busca automatizar a comunicação, é o que aponta o pesquisador do C3SL e especialista em Inteligência Artificial, Paulo Almeida.

Projeto propõe uso de IA no retorno dos atendimentos na APS. Foto: Jerônimo Gonzalez/MS

“Imagine receber uma ligação após sua consulta no posto de saúde. Neste contato, a IA pergunta sobre a qualidade do atendimento, se o problema foi resolvido ou se há sugestões de melhoria. Essas interações, realizadas com uma voz humanizada e natural, têm o potencial de transformar a relação entre o SUS e seus usuários”, destaca Almeida. O projeto utiliza tecnologias avançadas de Speech-to-Text (transcrição de áudio para texto) e Text-to-Speech (texto para áudio), permitindo que sistemas automatizados interajam diretamente com os cidadãos.

Mais que acompanhar o atendimento, o foco é dar subsídio concreto a partir de dados para que o governo possa gerir com maior eficiência a saúde pública, destaca Grégio. Foto: Juliana Telesse

Dados que valem saúde

O objetivo com a aplicação da IA não é apenas automatizar a comunicação, mas sim reunir e processar dados que possam melhorar a cobertura da saúde pública. A APS se concentra em ações de promoção da saúde e prevenção de doenças, como campanhas de vacinação, orientações sobre hábitos saudáveis e acompanhamento de condições crônicas. A coleta e processamento desses dados em grande escala possibilita análises detalhadas sobre questões específicas, como o atendimento a mulheres grávidas em pré-natal ou a qualidade dos serviços em áreas rurais.

A interação da IA com os usuários do SUS também resulta em um sistema aprimorado de avaliação sobre o atendimento. “Mais do que simples perguntas, o sistema busca estabelecer um diálogo dinâmico. Por exemplo, se um cidadão relata que esperou muito tempo para ser atendido, a IA pode identificar automaticamente que o problema não foi causado pelo médico, mas pela sobrecarga do posto de saúde. Essa análise personalizada permite que os gestores identifiquem padrões regionais e tomem decisões mais assertivas para melhorar os serviços. Essa abordagem coloca o SUS na vanguarda da gestão pública baseada em dados”, avalia Almeida.

Solução de compactação de dados do C3SL pode reduzir custos de processamento de IA

Com previsão de desenvolvimento do projeto até 2027, o grupo de pesquisa da UFPR tem antecipado entregas do cronograma, adequando-se às demandas da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS), órgão que faz a gestão da parceria junto ao Ministério da Saúde. Uma das soluções em via de implantação neste primeiro semestre é um sistema de envio de mensagens direcionadas de comunicação para um grupo, com foco em campanhas informativas massivas. A aplicação da IA no projeto integra uma segunda etapa da pesquisa, em um sistema de comunicação individualizada, com foco no usuário.

Segundo Almeida, um dos desafios desta segunda etapa do projeto é o alto custo de processamento de dados. Os modelos avançados de IA utilizados em Speech-to-Text e Text-to-Speech demandam grande poder computacional. Com cerca de 220 milhões de habitantes no Brasil e milhões de interações previstas diariamente, reduzir custos sem comprometer a qualidade é uma prioridade. O C3SL já apresentou avanços nesse sentido.

“Um dos nossos avanços mais promissores mostra que, ao modificar a forma como os arquivos de áudio são armazenados e comprimidos, conseguimos reduzir em até nove vezes o espaço necessário para armazená-los – o que também reduz os custos com hardware e consumo de energia – sem comprometer significativamente a qualidade da transcrição. Esse tipo de otimização pode ser fundamental para viabilizar a implementação desses modelos em larga escala dentro do SUS. Essa inovação diminui os custos com hardware e energia elétrica, tornando o projeto mais viável economicamente”, destaca o pesquisador.

Reunião do C3SL no Ministério da Saúde foca em avanços tecnológicos para a atenção primária

Na reunião em Brasília, o secretário adjunto da Saps destaca a capacidade C3SL em adaptar rapidamente as metas do projeto às demandas da pasta da saúde

A cada minuto, três mil pessoas passam pela Atenção Primária à Saúde (APS) no país, principal porta de entrada para os serviços básicos do SUS. É buscando otimizar os cerca de dois bilhões de atendimentos anuais do Ministério da Saúde com a APS que o Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) vem desenvolvendo uma solução de informática que vai integrar melhor os cidadãos ao SUS, e aprimorar o compartilhamento de informações entre gestores e profissionais de saúde. Essa iniciativa foi discutida em reunião entre o pesquisador do C3SL, Marcos Sunye, da coordenadora do curso de medicina da UFPR, Camila Fachin, e do gestor de projetos de P&Ds do C3SL, Edemir Maciel, com o Secretário Adjunto da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS), Jerzey Timoteo Ribeiro Santos, nesta terça-feira (29), na sede do Ministério da Saúde, em Brasília.

Iniciado em janeiro deste ano, o projeto é coordenado por Sunye e liderado junto ao C3SL pelo pesquisador e professor do Departamento de Informática (Dinf), André Grégio. A APS é o primeiro nível de atenção à saúde da população, caracterizando-se por um conjunto abrangente de ações voltadas tanto para o indivíduo quanto para a coletividade. Segundo Sunye, o projeto busca justamente atuar no aprimoramento deste atendimento.

“O sistema se torna fundamental para o aprimoramento do sistema de saúde, pois permitirá que os gestores se comuniquem com os agentes e que iniciativas de saúde cheguem mais rápido ao cidadão. O maior desafio de desenvolvimento é a implantação de uma solução que promova uma telessaúde com a segurança do ambiente, o que está sendo desenvolvido pelo projeto do C3SL, com o aperfeiçoamento de ferramentas que deem autonomia ao ministério”, destaca Sunye.

Com previsão de desenvolvimento do projeto até 2027, o grupo de pesquisa da UFPR tem antecipado entregas do cronograma, adequando-se às demandas da Saps. De acordo com Sunye, a performance do C3SL em apresentar um rápido retorno diante de readequação de metas foi destacado pelo gestor do Ministério da Saúde na reunião. “O secretário elogiou muito a atuação do C3SL, principalmente no sentido de adaptar a evolução do projeto às demandas do Ministério. Ele disse que ficou impressionado com a capacidade do C3SL de assumir novas metas no próprio andamento do projeto e a maneira rápida que o centro conseguiu dar resposta às solicitações”, relata Sunye.

Uma das principais iniciativas da Saps, o sistema em desenvolvimento pelo C3SL é fundamental para o aprimoramento do sistema de saúde, pois permitirá que os gestores se comuniquem com os agentes de saúde e que iniciativas de saúde cheguem mais rápido ao cidadão, promovendo não só a inclusão digital, mas a conscientização e disseminação de informações importantes sobre saúde. O impacto social e a centralidade do sistema para programa e ações de saúde coletiva por parte do Governo Federal beneficiando milhões de cidadãos reforça a lista de trabalhos encabeçados pelo C3SL que demonstram a sólida capacidade grupo de pesquisa na execução de projetos de grande escala e complexidade, envolvendo equipes interdisciplinares, infraestrutura de alto nível e impacto significativo na sociedade brasileira.

Hospital de Clínicas pode virar um laboratório para o projeto

Um dos principais desafios do projeto é mapear a dinâmica da aplicação do sistema em atividades reais na área da saúde. É aqui que entra o Hospital de Clínicas da UFPR, posicionando-se como um laboratório inovador para a aplicação de tecnologias na saúde, especialmente no âmbito da telemedicina, permitindo analisar as funcionalidades das soluções de tecnologias desenvolvidas pelo C3Sl para o Ministério da Saúde. 

Segundo a coordenadora do curso de medicina da UFPR, Camila Fachin, o foco é buscar a aplicação dos sistemas em um projeto de triagem para a área especializada. “Uma proposta de inclusão do HC junto ao projeto é por meio da telemedicina. Neste caso, a ideia é realizar uma qualificação da fila de pessoas que estão aguardando consulta com o especialista. Neste aspecto, o sistema pode nos ajudar a mapear as necessidades e avaliar se as pessoas que foram encaminhadas apresentam ou não demandas para atendimento especializado no HC”, destaca Camila. 

A proposta de ambientar a aplicação prática dos sistemas do C3SL no HC não apenas otimiza o fluxo de atendimento, mas também contribui para um melhor uso dos recursos disponíveis na saúde pública. Camila ainda destaca como a infraestrutura e a experiência acumulada ao longo dos anos oferecem um ambiente propício para testar e validar novas soluções tecnológicas. O hospital foi recentemente credenciado como Centro de Inovação, o que reforça seu papel na promoção de inovações tecnológicas em saúde. “O Hospital de Clínicas é o maior hospital público do Paraná e temos um potencial enorme para como laboratório “vivo” para diversas áreas do conhecimento, a informática entre elas”, conclui a coordenadora.

C3SL capacita técnicos do Ministério da Saúde em bancos de dados

Curso online de dez semanas orienta sobre como organizar e processar dados eficientemente

O Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) está realizando um curso online para cerca de 30 técnicos da área de Tecnologia da Informação (TI) do Ministério da Saúde (MS). Com duração de dez semanas, a capacitação é liderada por Simone Dominico, especialista em banco de dados e pesquisadora de pós-doutorado do C3SL. O curso, que segue até o início de dezembro, tem como objetivo auxiliar a equipe a organizar, processar e usar os dados eficientemente para melhorar o Sistema de Informação em Saúde para Atenção Básica (Sisab).

Simone explica que o curso orienta os técnicos da  Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS) a usar e combinar tecnologias que ajudam a gerenciar informações de saúde. “Queremos que os técnicos possam aplicar o que aprenderam para melhorar a forma como os dados são organizados, processados, armazenados e utilizados, tornando o sistema mais ágil e eficiente”, afirma Simone.

A capacitação cobre todas as tecnologias planejadas atualmente pela equipe de TI da SAPS, mostrando como elas funcionam juntas para criar um sistema que centraliza e facilita o acesso e o uso dos dados. A ideia é permitir que os técnicos desenvolvam uma estrutura de banco de dados moderna, que simplifique o trabalho com informações da saúde.

O curso foi desenvolvido por Simone e a equipe de bolsistas e pós-doutorandos do C3SL. O curso de capacitação do C3SL integra as atividades do projeto com o Ministério da Saúde, coordenado pelos pesquisadores Marcos Sunye e André Grégio, para o desenvolvimento de um sistema que permite comunicação direta entre agentes de saúde e usuários da Atenção Primária à Saúde (APS).

O conteúdo do curso passa por todas as etapas de trabalho com dados, desde a coleta e organização das informações até a criação de sistemas para facilitar o acesso e a análise desses dados. Ao longo das semanas, os técnicos aprendem na prática como planejar, montar e gerenciar esses sistemas, sempre com foco na simplicidade e eficiência.

Outra novidade é a disponibilidade futura do curso. Segundo a pesquisadora, esta primeira realização da capacitação deve auxiliar o grupo a aprimorar o material para deixá-lo disponível para acesso público, com materiais de apoio e tutoriais sobre cada uma das ferramentas.

C3SL e Ministério da Saúde debatem gestão da informação na atenção básica

Base de dados da Atenção Primária à Saúde (APS) foi foco da visita técnica em Brasília

O Centro de Computação Científica e Desenvolvimento de Software (C3SL) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) se reuniu com representantes do Ministério da Saúde em Brasília no dia 21 de junho para discutir melhorias no processamento e armazenamento dos dados de saúde provenientes dos atendimentos da Atenção Primária à Saúde (APS). Participaram do encontro com representantes do ministério a pesquisadora especialista em banco de dados e bolsista do C3SL, Simone Dominico, e o gestor de projetos de pesquisa e desenvolvimento do C3SL, Edemir Reginaldo Maciel.

Durante o encontro, a equipe do C3SL buscou entender detalhadamente o fluxo atual de captação, limpeza e adequação desses dados até seu armazenamento no Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB), gerenciado pelo Ministério. “O nosso papel lá foi entender como estava acontecendo esse processo de organização da base e alimentação dos dados para sugerir e desenvolver alguma mudança para que esse processo seja mais otimizado”, aponta Simone.  

O aprimoramento da base de dados integra as atividades do projeto do C3SL com o Ministério da Saúde, coordenado pelos pesquisadores Marcos Sunye e Grégio André, para desenvolvimento de um sistema que permite comunicação direta entre agentes de saúde e usuários da APS. Atualmente, o processo de organização da base de dados em discussão na reunião resulta em performance aquém da desejada pelos técnicos do ministério, especialmente devido ao grande volume de dados recebidos diariamente, em torno de 30 terabytes.