BARBARA REIS DOS SANTOS
BERNARDO PAVLOSKI TOMASI
CAUE MATEUS GONÇALVES VENTURIN SAMONEK
DAVI CAMPOS RIBEIRO
EDUARDA SAIBERT
ELOIZA STHEFANNY ROCHA DA SILVA CARDOSO
GABRIELA FANAIA DE ALMEIDA DIAS DORST
GUILHERME EDUARDO GONÇALVES DA SILVA
HELOISA DIAS VIOTTO
JOAO MEYER MUHLMANN
JOÃO PEDRO VICENTE RAMALHO
LETICIA DE LIMA ROBERTO
MATEUS DOS SANTOS HERBELE
PEDRO FOLLONI PESSERL
PEDRO HENRIQUE FRIEDRICH RAMOS
RUIBIN MEI
THEO SIMONETTI SCHULT
YAGO YUDI VILELA FURUTA
BRUNO SIME FERREIRA NUNES
Mês: agosto 2025
André Vignatti leva a profundidade da ciência da computação teórica ao Prêmio Jabuti
Obra desafia a visão comum de que ciência da computação limita-se a aplicações práticas, evidenciando que a computação teórica trata de questões filosóficas profundas e conexões com as ciências naturais.

O professor André Vignatti, do Departamento de Informática da Universidade Federal do Paraná (UFPR), conquistou o Prêmio Jabuti 2025 na categoria Ciência da Computação com seu livro A Máquina da Natureza: uma Perspectiva Cronológica da Ciência da Computação Teórica. A obra inovadora, que combina ciência da computação, filosofia e ciências naturais, aborda aspectos pouco explorados da área, questionando a percepção comum da computação como mera técnica aplicada.
Prata da casa, Vignatti é formado em Ciência da Computação na UFPR, com doutorado pela Unicamp, e pós-doutorado pela Università degli Studi di Salerno, na Itália. Em sua obra, o professor da UFPR enfatiza que a ciência da computação teórica não deve ser reduzida às inovações tecnológicas passageiras. Para ele, os fundamentos mais profundos da área estão ligados a questões filosóficas, como os limites do pensamento racional, a relação entre determinismo e aleatoriedade, e a própria essência da computação, ancorada na tese de Church-Turing – um conceito que propõe um modelo universal para todo tipo de computação.
Um aspecto central abordado na obra é o papel da informação como componente fundamental da natureza, ao lado da matéria e da energia. A ciência da computação teórica estuda a manipulação dessa informação em níveis abstratos e fundamentais, o que nos permite entender desde o funcionamento do DNA até as implicações sociais e éticas na era digital, ressalta o professor.

Além da riqueza de conteúdos, o livro é escrito em linguagem acessível, destinado a público diverso – de especialistas a curiosos. Vignatti afirma que o maior desafio foi justamente tornar conceitos complexos, como reduções e pseudoaleatoriedade, compreensíveis para leigos, tarefa que consumiu a maior parte do tempo da escrita.
Em entrevista abaixo, o professor comenta o impacto do Prêmio Jabuti para a valorização da ciência da computação no Brasil, reflete sobre o futuro da área diante do avanço do aprendizado de máquina e da inteligência artificial, e ressalta a importância de aproximar a ciência da computação da sociedade para além dos aspectos tecnológicos imediatos.
Esta reportagem integra uma série de entrevistas promovidas pelo Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) e Dinf. A iniciativa busca destacar a trajetória e as contribuições de ex-bolsistas, alunos e pesquisadores que se destacam no campo da informática, mostrando a diversidade e o impacto das pesquisas desenvolvidas nesse ambiente acadêmico e tecnológico de excelência.
C3SL – O que significa para você receber o prêmio Jabuti com seu livro?
VIGNATTI – Primeiramente, o prêmio Jabuti foi importante para dar visibilidade à ciência da computação teórica. Hoje, essa área representa apenas cerca de 10% da pesquisa em computação no Brasil e no exterior. Acredito que essa baixa porcentagem se deve ao frenesi tecnológico, que cria a falsa impressão de que a ciência da computação se resume às aplicações práticas. Para mim, não trabalhamos com uma ciência cujas principais questões são as aplicações tecnológicas. Pelo contrário, as novidades tecnológicas muitas vezes ofuscam os objetivos mais profundos da área, que se conectam a questões filosóficas e naturais. Meu objetivo com o livro é justamente explicitar esses objetivos.
Além disso, a conclusão deste livro foi um grande desafio, e eu não sabia como o livro seria recebido pelo público. Desta forma, vencer o Prêmio Jabuti representa o reconhecimento de um trabalho árduo, que levou anos.
C3SL – Como o prêmio Jabuti impacta a valorização da ciência da computação no Brasil?
VIGNATTI – A escrita de um livro é um processo complexo e trabalhoso, que pode desencorajar muitos acadêmicos. Nem sempre há muitos incentivos e, de acordo com as métricas acadêmicas tradicionais, o tempo investido em um livro pode não ser tão valorizado quanto outras atividades. Nesse contexto, a existência de um prêmio tão prestigioso como o Jabuti, que inclui uma categoria específica de ciência da computação, é fundamental para o reconhecimento do trabalho de autores e a valorização da área no Brasil.
C3SL – Quais próximos projetos acadêmicos ou literários você pretende desenvolver após essa obra?
VIGNATTI – Ainda não tenho certeza. A experiência com este livro, e o impacto que ele gerou mesmo antes do Prêmio Jabuti, me mostrou que projetos de longo prazo valem o esforço. Por isso, minha intenção é iniciar algo que tenha um impacto significativo, ainda que eu não saiba exatamente qual será o próximo passo.
C3SL – Como você vê o futuro da ciência da computação teórica nas próximas décadas?
VIGNATTI – A ciência da computação teórica tem um futuro promissor, com muitos tópicos para explorar. No entanto, sua relação com a área geral da computação deve ser turbulenta nas próximas décadas. Historicamente, a teoria sempre teve uma forte influência. Cerca de 40% dos Prêmios Turing, por exemplo, foram para pesquisadores teóricos. Por muito tempo, a relação entre pesquisa teórica e experimental foi saudável. Contudo, nos últimos 10 ou 15 anos, isso mudou.
Acredito que o principal fator dessa mudança é o sucesso do aprendizado de máquina. Essa área, que vejo como um novo paradigma de solução de problemas, transformou a ciência da computação em algo mais próximo da engenharia. A busca por novas formas de solucionar problemas é basicamente o que move a área de ciência da computação, então, neste sentido, são boas notícias. O problema é que a teoria e a prática desse novo paradigma de resolução de problemas estão muitos distantes um do outro, cada vez se distanciando mais. Hoje, a pesquisa experimental foca em usar esse novo paradigma, na maioria das vezes sem uma base teórica sólida, e não vejo uma maneira simples de aproximar a teoria e prática nesse contexto.
Apesar disso, vejo um futuro promissor para a ciência da computação teórica em outra frente: os impactos sociais da tecnologia, como educação, comunicação em mídias sociais, ética e meio ambiente. A computação teórica possui as ferramentas certas para auxiliar em pesquisas nesses temas.
Conceitos como conluio, conflito, equilíbrio, justiça, interação, linguagem e privacidade são apenas alguns exemplos de tópicos que já são estudados pela computação teórica e que muito certamente vão auxiliar nesses assuntos.
C3SL – Como surgiu a ideia de escrever um livro que conecta ciência da computação teórica com filosofia e ciências naturais?
VIGNATTI – O estudo da ciência da computação teórica ocorre, por padrão, abandonando completamente a influência de aspectos tecnológicos. Para quem enxerga de fora, isso parece contraditório – não seria a ciência da computação o estudo das tecnologias computacionais? Se a computação teórica ignora a tecnologia, o que ela estuda? Ao nos libertarmos da “névoa” das aplicações tecnológicas, percebemos que a essência da computação teórica está em questões que se conectam com a filosofia e as ciências naturais. Meu livro busca justamente dissipar essa névoa, tornando essas questões explícitas e acessíveis.
C3SL – Qual foi o maior desafio ao tentar explicar conceitos complexos em linguagem acessível?
VIGNATTI – Dentre diversas formas de explicar, o maior desafio é encontrar a forma mais adequada. O processo é simples na teoria: basta imaginar que você está explicando para alguém totalmente leigo. Na prática, porém, o que custa caro é o tempo gasto para chegar a essa explicação intuitiva. De fato, foi isso o que demandou maior tempo na escrita do meu livro. Conceitos como semântica da lógica, reduções e pseudoaleatoriedade, apenas para ilustrar, são apenas alguns dos casos onde gastei muito tempo até obter uma explicação que eu considerasse satisfatória. Nos meses recentes, ao dar aulas sobre o tema, alguns alunos me agradeceram por finalmente entenderem a ideia de “redução”. Situações assim mostram que, apesar do esforço, o resultado é extremamente recompensador.
C3SL – É possível explicar de forma simples, o que realmente significa? O que é computação, e em qual local ela está na vida das pessoas?
VIGNATTI – Não há uma resposta definitiva para essa questão. Aceitamos, sem uma prova matemática, que o que Alan Turing definiu como computação é o verdadeiro significado do conceito. Essa suposição, chamada Tese de Church-Turing, tem se mantido válida ao longo dos anos, pois ninguém conseguiu criar um modelo de computador “mais capaz” do que o computador abstrato de Turing. Em seu trabalho, Turing demonstrou que existe um algoritmo capaz de executar qualquer outro algoritmo. Esse algoritmo universal é o que hoje conhecemos como computador. É essa característica notável de ser o algoritmo mais genérico possível que permite ao computador encontrar aplicações em inúmeros contextos, explicando por que ele está tão presente em nosso dia a dia.
C3SL – Como a ciência da computação teórica pode contribuir para outras áreas do conhecimento, além da tecnologia?
VIGNATTI – Conexões com a filosofia, a física, a matemática e a biologia são bons exemplos. A própria ideia de computação nasceu de uma discussão filosófica de mais de 2.000 anos sobre a busca pela verdade absoluta. Um quarto do meu livro aborda essa “pré-história”, mostrando como chegamos ao conceito atual de computação. A partir dessa definição, surgem conexões com questões como o livre-arbítrio, que se relaciona com o problema da parada, e a consciência humana, que se conecta à Tese de Church-Turing.
Quando a questão da eficiência dos algoritmos se tornou central, a contribuição para outras áreas se intensificou. Por exemplo, o trabalho de físicos e matemáticos pode ser visto como um problema de decisão da classe NP. A principal pergunta em aberto hoje na ciência da computação é se “P=NP?” e, se for resolvido positivamente, em termos simples, não seriam mais necessários físicos ou matemáticos, apenas para exemplificar uma das consequências.
Outra área impactada é a biologia. Por exemplo, há uma equivalência quase direta entre o DNA e as sequências de caracteres estudadas na computação. Essa conexão pode levar ao desenvolvimento de uma teoria da evolução quantitativa, uma ideia que já rendeu um Prêmio Turing.
Outra aplicação vem da conexão com a física, onde o princípio da incerteza de Heisenberg sugere a existência de aleatoriedade real na natureza. Os físicos constataram a aleatoriedade na natureza, mas não trouxeram consigo uma explicação de seu significado. De fato, as explicações mais recentes sobre o assunto vêm da ciência da computação teórica. O Prêmio Turing de 2023, por exemplo, foi concedido a Avi Wigderson por seu trabalho que tenta explicar o papel da aleatoriedade na computação e no mundo real.
C3SL – Qual o conceito de manipulação da informação explorado pelo professor, e como esta manipulação impacta a sociedade atual?
VIGNATTI – A ideia é que a informação pode ser vista como um elemento fundamental da natureza, da mesma forma que matéria ou energia. Normalmente, a física estuda a natureza decompondo-a em componentes básicos como matéria, movimento, espaço e tempo. A ciência da computação teórica, por outro lado, estuda a informação e suas transformações. Se aceitarmos a informação como um componente básico da natureza — e essa aceitação é, essencialmente, uma questão epistemológica —, a computação se torna uma ciência fundamental. Um exemplo simples é a cor de uma maçã. Para a física, a cor é um fenômeno complexo, descrito como um campo eletromagnético de fótons. Para a ciência da computação, a cor pode ser representada de forma muito mais simples: com três números que indicam as quantidades de vermelho, verde e azul. Essa abordagem nos permite manipular e estudar a natureza a partir da informação.
C3SL – Como professor e pesquisador, qual a importância de aproximar a ciência da computação do público geral por meio de livros como este?
VIGNATTI – Muitos estudantes e profissionais de ciência da computação se incomodam por serem associados a funções como remover vírus ou consertar impressoras. Essa percepção equivocada existe porque as aplicações tecnológicas — o que o público vê e usa — agem como a “comissão de frente” da nossa ciência, escondendo o que realmente fazemos.
Curiosamente, grande parte do avanço tecnológico que a sociedade vivencia está ligada ao hardware, e não à ciência da computação em si. Os smartphones, por exemplo, só existem porque o hardware foi miniaturizado. O alvoroço em torno da inteligência artificial se deve, em grande parte, aos hardwares que finalmente são capazes de executá-la. É claro que, do ponto de vista da ciência da computação, sabemos que o desenvolvimento de algoritmos foi fundamental para essas tecnologias, mas para o público esses avanços acabam ficando em segundo plano. Se tivéssemos hardwares tão bons quanto os de hoje já em 1940, a percepção do público sobre a nossa área seria mais justa. Nessa realidade hipotética, os avanços tecnológicos não seriam anuais, mas pontuais — digamos, a cada 10 anos —, e isso tornaria os reais objetivos da ciência da computação muito mais explícitos. Em outras palavras, o avanço tecnológico que o público experimenta hoje pode estar mais relacionado à melhoria de tecnologias subjacentes do que à própria ciência da computação.
O meu livro busca exatamente corrigir essa percepção. Ele mostra que o principal papel da ciência da computação teórica não é gerar avanços tecnológicos. Pelo contrário, a área está no mesmo patamar da física teórica, com assuntos nobres e profundos. Suas conexões estão mais próximas do estudo da natureza do que de meras tecnologias usadas em nossos sistemas sociais ou econômicos.
Artigo do C3SL sobre gamificação na rede social MECRED é aprovado no IHC 2025
Pesquisa usa framework 5W2H para diagnosticar elementos de jogos, e reforça importância de práticas participativas com educadores na criação de jogos digitais
A MECRED, maior rede social da educação do Brasil, estará no Simpósio Brasileiro sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais (IHC 2025). O evento será realizado entre os dias 8 e 10 de setembro, na capital mineira. Criada pelo Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) em parceria com o Ministério da Educação, a rede é tema de artigo aprovado para apresentação no evento nacional de destaque na área Interação Humano-Computador.

O trabalho “Gamificar para engajar: Utilizando o framework 5W2H para o diagnóstico de elementos de jogos na MEC RED” tem como objetivo propor uma análise dos elementos de gamificação presentes na rede social. Os pesquisadores propõem diagnosticar e aprimorar os mecanismos que estimulam o engajamento e a permanência dos profissionais da educação na plataforma. O artigo é assinado pelos pesquisadores de graduação do C3SL, Gabriela dos Santos e Mariane Cassenote, pelo ex-bolsista do C3SL, Nicolas Rizzardi; pela pesquisadora de doutorado do C3SL, Krissia Menezes; e pelos professores do Dinf e pesquisadores sênior do C3SL, Roberto Pereira e Rachel Reis.
A MECRED é uma plataforma pioneira voltada para o compartilhamento de recursos educacionais digitais, com foco na colaboração entre professores e profissionais da educação de todas as regiões do Brasil. A rede social conta hoje com mais de 45 mil usuários e 35 mil recursos disponíveis gratuitamente, hospedados exclusivamente em datacenter próprio do C3SL na UFPR.
O estudo apresentado no IHC analisa a gamificação da MECRED — ou seja, a incorporação de elementos de jogos para melhorar a experiência do usuário e estimular maior participação. Utilizando o framework 5W2H, que considera sete dimensões essenciais para a avaliação (Quem?, O quê?, Por quê?, Quando?, Onde?, Como? e Quanto?), a pesquisa identificou 12 elementos de jogo na plataforma, como coleções, níveis, pontos, medalhas, conteúdos desbloqueáveis, status social e premiações.
Mesmo identifica de tais elementos, o diagnóstico indica que a gamificação na MECRED está concentrada em níveis básicos e intermediários (componentes e mecânicas), e que com isso ficam faltando as dinâmicas mais abstratas que engajam profundamente os usuários. A pesquisa também aponta falta de clareza nos critérios, recompensas e objetivos dos elementos dos recursos de gamificação postados na rede, bem como pouca integração entre eles. De acordo com o estudo, isso pode resultar em experiência fragmentada, o que dificulta a permanência e maior engajamento dos docentes.
As principais contribuições do estudo incluem um diagnóstico estruturado e detalhado da gamificação na MEC RED a partir do 5W2H, que aponta pontos fortes e limitações, bem como oportunidades explícitas para aprimorar a experiência do usuário. O estudo sugere a importância de um redesign que integre melhor os elementos de jogo, elevando-os para níveis mais abstratos e alinhando-os claramente aos objetivos pedagógicos e sociais da plataforma.
Pesquisadores do C3SL concorrem ao prêmio de melhor artigo na trilha Relatos de Experiência do IHC 2025
Os estudos investigam como a IHC pode transformar práticas educativas e sistemas públicos de saúde, ampliando a participação, o engajamento e sua eficiência
Pesquisadores de graduação e pós-graduação do Centro de Estudos sobre Sistemas Complexos (C3SL) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) estão entre os finalistas do prêmio de melhor artigo na trilha relatos de experiência do XIX Simpósio Brasileiro sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais (IHC). A ser realizado em Belo Horizonte entre os dias 8 a 10 de setembro, o IHC 2025 é o principal fórum científico da área de Interação Humano-Computador no Brasil. Na lista dos concorrentes ao prêmio estão o pesquisador do C3SL e professor do Dinf, Roberto Pereira, e os bolsistas de pós-graduação Krissia Menezes e Jonas Lopes Guerra.
Os trabalhos indicados para concorrer ao prêmio foram aprovados para apresentação no evento. A trilha relatos de experiência do IHC privilegia trabalhos que tragam narrativas detalhadas sobre práticas, projetos e vivências em IHC, contextualizados e fundamentados teoricamente.
Um dos finalistas é o artigo intitulado “Percepções e experiências sobre ensino e aprendizagem de uma disciplina de IHC com foco em práticas colaborativas”, de autoria da doutoranda em informática pelo PPGInf e pesquisadora do C3SL, Gabriela Corbari dos Santos, e da professora adjunta do Departamento de Informática (Dinf) e integrante da equipe de IHC da UFPR, Natasha Malveira Costa Valentim.
O artigo de Gabriela e Natasha apresenta um relato de experiência sobre o ensino da disciplina de IHC em 2024 nos cursos de Ciência da Computação e Informática Biomédica da UFPR. Segundo a pesquisa, o objetivo da disciplina foi capacitar alunos com noções básicas de IHC a partir de uma perspectiva socialmente consciente e orientada a projetos de software, enfatizando a prática colaborativa.
O curso foi estruturado em torno de dois trabalhos práticos (TPs): o primeiro direcionado à avaliação de usabilidade, experiência do usuário (UX) e acessibilidade do app HandTalk — que traduz português para Libras — e o segundo focado no desenvolvimento de um protótipo de aplicativo para pessoas com deficiência visual. Nessas atividades, os alunos aplicaram técnicas reconhecidas na área, como personas, cenários, análise hierárquica de tarefas (HTA), GOMS e métodos de avaliação variados, dentre eles as heurísticas de Nielsen e o percurso cognitivo.\
O relatório final do estudo, que será debatido no IHC 2025, apresenta sete lições aprendidas, entre as quais se destacam: a importância da motivação individual, o uso combinado de múltiplas técnicas de avaliação, a eficácia dos métodos de inspeção para avaliações rápidas e o valor do design socialmente consciente. No artigo, Gabriela e Natasha reforçam que o ensino de IHC deve ir além da aplicação técnica, incorporando valores sociais para formar profissionais preparados para os desafios do futuro.
Outro trabalho que também está entre os que concorrem o prêmio na trilha relatos é o intitulado “Design Socialmente Consciente na Prática: Concebendo uma Solução para o Gerenciamento de Campanhas no SUS”, de autoria do doutorando do PPGInf, Deógenes Pereira da Silva Junior; da doutoranda pelo PPGInf e pesquisadora do C3SL, Krissia Menezes; da pesquisadora e bacharel em Informática Biomédica pela UFPR, Marisa Sel Franco; mestrando em informática pelo PPGInf e pesquisador do C3SL, Jonas Lopes Guerra; e do pesquisador do C3SL e coordenador da equipe de IHC da UFPR, Roberto Pereira.
O relato de experiência abordado no trabalho é referente ao design de uma solução tecnológica para apoiar o gerenciamento de campanhas de saúde da Atenção Primária à Saúde (APS) no Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, considerando a complexidade socioeconômica, cultural e geográfica do país. A proposta buscou integrar a diversidade das necessidades das partes interessadas, em especial os Agentes Comunitários de Saúde (ACS), Agentes de Combate às Endemias (ACE) e gestores municipais, adotando o framework de Design Socialmente Consciente (DSC).\
A equipe aplicou uma combinação de métodos exploratórios, como revisão bibliográfica e netnografia em redes sociais, além de técnicas do DSC para mapear os desafios, identificar stakeholders, definir personas e cenários, e especificar requisitos para a solução. Um protótipo de média fidelidade foi desenvolvido para ilustrar a proposta, priorizando funcionalidades que atendem às necessidades da comunicação, gestão e avaliação das campanhas em contextos vulneráveis e diversificados.
Nas considerações do trabalho, os pesquisadores apontam que o DSC demonstra ser um caminho promissor para enfrentar a complexidade intrínseca de soluções que devem operar nacionalmente. A pesquisa reforça ainda que priorizar a proximidade e o engajamento dos agentes de saúde com a população, simplificar processos administrativos e garantir acessibilidade são pontos cruciais para o sucesso das campanhas. Também alerta para possíveis conflitos entre a necessidade de indicadores mensuráveis para gestores e a importância do vínculo humano entre agentes e comunidade, que nem sempre é quantificável.
C3SL promove encontro de integração com novos bolsistas de graduação
Selecionados entre 71 inscritos, os novos pesquisadores atuarão em projetos estratégicos nas áreas de educação, saúde e políticas públicas, sob a orientação de professores e gestores do C3SL

O Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) realizou nesta segunda-feira (11) o primeiro encontro geral dos novos bolsistas de 2025. O encontro foi realizado no auditório do Departamento de Informática (Dinf) e reuniu os pesquisadores de graduação dos cursos de Ciência da Computação e Informática Biomédica aprovados no último edital de seleção. Participaram do encontro professores do Departamento de Informática (DINF) e pesquisadores do C3SL, como Marcos Castilho, Roberto Pereira, Eduardo Almeida, Letícia Peres, Raquel Reis, Vinicius Fulber-Garcia, Simone Dominico e Carlos Alberto Martins de Carvalho, além da gestora de projetos de pesquisa e desenvolvimento do C3SL, Ianka Antunes.
Durante a reunião, os coordenadores apresentaram a origem e o desenvolvimento de três projetos principais atuais vinculados ao C3SL. Um deles é a MECRED, maior rede social da educação do Brasil. A MECRED é uma parceria entre o C3SL e o MEC e tem papel importante na educação básica e fundamental no país. Outro projeto do C3SL é a plataforma de Dados Educacionais para Políticas Públicas (Depp), projeto dedicado à organização, análise e disponibilização de dados e indicadores da educação básica e superior em séries históricas. Dentre outras funcionalidades, a plataforma permite acesso em diferentes níveis de desagregação para apoiar a formulação de políticas públicas educacionais mais eficientes.
O terceiro projeto relatado no encontro é o APSUS, em desenvolvimento em parceria com o Ministério da Saúde. Trata-se de um sistema de informação para Atenção Primária à Saúde, (APS), que é a principal porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. Ela funciona como o primeiro contato do cidadão com o sistema de saúde. O projeto é voltado ao desenvolvimento de soluções tecnológicas para a comunicação e gestão na atenção primária à saúde, e busca melhorar a eficiência e a qualidade dos serviços de saúde pública.
Os novos bolsistas terão dedicação de 20 horas semanais e atuarão presencialmente nos laboratórios do C3SL, integrando equipes multidisciplinares compostas por professores doutores, pesquisadores de mestrado, doutorado e graduação.
Soberania tecnológica e Lei da Informática: reitor da UFPR e ministra Luciana Santos se reúnem em Brasília
Reunião no Ministério da Ciência e Tecnologia é desdobramento de projetos do C3SL, em discussão desde 2024 com o órgãos do MCTI

Com a soberania tecnológica brasileira na pauta, o reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marcos Sunye, e a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, se reuniram, em Brasília, no dia 29 de agosto, para discutir a estruturação de projetos na área. Além de apresentar as demandas da UFPR ao MCTI, Sunye deu continuidade às tratativas anteriores do ministério com o Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL).
Pelo MCTI, participaram também Daniel Almeida Filho (Desenvolvimento Tecnológico e Inovação), Davyd Souza Santos (Tecnologia Social e Economia Solidária) e Hugo Valadares Siqueira (Inovação Digital). O reitor foi acompanhado pelo superintendente da Fundação da UFPR (Funpar), Edemir Maciel, e pelos técnicos da Funpar, Líbia Naico e Jonivan Oliveira.
A criação de uma plataforma brasileira de bens digitais foi objeto da parte da conversa decorrente do C3SL, uma vez que o Centro tem mobilizado pesquisadores da área em todo o país para discutir a soberania tecnológica do Brasil. A experiência da Funpar com a gestão de projetos foi comentada brevemente, no tópico de acelerar o uso da Lei da Informática para o desenvolvimento de projetos de interesse nacional, aproveitando o know-how da fundação.
C3SL busca parceiros para desenvolver o projeto MAPSBR
A reunião no MCTI foi o desdobramento de uma conversa anterior, em 2024, com o secretário nacional de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social, Inácio Arruda. Na ocasião, uma equipe técnica do Centro de Computação, com Luis de Bona, Edemir Maciel e Jonivan Oliveira apresentou a experiência do C3SL com projetos associando computação e impacto social, da distribuição nacional do Linux Educacional ao monitoramento de indicadores sociais, passando pelo atendimento na Atenção Primária de Saúde.
A ideia de mobilizar empresas para o desenvolvimento de uma ferramenta de geolocalização, a exemplo do Google Maps e do próprio GPS, surgiu naquele encontro e foi retomada agora, com a ideia de utilizar a Lei da Informática para esse fim. O MCTI se colocou à disposição para estruturar essa iniciativa, em parceria com a UFPR e com o C3SL, que depois poderá envolver outros institutos de ciência e tecnologia brasileiros.
Centro de Computação oferece apoio técnico a projetos de pesquisa da UFPR
Pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que atuam em áreas com alta demanda computacional podem contar com o apoio técnico do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), vinculado ao Departamento de Informática. O objetivo da iniciativa é fortalecer projetos científicos por meio de recursos tecnológicos avançados, capazes de aprimorar metodologias, aumentar a eficiência de experimentos e acelerar a produção de resultados.
As parcerias são voltadas a grupos que desenvolvem pesquisas com foco em simulações científicas, modelagem matemática, análise de grandes volumes de dados ou uso intensivo de algoritmos. Também podem ser contemplados projetos que envolvam a automação de fluxos experimentais, otimização de rotinas computacionais ou desenvolvimento de ferramentas específicas.
Segundo o coordenador do C3SL, professor Marcos Castilho, “a expectativa é ampliar a interação entre o C3SL e outras unidades da UFPR, fortalecendo a pesquisa interdisciplinar e o papel da universidade na produção de conhecimento de ponta”. E complementa: “ao longo de 20 anos de trabalho, o C3SL constituiu um parque tecnológico relevante, com um computador de alto desempenho e infraestrutura capaz de executar com qualidade diversos projetos simultaneamente”.
Os pesquisadores interessados terão acesso à infraestrutura do C3SL, que inclui clusters de alto desempenho, consultoria técnica e suporte para aperfeiçoamento de códigos de programação e integração com ambientes computacionais avançados. As propostas devem ser enviadas para o e-mail contato@c3sl.ufpr.br e serão avaliadas pela gerente de projetos do centro.