No último dia 19 de junho, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) recebeu uma delegação do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A equipe, liderada por Luis de Bona, reuniu-se com Inácio Arruda, da Secretaria de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social (Sedes), para mostrar ao gestor da área os projetos que o C3SL já realiza para outros ministérios do Governo Federal.
Em janeiro deste ano, a equipe de Inácio Arruda na Secretaria de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social se reuniu e decidiu ampliar, em 2024, projetos que ampliem a participação da sociedade na ciência. Com base nisso, Luis de Bona colocou o C3SL à disposição do MCTI para o desenvolvimento de produtos e soluções para problemas complexos que o Governo Federal tenha diagnosticado como prioritários para a soberania nacional.
De forma descontraída, o tradicional Prêmio Horácio registra os fatos inusitados e cômicos vivenciados pelos bolsistas e professores nas atividades de pesquisa
Pesquisa é levada ao rigor do método e com muita seriedade no dia a dia do C3SL. Mas até o mais experiente programador pode escorregar o dedo no código vez ou outra. É neste momento que os olhares atentos dos bolsistas e pesquisadores registram cada deslize. Ainda mais se estiver envolvido em um contexto para lá de engraçado. Isso porque cada um destes casos pode valer um Troféu Horácio. O prêmio, uma espécie de Framboesa de Ouro dos bastidores da pesquisa, registra os principais fatos engraçados e obrigatoriamente vexatórios vivenciados por técnicos, bolsistas ou pesquisadores. Neste ano, a entrega da 15ª edição do prêmio será realizada na confraternização do C3SL, no dia 27/06.
Tudo começou em 2012, na sala do C3SL, e envolve uma impressora, um manual, uma chave de fenda, um toner, e uma dose cavalar de desatenção. Quem faz este resgate para nós é um dos fundadores do C3SL, o professor Marcos Castilho.
“Um dia, ao entrar na sala do C3SL retornando do almoço com o Bona, deparei-me com três bolsistas. Eles estavam ali ao redor da impressora. Um tinha o toner na mão, outro tinha uma chave de fenda e um terceiro tinha o manual da impressora. Estranhando aquela situação, questionei: ‘Vocês estão fazendo o quê?’. Eles me responderam: ‘Vamos trocar o toner’. Perguntei para eles: ‘Mas por que você precisa da chave de fenda?’. Responderam: ‘Não, é que no manual aqui está dizendo que tem que tirar uma fita amarela do toner. Mas o toner não tem fita amarela. Então a gente está achando que tem que abrir o toner para ter a fita amarela está dentro’. E qual era o problema em tudo isso? É que o toner era da Epson, o manual da impressora que estavam usando era da Lexmark, e a impressora era uma HP”, conta Castilho.
A partir daquele momento, surgiu o Troféu Horácio, para registrar cada uma destas situações inusitadas e cômicas envolvendo os técnicos, bolsistas e pesquisadores durante as atividades no C3SL. O prêmio é dividido em três categorias: o Clássico, que envolve os pesquisadores com anos de carreira; o Iniciante, que envolve os bolsistas; e o Principal, cuja situação se destaca diante dos casos contabilizados ao longo do ano. E como é que registram isso? Isso fica a cargo dos próprios bolsistas e pesquisadores, que reúnem e submetem à comissão, responsável por julgar os melhores “causos”.
Quem acha que é apenas uma descontração, saiba que está enganado. O conceito que permeia o prêmio confere um caráter didático ao evento. A referência que dá nome ao prêmio é o cativante, mas displicente, dinossauro Horácio, cujos pequenos braços o impedem de apertar o comando “crtl+alt+del”. A ideia do prêmio é justamente usar os casos de descuido ou de distração como forma de alertar para uma ação mais comedida e atenciosa nas atividades da pesquisa. Desde 2012, à exceção dos anos da pandemia, o Troféu Horário é entregue nas reuniões anuais de confraternização do C3SL.
Evento busca fomentar o interesse pela computação entre mulheres e pessoas não-binárias da América Latina
Evento reuniu participantes de universidades brasileiras e de outros países da América Latina. Foto: Instagram da MPF
Neste fim de semana foi realizada no Instituto de Computação (IC) da Unicamp a final da Maratona Feminina de Programação (MFP), evento que reúne mulheres e pessoas não binárias da América Latina para uma rodada de dois dias de desafios de programação esportiva. A bolsista do Centro de Computação Científica e Software Livre, Luize Duarte, participou como finalista da MPF e na assessoria do time do curso de programação. Daqui do Paraná, representando o Dinf e a UFPR, também esteve no evento a acadêmica Juliana Zambon, que integra a equipe da organização da maratona como coordenadora de comunicação da MPF.
Participam da MPF mulheres e pessoas não-binárias que estejam regularmente matriculadas na graduação de alguma instituição latino-americana de ensino superior. Para Juliana, o evento é uma oportunidade de incentivar o interesse pela computação entre o público feminino. “O evento representa a esperança de que você, mulher ou pessoa não binária, também pode conquistar seu lugar no mundo da programação. A esperança de criar uma comunidade onde você possa ser e se sentir acolhida nesse ambiente, atualmente permeado por uma grande presença masculina. A Maratona Feminina de Programação é a esperança da inclusão”, destaca a coordenadora de comunicação da MPF.
Esta é a segunda edição da maratona feminina, que já bateu recorde de inscrições, passando de 280 estudantes no evento em 2023, para mais de mil inscrições neste ano. Além de universidade e faculdades no Brasil, o evento também recebeu inscrições de instituições de ensino superior de outros países da América Latina, como Facultad de Física de la Universidad de la Habana, Pontificia Universidad Católica de Chile e Universidade Nacional de Colombia. Outra novidade é que neste ano a MPF se vinculou à Sociedade Brasileira de Computação (SBC). Nos desafios de computação, as competidoras podem usar soluções em linguagens Pascal, C, C++, Java, Python e Javascript.
Dentre as propostas do evento, destaca-se o estímulo à participação feminina na programação esportiva, a ampliação da participação feminina na Maratona de Programação (SBC) promovida anualmente pela SBC, contribuir para a formação de uma comunidade latino-americana feminina de computação e proporcionar um ambiente mais inclusivo, acessível, acolhedor e diverso na área das ciências exatas em geral.
No encontro, foram debatidos os desafios tecnológicos da ANP na disponibilização de dados para a sociedade
Terabytes de informações e levantamentos das bacias sedimentares brasileiras, como poços perfurados e dados sísmicos, reunidos por iniciativas privadas e entes públicos são diariamente recebidos e disponibilizados para a academia e mercado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Soluções de informática e de infraestrutura que facilitem este fluxo de dados foram alguns dos temas da visita de técnicos da ANP ao Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) nesta quinta-feira (6). O encontro fez parte da agenda encabeçada pelo Laboratório de Análises de Minerais e Rochas (Lamir).
Participaram da atividade o coordenador de poços e geologia da ANP, Fernando Gonçalves dos Santos, o coordenador de recebimento e disponibilização de dados da agência, Paulo de Tarso Antunes, dos pesquisadores do C3SL, professor Marcos Sfair Sunye, Marcos Castilho, Luis de Bona e André Grégio, e administradora e assessora de projetos da UFPR, Carla Marcondes.
Na visita, Marcos Castilho fez um panorama geral sobre o C3SL e sobre as duas décadas de atividade do grupo de pesquisa no desenvolvimento de soluções para problemas complexos relativos ao campo da computação. Considerando a especialização da ANP no fomento a estudos geocientíficos, com expertise no campo da Geologia e Geofísica, Castilho reforçou o papel do C3SL no desenvolvimento de projetos que demandam multidisciplinaridade. “Nos especializamos em entender problemas de outras áreas diferentes da computação. Nós já trabalhamos com a ANEEL para resolver problemas da matriz energética do Brasil no que diz respeito à otimização e minimização do tempo de funcionamento de termelétricas. Este foi um projeto em parceria com o departamento de hidráulica”, aponta o pesquisador do C3SL.
O pesquisador Marcos Sunye complementou destacando os desafios do C3SL com os projetos com reflexos em várias áreas como Saúde, Educação, Comunicação e Direitos Humanos, sempre primando por resultados de relevância e impacto na sociedade, a partir da função social da universidade pública. Neste aspecto, Sunye defende a dianteira da universidade e do governo no uso racional de dados pensando na sua visão estratégica, como no projeto desenvolvido pelo C3SL com o MEC com a integração das diversas bases de dados (MEC, FNDE, Inep, Censo Escolar) para resultar em planos de políticas públicas e ações em educação.
“A base que geramos a partir destes dados fomenta pesquisa e planos em vários grupos e para decisões do governo. Um exemplo é o uso para a o cálculo do custo alunoXqualidade, que é uma métrica para decidir o uso de fundos. Como o Fundeb, que mapeia isso nas escolas para decidir os recursos para garantir a qualidade de ensino. É absolutamente necessário o governo federal trabalhar com uma grande massa de dados para tomar decisões. Não temos como deixar só a iniciativa privada fazer isso, cabe à universidade e ao governo justamente tomar a frente de projetos como este”, conclui.
Segundo o geólogo da ANP, Fernando Gonçalves, o setor de dados da agência enfrenta problemas semelhantes ao relatado por Sunye no que diz respeito à necessidade de padronização dos dados recebidos de diversas fontes. Contudo, um dos principais gargalos hoje identificado pelos técnicos da ANP é a solução para disponibilizar dos dados para a sociedade, academia e mercado. Os dados recebidos pela agência referente aos estudos e mapeamento de bacias e poços chegam das empresas públicas e privadas e recebem uma categoria de tempo de sigilo, que pode variar em tempo a depender da sensibilidade dos dados para o interesse da União e para a segurança pública. Após este prazo finalizado, ficam abertos para solicitação e consulta pública.
“Hoje nosso principal desafio é encontrar uma solução de front end, que nos auxilie na coleta, análise e disponibilidade dos dados para quem solicitar. Um sistema ideal teria que dar conta de receber a demanda, acessar os dados, copiar eles para disponibilização, criar as identificações e gestão dos tempos de sigilo de cada um dos dados, isso considerando que o tempo todo somos acionados para acesso aos dados pela academia, sociedade e mercado. De forma adicional, é ainda necessário localizar os dados espacialmente, para alimentar sistemas de visualização de dados para que a sociedade possa receber os metadados para que possam acompanhar as informações, e saber quando os dados estarão ou não públicos”, destaca o técnico da ANP.